O pacote

Segurava, com força e carinho ao mesmo tempo, um pacote relativamente grande. Levava-o nos braços como quem carrega uma bolsa com diamantes. Olhava com atenção o semáforo, esperando que ficasse vermelho e pudesse atravessar tranquilamente a pista até chegar em segurança à calçada. Nada poderia acontecer aquele pacote.

O saco não era transparente. Tinha uma cor esverdeada, e por dentro o objeto ainda estava envolto de um papel grosseiro. Pelo formato e pela época do ano, dezembro, qualquer um decifraria: era uma árvore de natal.

Decifrar o objeto era fácil. Difícil era compreender a razão de tanto cuidado e alegria, ainda que já mortificada, de se carregar uma árvore de natal que conseguira emprestada de uma antiga amiga.

Estava ansiosa pela chegada do dia 24 de dezembro. Não ocorreria nada de diferentes dos anos anteriores. Poderia até narrar, sem erro, como tudo iria acontecer.

Não teria notícia dos filhos, que foram para outra cidade, a fim de melhor condição de vida. Por lá se casaram, formaram família e viviam razoavelmente bem. Sim. A mesma história com todos os quatro filhos que tivera. Três homens e uma mulher. Desta última esperava mais consideração e companhia, mas não fora diferente. Pareciam que só queriam sair dali, de perto dela e ter suas vidas sem se preocupar com a pobre velha.

O marido morrera há dois anos e ela ficara só. Ela e o cão: Lenitivo. Sim, esse era o nome do cachorro. Ouviu por um acaso está palavra no dia em que o encontrou e, achando-a bonita, Lenitivo soava bem aos ouvidos, decidiu que esse seria o nome do seu novo amigo e companheiro.

Sim, e no dia 24 poderia fazer o que esperava o ano inteiro: montar a árvore de natal! Colocar seus velhos enfeites e adorná-la com o pisca-pisca. Era desse momento mágico que gostava. Não sabia o porquê, não encontrava justificativa ou razão para ter entendimento da magia que se criava. Apenas sabia que, neste dia tão esperado, apagar a luz da humilde casa, sentar em sua cadeira de balanço, ligar a TV, comer seu frango com o Lenitivo ao seu lado roendo os ossinhos e ficar, seduzida, encantada com aquelas luzes que não diziam nada de mais era, para ela, um símbolo de esperança... De renascimento da esperança de ser lembrada, talvez, no próximo ano.