DESEJO
Mas o que ela queria, de verdade, com a mais cruel e doída, doida verdade, dessas que espreme os músculos de pedra contra a alma vazia de mundo, era ser passarinho. Passarinho.
Qualquer um. Pequenininho como aquele cotidiano beija flor de verde prata; pulandinho como aquele pardalzinho terra que se aventurava sobre a mesa floresta de farelo de pão, ou como a rolinha roliça a se perder pela casa, ameaçada pelo caçador ligeiro que, sem latir, atirava-se para ela. Era isso: passarinho.
Deles tirou certo tempo único, destapado ao acaso entre a cobiça e a vigília, um dia: quase! Um tempo pouco mais, pouco menos. Sem ritual de ponteiros, de ajustes. Sem marca alguma. Novinho, instantâneo. Um tempo singular que coexistia entre o perigo e a salvação, com um único e próprio viver, que desaguava na possibilidade de.
E era naquele andamento, naquela exata ocasião, que tudo se resumia em quases, que o desejo de asas surgia, de súbito, feito uma golfada. Era tomada pela urgência da delicadeza de quase não ser. Pela embriaguez de quase arruinar-se e num repente, tornar, emergir, pela primeira vez brotar incógnita. Voar, isso era voar.
Fechava os olhos e se via em cena, como se passarinho fosse. O andar pesado já não lhe cabia nos pés. A turva visão do céu perturbava os contornos multiplicando inexatas e imprevisíveis formas. Impossível crer senão no invisível. E nos acanhados, nos essenciais, nos achegados.
Para mais adiante, então, era voar. E lhe veio aquele sonho um pouco alucinado, um tanto lógico de ser passarinho. Tomar-se de penas e atrevimento e, depois da ousadia, experimentar a inquietude natural do espanto. O susto do quase! O toque desalinhado da vida gotejando dentro, com vigor. O tremor descompassado do depois já quase nada. A descoberta quase feliz de ser, mesmo quase não sendo.
Qualquer um. Pequenininho como aquele cotidiano beija flor de verde prata; pulandinho como aquele pardalzinho terra que se aventurava sobre a mesa floresta de farelo de pão, ou como a rolinha roliça a se perder pela casa, ameaçada pelo caçador ligeiro que, sem latir, atirava-se para ela. Era isso: passarinho.
Deles tirou certo tempo único, destapado ao acaso entre a cobiça e a vigília, um dia: quase! Um tempo pouco mais, pouco menos. Sem ritual de ponteiros, de ajustes. Sem marca alguma. Novinho, instantâneo. Um tempo singular que coexistia entre o perigo e a salvação, com um único e próprio viver, que desaguava na possibilidade de.
E era naquele andamento, naquela exata ocasião, que tudo se resumia em quases, que o desejo de asas surgia, de súbito, feito uma golfada. Era tomada pela urgência da delicadeza de quase não ser. Pela embriaguez de quase arruinar-se e num repente, tornar, emergir, pela primeira vez brotar incógnita. Voar, isso era voar.
Fechava os olhos e se via em cena, como se passarinho fosse. O andar pesado já não lhe cabia nos pés. A turva visão do céu perturbava os contornos multiplicando inexatas e imprevisíveis formas. Impossível crer senão no invisível. E nos acanhados, nos essenciais, nos achegados.
Para mais adiante, então, era voar. E lhe veio aquele sonho um pouco alucinado, um tanto lógico de ser passarinho. Tomar-se de penas e atrevimento e, depois da ousadia, experimentar a inquietude natural do espanto. O susto do quase! O toque desalinhado da vida gotejando dentro, com vigor. O tremor descompassado do depois já quase nada. A descoberta quase feliz de ser, mesmo quase não sendo.