As Delícias de Dona Maria

A feira era apinhada de gente circulando entre as barracas. A de temperos diversos, a de roupas, a de comidas e muitas de brinquedos . Porém uma em especial - áquela com cheiro de coisas afeiçoadas - que se via desde papeis de cartas até chocolates caseiros. Tinha o toque da dona Maria, (pessoa carismática, que Deus a tenha). Os bolinhos de chuva acompanhavam um saboroso café e de prêmio a criançada ganhava balões coloridos que flutuavam com a linha que também desenhava no céu.

As moças enfeitavam as unhas com os tons de esmaltes e contornavam os lábios com batons que cheiravam às frutas da terra. A quentura do bolinho de chuva ia flutuando junto com o café como quem nada quer e pegando da mesma maneira os fregueses...

Uma feira pra lá de bonita e com essa barraca de dona Maria que compunha e encantava desanuviando quaisquer tristezas. Do fumo de rolo podia-se sentir o cheiro forte e os caboclos que pitavam assentados em banquinhos de três pernas. Dos lenços de tão belos; despetalavam-se as flores em relevo - e dona Maria dava o toque final na pontinha da agulha de crochê. Um mimo que se desprendia de forma alegre.

O dia se passava, o sol queimava a pele, as nuvens pintavam carneirinhos apontando uns pingos que insistiam em cair e a tarde se deitava junto aos feirantes que iam desarrumando seus apetrechos, baixando as lonas (tirando a folha de arruda de trás das orelhas) e dona Maria pensando na carne que ia assar quando chegasse em casa.

O dia corria de mula e o rastapé continuava na sanfona de seu Zé Pessoa que só sairia quando todos se dissipassem - como a poeira que vai trançando nos cabelos de todo àquele povo . Mas antes, convidaria a dona Maria a dar um pulinho na velha igreja. Pra agradecer o que o céu havia prometido: - O cheiro de suas delícias e o mundaréu de tanta gente.

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Gonzaga e Gonzaguinha- Minha Vida é Andar Por Esse País