Folhetim - Dorita - IV

A moça pensou um pouco, aquilo era algo inusitado e irracional, ainda não tinha digerido o assunto. Mas de uma coisa não duvidava: o coronel, se não houvesse uma intervenção de peso, iria capar Pachola. Ele não deixaria de fazer isso, eram conhecidas as violências que praticara por causa de coisas muito mais simples. Lembrou-se do negrinho, sempre meio posudo e enxerido, mas muito respeitoso com ela e que até a chamava, por deferência, de Sinhá Sibonei, e tirava o chapéu sempre que a encontrava na rua. Não, Pachola não merecia essa punição cruele medieval.

Mas o que poderia fazer ela? Que foça tinha para enfrentar o cioronel apelando em favor do negrinho? Se havia a gravidez, só podia ser Pachola o autor. E ele não negava isso. Seu Dorgival, o mestere da Banda e pai de Sibonei, conhecedor das shistórias de violências do coronel, que ouvira a conversa da negrinha com a filha, desaconselhou-a de tentar fazer qualquer tipo de apelo ao coronel:

- Minha filha, é perda de tempo você pedir ao coronel para poupar Pachola. Ele está se sentindo desmoralizado. Se ele já é violentosem motivo, avalie sabendo que o negrinho deflorou e engravidou a filha dele que é doida? Deixe esse caso prá lá, Sibonei, faça apenas o quevocê sabe e gosa de fazer: rezar.

Mas Sibonei não queria deixar de fazer a sua parte. Era próprio dela tentar ajudar os outros. Foi à casa do coronel, afinal era amiga da família e seria bem recebida, mesmo nesse momento delicado e difícil. Passou antes na Igreja. Rezou à Nossa Senhora, à Santa Marta e principalmente a Jesus. E pediu a Deus que a iluminasse.

A distância entre a sua casa e a do coronel era considerável, de charrete era mais rápido, mas a caminhada serviu para que ela pensasse num meio de conseguir que o coronel não sacrificasse o negrinho. Pensou em vários modos de abordar o assunto, até que se fixou num ponto que julgou acertado. Seria um pouco dura, talvez essa fosse a única forma de demover ocoronel de não castrar Pachola.

- Continua -

P.S. Agradeço de coração a Fernandinha, Norminha, Marianinha (Maria), à grande cantora Angerlique, Bertão... Saber que vocês estão lendo meu folhetim me deixa bestinha. Abraço.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 12/03/2016
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