UIVO
 


 

Foi a gota d'água. Então ela disse.
_ Mãe, quero que você vá embora! E não volte mais! Nunca mais. Agora!
_Mas...
A mãe ensaiou uma resposta. Mas não tinha nada para dizer. O que saiu foi só um fragilizado ai que Lucília não ouviu e nem queria ouvir. Pensou que podia fazer alguma coisa. Salvar a filha daquele mundo sombrio em que se refugiou. Foi até o pequeno quarto de "hóspedes", pegou suas coisas e saiu com o propósito de voltar para Itapuranga. A filha ficou de pé em seu próprio quarto: não podia fraquejar, não queria, nem nunca quis, que a mãe ficasse para a "ajudá-la". Um pouco se ressentindo com o remorso de ter tratado a mãe daquele jeito, mas também aliviada. Aliviada por impor sua vontade à mãe. O que nunca tinha feito. De certo modo  estava até um pouco animada, pois poderia recolocar as coisas no seu devido jeito. E esse jeito não incluia a mãe. Dessa vez, quem sabe assim na brutalidade, a mãe pararia com suas visitas inoportunas e invasivas. A mãe sempre gostou dela mais do que dos outros filhos e filhas. E Lucília jamais deu qualquer tipo de retribuicão e nem fez por merecer esse sentimento, e nem sentia obrigação quanto a isso: nunca pediu aquela alta dose de amor. Nenhum contradom. Já refletira sobre isso... Mas não muito, para não se convencer do contrário. Ela concluira que odiava a mãe, assim como gostava do desleixo e da irresponsabilidade do pai. Quem Lucília não sabia se a amava ou não, pelo menos do mesmo modo que ela o amava. Mas pelo menos havia expectativa ou possibilidades. "Não gosto de raposas", pensou Lucília". Pensou isso de tal modo e reserva de pensamento, que a nós é impossível compreender o que de fato significava. Principalmente se consideraRmos que Lucília era imcompreensível justamente por muito pensar e nunca se dizer.