OS CONTOS DO ENTE
A LITURGIA DO PENA-QUEBRADO
O dia vem vindo
a tarde promete ser
maravilhosa
com algumas poesias
pequenas coisas
que possas deixar
quando passar por mim
seja sorrindo
desejando que vá embora
seja mentindo
que quer qu’eu fique
talvez eu diga
sobre ontem a noite
quando foi embora
ainda prometia
ser de alguém
entre amigos
eu ainda me lembro
da sua cara perto da ponte
ontem foi igual
a outros destes dias
na mesma fonte
que vem buscar sentir-se
bela e atraente
rica e poderosa
sobre minha carência
eu divido tua essência
pelo maldito que seja
vezes por outra
quando almeja
vir me dar esmolas
se sente feliz saindo
já guardei todas elas
já passei fome
sentindo teu perfume
sei lá o nome
contando todas elas
deitado sobre o mundo
que ninguém quer
mulher o primeiro beijo
o primeiro abraço
o primeiro amor
o primeiro louco
a mergulhar no riacho
serei eu
se não voltar
não preocupe a pena que traz
irei pasmado de boca aberta
flutuando
sofrendo de paz...
II
Centenas de traços móveis
visitam tua morada
logo em seguida
que traduz
minha linguagem
para o bem
seja
para o mal que quis
num dia feliz
em qualquer lugar
a luz do teu quarto
depois dos amigos
tem outro brilho
nem o estribilho
que comparei
com tua forma selvagem
das roupas que escondem
as finuras do extremo
intimo
o feminino sublime
da temperatura exata
que exala o primeiro
botão logo que toco
primeiro teus lábios
as loucuras que fazemos
quando estamos
próximos causados
amando toda tolice
pela alma florida
que entorpece
o que amanhece gozando
anoitece pedindo
que não seja tão tarde
que ela volte
que ele esteja esperando
ainda suado
mastigando coisas velhas
do dia sem mim
esperando assim
um banho de valsa
sobre as águas
mágicas de perfume eterno
aquelas folhas do álamo
caídas
que pisas pensando
no outono
foram as cores trágicas
do verde ao vermelho-sina
o mesmo aceno lá de cima
que ouviu do título
da obra que compus
com esmero vibrante
de quem amante
da beleza que irradia
Midnight in Paris
Van Clef & Arpels
Seriam puras gotas do céu
amparadas por mim
numa tarde chuvosa que
somente eu sei
quanto tempo esperei
preenchendo lacunas
até ver-te inteira
postada em carta...
III
Metáfora ligada
nas vias da estrada escolhida
pela mesma valentia
que sobra das batalhas
do estômago
que âmago sentido
vociferam criaturas loiras
me acusando de ser
o desastre perfeito
de tudo que sinto
invocado
querendo sair
sem pensar direito
se o direito pelo martelo
que prega uma peça
no teatro que imita
sem saber se convida
pra vir junto saudar
minha tristeza
por justiça
que se faça justiça
pela salgada margem
que alimenta meus passos
no convite término
de toda dor
na cor que não vou ver
nunca
na nuca de estado
pelo espelho contrário
que me olha travesso
eu mesmo posso ver
quem está atrás de mim
precisando saber
quando será
o que será
que poderá estar
completando
esta falta
desde menino
esta falta
desde pequeno
esta calma de sereno
que lágrima quer ser
pra querer descer
destino
descobrindo mesmo
viramundo íntimo
por que estás na porta
escolhendo sair
sem desejar?
IV
Minutos depois de abrir os olhos
ele ouviu alguém bater palmas
que não da bela imagem
que cria de si nos sonhos
nem a força das coisas pequenas
que sente serem grandes
demais no circo proposto
era um desgosto valente
vindo desejar a paz dos outros
pelo igual sentido
do medo de não ser aceito
ainda que esteja
tarde demais
o valor dele estava
roubado
qualquer adereço do que é
impossível
é um endereço possível
deva atendê-lo
por incrível que pareça
precisamos interna-lo
que salvo seja nossa alegria
de vê-lo destruído por dentro
antes o centro nervoso de tudo
precisa resgatar o dinheiro
que isso vale
mais tarde ao acordar
do pesadelo
aceitará fragmentos
entre as escadas
do filamento de nossa altura
tem pequenas poças
de águas deixadas
em que possa sentar
se não aceitar ser outro absurdo...
V
Deixei as vidas durante
muito tempo passar
durante este tempo
em que tempo eram horas
divertidas
de ver o tempo nos minutos
variando
de morte e recomeço
uma entre todas estas
histórias
eu conheço muito bem
ninguém como eu via
as agonias de sentir
a brisa de longe
que vem sem precisar
de nada com ela
de nadar com ela
nas idas e vindas
desejando querida
como se alguém fosse
escassez de corpo além
do meu
viajando nas amantes
do mundo
que deixam meu mundo
mas tranquilo
sobre um imenso teto
de céu
por baixo da ponte
que nunca foi minha
que esta disposta tem sombra
adormece chuva
sobre seu colo
deixando-me ser intruso
onde ninguém zomba
das loucuras
minha aventura não pode
desejar ser além
das coisas destes outros
que vivem
sobre o eixo de ouro
da roda que gira
entorno do que vive fantasma
longe de mim
partindo sempre
que alguém vem vindo
alguém vem vindo
sempre
quem está partindo
sabe
pelo aroma regado
do contrário de si
deixa no caminho
algumas pegadas
levadas ao vento
que amargo sem tempo
descobre das areias
apaga as pequenas luzes
que poderiam encontrar
quem sabe
você “dormindo”!
VI
Milagres perturbam
o inferno
vendo o diabo vender
sua alma a deus
por trocados baratos
salve-me desta posse
desta pose de herói
dos vândalos
não posso crer
na moeda jogada
de vistas olhando
o mísero que come
sua carne por dentro
dorme cansado
depois do trabalho
vendo ela num estilo
diferente
hoje esteve entre eles
na aguardente
que mente coisas
olhando musas curvando
suas pernas de saia
de calça
de vestido inteiro
que podia ser
de qualquer jeito
que diga o disfarce caído
como algo de relance
desprevenido
olhando o que cobre
o vestido
daqui da sala de estar
posso ver
ele tocar sons
que talvez pelos tons
que dela saem
ela nunca iria mais voltar
por vê-lo sentar
ler um jornal
coisa assim entediado
hoje parece que foi
de outro jeito
amanhã quem sabe
ele venha querer-me
perfumada
queira o poder de imitar
estes dias regados
pelo menos dias
ao menos salgados
este “nunca mais voltar”
de avareza dela
desastre do efeito
que cobra um novo sentido
eleito
agora deva ser
um homem sério
vem me dizer
que mistério provoca
mais do que minha
sensação de ficar
seminua ao seu lado
queria ver meu corpo
de novo preocupado
precisando de qualquer
lamento dos olhos dela
de novo ser ocupado
para diversão dos músculos
dos únicos que sentem muito
de novo cansados
o que não é novo
são estes sapatos velhos
ainda com solas
mas foram sérios...
VII
Pode deitar o corpo
sobre o envelope lacrado
do quarto
que despeja uma dose
letal do perfume dela
esquecer faz dormir
lembrar acordado
qualquer coisa
de alimento estragado
que ficou como receita
pra lembrar a noite
que não dores de perda
do ânimo partido
um deles mentindo
sonhando
outro vem dizer
num sorriso disfarçado
ainda tem um tempo
criado lá fora
talvez haja na morte
de alguém uma verdade
sobrando
essências variadas torcidas
vibram de desejo escrito
sem palavras
nenhuma das falas
curtidas de tom mudo
por não escutar nada
o que ela disse sobre
meu esquisito eu-primário
nunca ficou preso
nunca teve armário
sempre suspenso
da vida nos outros
ela era um louco
que sonhava possuir
além do mais
de alguém
deserto de tudo
que pode inaugurar futuro
deixamos pra divertir
rastros
eu ouvi algo assim
eu ouvi palhaço
quando no cansaço
tive vontade de caminhar
até onde pudesse
cair de sossego...
VIII
Formas distraídas
de paz convencem
todos naquele mesmo lugar
ar de bar na calçada
posso ver
que o aroma das coisas
de comer
são também as coisas
que travam batalha
dentro de si
p’ra comer também
ter um pedaço deste
sonho que inverte
pesadelos
e os apelos dentro de mim
faz o digno dormindo
vir cá fora
olhar as brisas
espreguiçando-se nas folhas
vestidas de asfalto
que mal posso ver
por não ter vistas
sendo que me visita do alto
dignidade livre
o que vive por perto
tem-me por inferno
desejado ser assim
ele tem uma sorte-convite
na fila dos andarilhos
os filhos da vontade perdida
tem vontade de vida
podem não ser assim
o que me olha por favor
não olha o corpo da dor
estes olhos felizes
estão tristes
por deixar de novo
que eu exista
saio das estradas nuas
por não me servir
um copo que for
da água que bebes
com tanto amor
esta mesma que bebes
quando levanta sua mão
abraça um caminho
vendo eles virão
vem vindo
vendo um verão
partindo...
IX
Identidade roubada
dizem poder me escapar
o vento das coisas infinitas
que todo mundo tem
os “pecaminhos”
onde nascem
foram avisos prevenidos
serão pelo bem
que mal pode fazer
um bem sem alegorias
esquecidas
estampa de rua pelas
paredes destaca o mágico
de viver como quer
de ir onde quiser
seja uma praia
de vento mágico
trazendo o sabor
dos frutos cristos
de sangue amargo
seja uma doce viagem
no alto
dos rios doces
perdendo fôlego
nas tardes chuvosas
das cachoeiras véu
cobrindo amantes
temos variados pratos
em cima da mesa
com certeza
irão gostar de algum
da lata nova deixada
posso ver o frio
do alto que encerra
meus sonhos
eu proponho um brinde
calado
de sorriso aberto
quem pode me levar
até as areias que brilham
trazidas do mar
eu vejo pacífico
sentado na margem
meu totem
buscando uma namorada
pra minhas entranhas
vazias
devo comê-la fria
de salgada que desce
do rosto
são crimes de pena
de onde um dia
tudo partiu...
X
Mágico divertindo
o embalo dos outros
de carro
ainda não dormiram
pelo rosto desastre
foi a esta altura
tudo que passou
e deve ser manhã
que bom hoje é sábado
lamento de álcool
embebido de laços
no fraterno dos entes
travestidos
fantasias doentes
nem precisa dizer-me
senhor das leis do acaso
terei que ir de outro jeito
o efeito dura pouco
mas ainda tenho aquele
troco guardado
irei com outro carro
mais tarde
sempre cedo não tarda
outra noitada
virá divertir esta paz
roubada
há uns anfíbios
comigo sentados
perto do lago
imitando uma selva
dizem saber das coisas
que foram embora
amontoadas
em pilhas de passado
lendo o que fica
cacoete de vida
pertence mais do que
que traz de lamento
consigo
aquela cena
me lembrou um poema
deixa me ver se lembro
“o sol volta quando
a lua deita
quando eleita
pros amores que existe
noite de eclipse
vem buscar-me”
talvez um segundo
por minuto que seja
de horas adentro
esquecendo de tudo
alguém ficou feliz
amando...
XI
Muito se ouviu falar dela
era novela de dedicados
ouvintes sentados
na varanda de amostra
como gostava
dos assovios cantos
de pássaros fora do ninho
que vinham pousar
sobre a janela
sempre aberta
do quarto recanto
forjado que ela dormia
fingia prazeres escondidos
instantes de risos
frisos elegantes
entre vasos cobertos
de ramos
teciam aromas
descendo lá embaixo
entre os mansos de toda
hora
máscaras de amor
são teatros de fuga
a ruga do envelhecimento
de estar junto
não julga o mesmo
tempo de estar junto
lia a divertida estória
da menina-adultera
que vendia uma parte
da vida
aos vagantes monstros
do seu infante mundo
alado
ela contava na cama
antes de dormir
pouco depois de amar
selvagem
aquela imagem
crescendo por motivos
salvo o sintoma
criado por hinos
entre os amigos
que alianças também tinham
deitando de lado
sem nenhum abraço
carente
que dorme valente
da conquista amada
acorda sentindo
outra fábula contada
ela partiu ontem
deixando a “porta trancada”...
XII
As garrafas jogadas no canto
da sala combinavam
as fotos dela rasgadas
queimadas na lareira
da sala me davam
mais do que o perigoso
instinto de todo
mundo vingado
por não mais existir
sala diabólica
pintada com cores de sangue
sangue adentro vertendo
lágrimas em poças
nunca vista pelo homem
que desejava ser feliz
para sempre
o ente acolhedor
traz marcas de conquista
elas são vistas
em todo amor
que se faz ardente
numa relva por ai
querendo ser livre
o amor não vive p’ros outros
seja louco de amar
apenas as volúpias
e os sentidos da carne
viverá querendo
eu tinha uma sede bebida
no corpo dela
pra ser os ouvidos
em aquarelas retorcidos
beijos cegos
sem saber onde estavam
nadavam nos vales
da perdição
onde marés choram
gritando ecos
de tesão sem parar
sem parar a chuva lá fora
adentra janela aberta
cortinas molhadas
imagino vestido
de chegada da noite
depois de jantar
com aquelas línguas soltas
de falas interessadas
em saber coisas tolas
ainda que o caminho
destes passos que acordam
desprazeres íntimos
por estar tão longe
dela agora
este fino prisma de luz
levanta meu corpo
pra olhar silhueta
do sopro veneno
que fica
quando a sombra na esquina
antes de dobrar
ainda olha
sina estranha que me olha
parece que conheço
e fica o começo
dizendo por que tudo
foi embora!?...
XIV
Lance os dados sobre a mesa
tenha certeza do jogo
que planta logo cedo
nos vento flutuam pólens
de muitas verdades
e as idades que sofrem
muitas podem ser mentiras
muitas poderiam
ter saídas
perdidas as verdades
preferem ficar esperando
qualquer raio de sol
que desça
o “nunca” que apareceu
de surpresa
trazia apostas que não
amores
alegria que invoca
cultos perpétuos
todo dia um abraço
um beijo
até logo
volto hoje cedo
quem sabe mais tarde
outra amiga veio
de paris
faz tempo que não há vejo
percebo o vazio
agora que o frio
pertence aos dias
aquela esquina do possível
aquela voz difícil
aquela vista azul-marinha
encharca-me de mares
entre suores
e gotas temperadas
de desgosto
por ter deixado este tempo
passar tão perto
revolta ilusões de encontro
no estômago
queima visões do novo
no meu inferno
não voei tão alto assim
amei demais talvez
fosse o que via
entre o quarto e a sala vazia
quando sentia o deserto
meu oásis num gole amargo
entre os amigos
que olhos tigrados
sentiam o aroma da presa
onde está ela
por que não veio junto
conjunto flácido
de peças soltas
no lance de apostas
que enviei ao futuro
continuaram sobre a mesa...
XV
Marasmo das tardes sem chuva
o sol abraça meu vulto
sequestrado
pela manhã sem nenhuma nuvem
depois da chuva alimentar
desejos estranhos
desejos viciados
vão ao longínquo buscar
trazer pra perto
de novo outro convite falso
absurdo a la Camus
num mundo ainda nu
sem fim
resolve descobrir
penas demais ainda caladas
no coração guerreiro
que teima
quando queima
e bate veloz
pela pequena luz baixa
dos faróis acesos
de carros-sapatos
desbotando derrepente
meu ar asfixiado
sem natureza
que vive ao redor
ela de beleza exuberante
quando num passe mágico
vindo por carta
desperta interesse
ao homem preso
pelo intimo espelho invertido
das formas
nas vias do ambiente inquieto
descrente das possibilidades
amigas do sonho
surge o livre continuo
das forças que vibram
ao tocar por pele
não por tocar pelo que serve
de consolo
vagamundos
se me olham parado
no fronte que movimenta
“estados”
vagabundo quem me vê
ali jogado
por um não sei o quê
deveria fazer
surge o lunático véu
transparente erguendo mãos
dizendo sobre alguém
que perdoa os fracos
se forte por beleza
na riqueza que compra
além dos favores
amores calculados
fosse minha liberdade
amigo teus cacos
serviam de “coberta”
o teu interesse resolve
tua alma perdida
eu vivi loucuras iguais a esta
tive fé na áurea brilhante
dos anelados
mundo divertido
mundo criado
mundo extraído
sentido fechado...
XVI
Os metros quadrados ovulados
quadrados variados
estruturas pintadas
diversas ruínas
entre outros futuros
quadros novos
semblante de quem olha
espanto da percepção
que machuca
quando vivia na superfície
mal via o que era
belo nas harmonias
escravo dos dias
hoje o lamento de pobre
governado pelo rico
livre pela frente
tem novidades
avança pela estrada
sequências
as essências deixadas
outras tantas
quantas vagam perpétuas
aproximam
ainda que vivo sobre o imenso
que vezes por outra
é denso instante
por aqui não deves ficar
ali adiante também
acolá temos crianças
não devem ver
pelo pudico de herança
pedaços descabidos
da vida
percalços da verdade
devem estar escondidos
podemos sentir
tua presença
deixe as lembranças
logo cedo
desta morada andarilha
de tua ilha trivial
deste mal que possui
p’ro vento levar...
XVII
O desastre não vem com
preceitos dos cabides
de roupas caras
o preconceito
entregue na rua como arma
desafia o outro
que vive o louco sem demora
de tudo que é real
primeiro se mastiga
violência cara
nos olhos infantes
um dia revisto poderes
entre os seres que vivem lá
possuídos das formas
antigas
uma noite a convite da
saudade do mundo
perdido que acorda
feridas
uma madrugada inteira
sofrendo sem remédios
apenas o tédio
o volume das bebidas
numa manhã desejada
de sonhos partidos
acordo monstro
querendo briga
minha amiga viola
não mais cantava
minhas cordas
tocam brisas
deixo-te amiga sem cordas
em pé como sempre
ficou comigo
neste abrigo pra
inválidos
alguém irá te adotar
tenha certeza
mais do que tenho
por minha dureza
vista de fora
alma dócil no castelo
das perdições do homem
masmorra coberta
das míseras coisas
que levo
qualquer lugar que me entrego
desce da superfície
toda agonia primeiro
quando o âmago
do coração frágil cresce
o lugar está viciado
entorpece...
XVIII
Acredita o velho com fome
no campo covarde
prédio loja de defunto
sem nome
onde moram penitências
essências da vontade
ocupada
que o humano é bom
pra oferecer
a quem tem braços
ainda fortes
um pouco de sorte
aos pedaços
feliz sorri por amarelos
que sejam pelo
pouco que ainda tenha
dos valentes que
ainda vivem
dentes de outrora
sobreviventes
da aurora nascida
que não foi essa
veja amigo seja lá
que nomes te deram
se a memória faz lembrar
me lembro do altar
e da bela amada
com voz precoce
levando além
dos laços fraternos
alguém a mais
junto consigo
hoje temos algumas
carnes entre vegetais
pão parece colhido
sem sobras
do pão dormido
que vem das almas
cobrir-nos por dever
escolho teu sorriso
sem disfarce
pra dizer sem máscaras
a culpa pertence aos fracos
os fortes abrem portas
toleram vontades
que sejam vontades
até mesmo aquelas
com vozes loucas
querendo seu sonho
mais cedo
meu nome foi um enredo
desmerecido de pena
acena pro alto
vê estrelas partindo
nos espelhos d’água
que bebes fugas
do calor
não vejo minha dor
dizendo Brutus-Narciso
se foi ofendido
por que me olhas
com os olhos de quem está vivo?
XVIII
Amigos são sonhos vividos
parentes algo existente
no possível
lamentamos sua morte
digam de passagem
no túmulo fantasma
que ainda vive
ele estava sempre ali
feliz nas diabruras
de menino
de luz travessa
cresceu vingando
seu paradeiro
de hospedeiro
de um dito profeta
patriarca das horas
incertas
sobre aquele desvalido
do acaso da estética
complexo de sábio mal aceito
será que foi ele
quem sabe podemos
comprar o que vem
com ele
sol da tarde no meio
do tumulto causado
carros a ver navios
nada frio
no meio fio da avenida
que leva de um lado
pra onde quiser
daquele lado
vai de volta ao império
do nada
criador dos mistérios
lavra poder por papel
ser ditador de espírito
escreve um rito
ordena um mito
deixa-lo morrer
pra viver do rito
desde aquela vez
que tudo pareceu
ser feito de areia
poeira levada ao vento
descobre o que ficou
por concreto sentado
sobre o chão deslizante
solo das coisas que ficou
de tudo que sobrou
sufocante
mandando ir embora
hoje senhora estas pétalas
desabadas das rosas
púrpuras
se você me escuta
talvez possa sonhar junto
sinto muito
pode juntar todas elas
dou-te esta coberta
misture todas
dentro dela
talvez possa sonhar sozinho..
XIX
Das coisas do sonâmbulo
envolta dos recados
que recebe todo ente
que pertence ao mesmo
lugar agora ilhado
ficam ouvidos caminhando
o extremo do absurdo
compõe o mesmo
das horas agônicas
quando acorda o desespero
sentindo um gosto
conhecido
de Gregory Sansa
eu havia lido a muito
que o mito das cruzes
do gólgota vertiam
no altar de Sansa
que agora isolado
petrificado em cima da cama
descobre o vazio
de espírito
encobre o rio de níquel
que trazia ele de volta
com alegria falsa
aqueles que riam da desgraça
por graça no interesse
são medíocres enjaulados
que olham dentro da floresta
sem encontrar nada
esta floresta bruta
recruta os sonhos
que cabem no mundo
desenhado
sofre de pena
destina minha cena
no teatro
como o “amargo vestindo
uma nova roupa usada”
lindo este pomar de águas
sinto no calor do sol
o perfume das águas
correm velozes
para algum lugar
“deixam na margem
toda folha que morre”
nadar num barco sobre
um oceano de insultos
pelo minuto que causa
vertigens nos adoradores
de cápsulas
meu versejar-passos
naquilo que é solo firme
quando aceito
viver sobre o efeito
do filme.
XX
Vivo o pássaro alado
nas ruas pergaminhos
dos idólatras caminham
pela vida esquecida
também tive ídolos
travestidos de sorte
para qualquer dia
havia semelhante
sempre parecido
outro vivia nas grutas
dizendo sobre
aventuras estranhas
algumas delas sentia
serem tão reais
quanto ao amigos fantasmas
andando falando
balbuciando destroços
sem nenhum sentido
junto comigo fumando
risadas à vontade
mais um deserto acordado
no meio do nada
pergunto ao mundo
que ninguém mais ouve
se houve um mundo
como eu sonhei um dia
ou foi quase um instante
precisando sair
por alma querida
de alguém lá fora
precisando de alguém
cá dentro
centro de coisas
que podem tocar
fazer viver seus espíritos
que não toleram estarem sós
mesmo que seja inventado
amor inventado
amor em dó
sustenta um vício de pele
hoje chego ao repouso
das “violetas de plástico”
vasos de barro
castiçais antigos
lugar deixado
sento-me olhando o mágico
ceú de luzes sobre a terra
do único alto
que consegui chegar
sobras e um pouco de água...
...ainda desejo acordar.
XXI
Amiga querida
amiga ave amiga
tens um ninho adorado
de galhos caídos
tramas de capim seco
dramas deixa-lo
assim tão cedo
penas asas abertas
precisam
porque desejam voar
estão crescendo
vozes cobertas da grande
fome que tive
também por nome
de vida
há um minuto qualquer
da memória
que conta uma história
sobre duas ilhas
a primeira de qualquer
jeito
por efeito da calma
que sentia do peito
colo materno
devaneios de interno
num mundo que chamam
lar de todos
de um “Deus” às vezes covarde
pelo frágil
no sufrágio permitido
chegava temperos de alarde
olhos de bandido
querendo roubar
o amor que plantou
desejo despejado
por água abaixo
escracho ferido lá fora
o arrependido
depois das horas
não tinha nossa dor
colhia nossa dor
p’ra pedir de novo
outro amor
desta vez será diferente
vivi o frequente repouso
das coisas invalidas
crescendo
procurei outra ilha
sonhei acordado
sobre o manto do livre
anéis trocados
beijos selados
era um calor antigo
vertendo puras gotas
de orvalho n’uma manhã
nascendo
morri na manhã nascendo
como fui outro
dos tolos
que acreditou no amor nascendo
todas as coisas
do amor nascendo
criam fantasmas do eterno
era um homem fantoche
queria ter vida própria
sem pertencer ao fim
amei outra história
a mesma glória
dos casos herdados
p’ra contar depois do fim
depois do sim
começo de verão
pequena vida plumada
que canta pro sol
não deseje suas penas a mim
elas nunca mais irão
ver-me assim
sinto o orgulho dos facínoras
despertos na alma
o ego vacilo
bacilo de calma
possua-me...
...devagar destrua-me.
NA PERDIÇÃO DOS REBENTOS
Abra a porta do convés
estaremos olhando o mar
por baixo da cama
suas pernas árvores folhadas
quero fumar teu suor
desce líquidos estrangeiros
piratas avançam
querem roubar nossas pérolas
onde estão as velas
preciso acender meu crivo
conte aventuras entre
os tubarões
quais cartas tinha nas meias
quem te rodeia
quer as cartas da meia
assaltos a beira mar
onde quer pousar sua
sereia de calda-serpente
deixe as escamas perfumadas
voarem pela janela
antes do anoitecer
serão estrelas pousando
seremos loucos atravessando
este rio selvagem
venha de encontro
a meu dorso
o gosto já está pronto
na entrada
agora o gosto da boca
sufoca prazeres
agora o gosto da sua joia
está sendo roubada
não tenha medo das armas
elas não matam
inocentes
o diabo abriu o inferno
vamos gozar nas orgias
do delírio sombrio
as ninfas dançam nas brasas
querem comer as escravas
que gritam de prazer
se não é medo mulher
porque todo este arrepio?
PURO SANGUE
A cela do cavalo que montas
cela tua vontade
de ficar pronta
não tem cela nem grades
cela tua carta
sobre um beijo dado
minha boca fechada
cela tua vontade
de ficar pronta
a cela do cavalo que montas
o couro tramado
entrelaçado
cela tua mentira
desse olhar que afronta
na parede do quarto
tem riscos rabiscados
de unhas ferozes
doses de cores
e sangue escorrendo
manchas sorvidas de língua
desejando de novo
no sabor que fica
tua cela escorrida
dos sulcos do gozo
cela meu tempo de ereto
que bebe teu gosto
a cela do cavalo que montas
cena de trote
no barulho de cascos
ela de bota colorida
desmonta
cavalo deixado com cela
amarrado no ato
do poste na esquina
ate-me fogo desde os pés
ata-me por cordas
laços abraçados
desejo teu mel
fingirei de olhos vendados
que o frio subindo
pelas mãos em meu corpo
querem saber
lá no final menina
o que no final da rua
brilha
não tem saída
deixou tua fuga atada
sobre a cela montada
que cela tua sina
não desista agora
não desista de nada
não desista agora
não desista
vai ser amada
num gole pulsante
do que procuras desarmada.
CORAÇÃO DE AMOR
Que aventura faz ela de dia
sobre lençóis estendidos
no calor que desce
sobre o corpo molhado
estou vendo meus
desejos vibrarem
que doce água mágica
desnuda por baixo
o que só eu vejo
quando ela eu beijo
nestes lençóis de baixo
encaixo meus olhos
no contra vento da porta
onde a pequena finura
que avista
visita minha bela
sobre o sol
amorenando sua pela alva
dourados tenros
amarrados
amanhã logo cedo
vou do outro lado
onde nascem lírios dobras de cores
florindo
trarei o ramo envolto
de sândalo
ervas do jardim temperando
sobre o café servido
com frutas silvestres
do campo
desejo-te te amo
escrito n’outro lenço
dobrado nos talheres
mulheres são tantas minhas
transando
covarde sonho com elas
porque me invade
uma vontade selvagem
preciso dar lugar
a fantasia
se soubesse querida
que a tua vida
vale muito mais
do que esta vida sonhada
minha...
A MACEGA VÊNUS
Comprei o chácara
tens um bichos vivendo aqui
oh meu bem comprei
uma chácara
tem frutas caindo
matando a fome
de quem mora aqui
venha estamos em festa
traga teu vestido
de flores cortado
dance sobre a tábua
onde todos comem
e bebem por sede
ninguém está vendo
que estou morrendo
de vontade louca
quero beber tua sede
jarros indomados
vão calando bocas falantes
de vinho e rum
aguardente escondida
no mato
lá no mato seremos um
no coração andante
vagando pulsivo
veja como o fumo sobe
pela tua volúpia galope
de ursa
que ataca dissolve
o “grande homem”
secreta agora anseios
te abusa
sobre teus seios
um veneno gostoso
escondido
abre as portas do mistério
ofendido por querer mais
desse mistério que dorme
me diga me acorde
pede ela
toque de novo até o fim
mas desta vez
como da outra vez
não saia de dentro de mim...
LUA LAZULI
Ela texana
bota lustrada
bermuda desfiada
correndo o risco
de me prender por ali
ela se abana
calor pele suada
tira suas botas
começo pelo risco
de ficar aqui
nela se abusa
de tocar desafinado
notas cortadas
tremendo agora risco
prende-me místico
enlouquecido
em tudo que nela vi
solta vozes fulgantes
fuga de frio delirante
amante agora do risco
de não pertencer mais a mim
ela louca desvira
torneadas pernas
d’frente correndo risco
devagar sou tragado
antes de chegar ao fim
xadrez amarrado na cintura
silhueta de ventre
enfeita por blusa
quase me acusa
de violentar sua vida
só posso dizer
sobre o mito
estampado na parede
que tudo de igual
pertence a mim
só não sou bonito
nem tão rico
se por riqueza
meus olhos te ferem
pelo brilho que deles
emana febre
preciso que quebre
o “vidro”
deixe escorrer...
DALMORE 50
Há boatos escaldas
de sapatos velhos
pingando verdades
sobre um tolo brincando
de homem no bar
mesa de snooker
tampo verde adocicado
onde ela dançava
pela transa depois
das moedas pagas
soltas no ar
vem buscar minha dama
venha mostrar
quem veio divertir
tenho duas doses
pagas do melhor veneno
sereno de noite
bebemos a vontade
depois dos açoites
possuídos no galope
sobre a cama
oferece uma cisma valente
ao destemido
esperando oprimido
pela vontade do outro
era dele a musa brilhante
de olhos claros
se deixar os lustres
apagados
só pelo aroma tragado
luzes de olhos
miravam vagalumes
nos ares
sobre o corpo violado
biquíni depois da saia
retira o tomara que caia
por cima de alguém
grita a vontade do estranho
que seja eu amém
o que além ultrapassa
sua vontade de homem
adaga de pronto
sobre a mesa fincada
perambulas por gestos
ser inquieto
erga tuas mãos
palmas assovio desejo
de objeto
seja apenas discreto
na cinta-liga
deixe o bocado que merece
aquela mulher
que te enlouquece
tem o palco por vitrine
da noite
o convite no bilhete
dos teus lábios
termina por aqui
seja um estranho
como os outros pelo ganho
de ter de perto
um pouco de inferno
volúpia de sangue
mais tarde o convite eterno
tem meu endereço
digo-te meu preço
homem prevenido de forças
abaixo da cintura
que perfuras sobre o tampo
lamento informar
tua arma branca
ficará inerte simbólica
morta de sonhos
de quem deitará sobre meus pés
num alvo que calmo
despenca curvado
ele agarra sua coragem
com fome
meu nome pouco interessa
ele teve muita pressa
tenho ainda duas doses
do veneno
sereno da noite
espera nós dois na porta
de um motel qualquer
dizer por bocas voláteis
que gostamos do perigo
sinto por seu amigo
sinto muito a tudo que vier
sinto muito quando quiser
sinto muito
quando muito estava ereto
é um poder estável
logo que afável belicoso
tua vontade louca
despertar
seremos amantes
durante o percurso
que olha brilhante
amantes no quarto
clareado de lua...
PIÑA LOCA
As belas temporárias de verão
chegaram
sentaram perto da copa
por favor agora
precisamos apenas do delírio
escondido nas prateleiras
dos fundos
traga dois ou mais daqueles
que o cowboy valente
ficou pasmado
durante muito tempo
sem saber direito
onde era o fim
corte de cílios postiços
piscando olhos negros
coorte de mãos deslizam
pelo fluxo de perfume
contínuo
ela tem entre os dedos
o medo da verdade da outra
mais um devoto
na encosta dos picos altos
sobre o bar
nada olha do que vê
pelo espelho refletido
uma delas tem gosto selvagem
o que da esquerda
perde o fôlego fácil
a que vejo pela direita
três ou mais goles
duas e mais de uma
tragada sem deixar
sair fumaça
lábios de traça
lendo as faces
das outras
derruba suas cartas
perde minha atenção
nos copos volumes
engolidos
certeiros batidos
sobre a mesa
tenho o “as” em quadra
e um 10 de copas
com sabor mascado-vulgar
quem entre vocês já teve
d’outro lado da parede
sem poder sair p’ra jantar
abram seus leques
é perigoso apostar
o que não tem como pagar
trinca de reis
todos eles partidos
o que a mais vem repetido
mata minha sede
de par
trouxe flores outro dia
outro dia flores
invadindo meu lar
eu abraço minha fuga
nenhuma das quais possuo
voa inquieta sobre
a culpa de perder
por culpa de perder
tenho meu colar
de pérolas sobre a mesa
qual tua certeza
que a última se abrindo
não vence teu medo
de ser ofendida?
NO MONASTÉRIO DAS RESOLUTAS
Se elas entram pela licença
Da porta dos fundos
Peça que paguem
Pelo que falam dos loucos
Se elas desculpam seus
Sotaques carregados
De mistérios
Depois do toalete
Depois da verdade
Que dizem dos outros
Deixe vago o lugar reservado
Aos cínicos com mulheres
De plástico
Os loucos ficaram viciados
Vendo aparências
Cobertas de mentira
Elas não matam
Apenas calam desejos curtidos
Eles voltam bandidos
Querendo fugir
Das roubadas certeiras
Camisas encharcadas
De toda bebida de graça
Tem lábios secos
Agora tua bebida será paga
Sentadas no fundo da sala
Num sofá preto de couro rasgado
Faz parte do decoro
Do roxo pelas paredes
Enquadradas de gogh
Um gole de volúpia
Antes das culpas pedirem
Outra dose
Venha marinheiro
Vestido de terno
Um inferno mede minha alma
Quero medir teu drama
De ver uma dama
Colhendo prazeres
Com mãos de frágil
Interesse
Da cintura p’ra cima
Pouco me importa
Pelos ouvidos
Quero ouvir gemidos
Não dores de mito
De quem descende dos reis
De quem pretende dizer
Que o “sexto sentido”
Sentiu-me por dentro.
A LIBERTINA MODELO
A noite dança sobre
meus ombros cansados
tive já tive
e como tive
contive meus dias
com ele sozinha
eram noites perversas
minha escolha de roupa
satisfaz olhares
mais do que lugares
outros vulgares
pra desejar desforra
permitindo sentar-me
como dama sua
dama suja por fora
beijos linguares
no pé do ouvido
me diziam sobre sofrer
depois d’ele beber
depois d’ele descer
depois d’ele ser pervertido
divertindo vendo
vendendo meu corpo
aos amigos encarando
meu umbigo prateado
que tatuagem bela
imagem possui ladeira
abaixo
onde ele por sinal
já deveria antes mesmo
de falar delicado
querendo ofender devagar
venha vamos dançar
pernas estupro de golpe
bela barba riscando rosto
disposto a tocar
todas as notas
que alguém por trás
alguém por trás
também está disposto
a tocar
diga como me sinto
no meio de tudo isso
sem ter prazer algum
pelo semblante escorrido
de lágrimas
que não de suores fétidos
do pudor bestial de mais um
quanto mais um
nenhum
nem ao menos ele
possuo na cama
quem é aquela que amas
quando amas
chamando pelo nome
apelido promiscuo
como me chamas
pelo risco contido
de ser outra
permitindo ser outra
vai ser divertido
de novo
risadas de máscara
“toda mulher mascara
um bom vestido”.
BONNIE ROSE
Desperta interesse
Segundo o guarda lá fora
Aqui dentro
Tudo está engolido
De fervura dos trópicos
Velhos incapazes de dizer
Aqui jaz
Parados no entre-portas
Do estúdio
Falaram sobre elas
E o que uma delas faz
Foram subir no andar
De cima
Causados de hipnose
Pelo gosto que andava
Que gosto podia
Vir comer alguém por dentro
No centro do palco
Estava ela de salto alto
Pronta mortífera
Sem roupa
De roupa íntima
Intima quem se aproxima
“Você me deve uma
Pele usada”
Lembrando onde esteve
Teu sonho serve
De consolo
O tolo que me beija
Querendo algo além
Do além que acredita
Voz doce de anjo
Percebe o fraco
Num lance de dados
Sem números
Tem as extremas
mordidas
Jogue-os de volta
Sinta o fácil engano
Quando aceitar
O falso prazer insano
Não eram peças
Eram pedras coloridas
Disfarce de sombra
Tua mona andarilha
Nuvem ressecada
Pelos olhos curvos
Pedindo lamento
Do desprazer criado
Eram viceras aquelas veias
Sem coração pulsando
Que força de bruto trazia
Sentiam meu sangue
Sentia teu sangue
Adentrando aguado
Fervia pouco na mente
Pelos olhos curvados
“O bruto estava na caverna
Procurando ossos
Velhos encontrou
O tempo parado”...
AS PERDIÇÕES DO CASO
Se o ciúme das outras
convence-te do mal
de ficar perdida
num espelho invocado
que perturba
trocando sonhos de lado
quer entrar na fantasia
que não serve mais
quer ser quem
nunca foi
pra ficar em paz
“regue as plantas mortas
talvez nasçam flores
do túmulo trincado”
que alguém visitou por
pena da vida
escorrida olhando
quem vive sem motivos
se as rugas procuradas
nas fotos antigas
tem haver comigo
a varanda se importa
com tanto fumo
quanto rumo
desperta suicídio
meu amigo um dia
falou da sua silhueta
numa risada engraçada
risada de lábios fechados
conversa de cerveja
nunca termina
nem tudo é menina
de carne macia
com pele firme
nem tudo termina
quando acaba o filme
“o amor é um começo
do vício
o vício de ter você
desde o inicio
fica copiando mentiras
que foram verdades
para vê-las à vontade
como sempre de novo
no espírito”
HE POISON
Conversa quente
derrepente me sinto
de novo com náusea
teu tempero curou
meu lado bom
quer-me abrir-me intrusa
permitida te ver
de outro jeito
querer-me confusa
cega de mim mesma
tua voz muda de tom
vejo aparências vibrantes
mais do que antes
teu colo volume
pensante
pesa meu corpo
querendo deitar sobre ele
sejamos francos
estamos causando delírios
ainda que no mínimo
das coisas contrárias
meu mal esteja escondido
no tempo perdido
ontem terminei sem você
o que foi bom
p’ro teu mal
vier me convencer
de ser tua novamente
é que derrepente
um demônio
por todos os santos
traídos em cartas velhas
babando cenas de
telenovela
ternos amassados
vamos brindar por ela
veio dizer-me
depois de amanhecer
que estes beijos amassos
de banheiro
nada são como são
ter você por inteiro
inquieto agora desejando
meu mal dileto
que mal direito pertence
a mim mesma...
UM DRINK DE FLERTE VIVO
Lados opostos
mergulha teu fumo
encarando de dentro
suando por vontades
estranhas metades
voando sobre a mesa
foi casada com o barman
outra a noite vi
sua divida de moça
no lado de fora
estendida abraçando
a noite por cima
noite sem clima
morta dando seu corpo
ao vingador das horas
incertas
beijando teu rosto
descobrindo teu monstro
inquieto no meio
de cacos pedaços de tudo
no espaço vocifera a voz
dos pedaços de mundo
que voava no olhar
que orava por chorar
qualquer imensidão vazia
pode ser uma fuga
olhava o anelar maldito
num suspiro de noiva
do santo caótico
seu véu apenas encobre
uma falsa alegoria
por que ela queria
se vingar dos pais
por que ela queria
ir além do mais
que o pouco existia
pra ser feito de vida
agora querida tenho
as apostas guardadas
não tenho dinheiro
tenho cartas sem marcas
o que quer dividir
quando perder
quando eu perder
o que será de mim
na precoce ideia
de tudo que vier
posso ser mulher por um minuto
depois vou embora
leque de cartas
jogada no centro da mesa
ele me venceu
pelo conto que vi
do conto que não tinha
por ter perdido tudo...
JIM BEAM
Existe uma floresta dentro
de um pequeno lugarejo
a estreita da estrada
no final da ponte
onde termina tudo
se você voltar te digo
quanto custa
as damas da noite
em casas velhas
paradas na porta
com cores diversas
as avessas comprando
teu tempo
dirão quando voltar
quanto custa
elas camas convidam
abrindo as pernas
num vestido rodado
postando suas cartas
pelos olhos vibrantes
que envolvem
o destino mirado
em seus diamantes
se sair de lá
saberá quanto custa
a metros da esquina
poderá ver um brilho
de Lúcifer sobre
o espelho d’água
uma menina parada
de vestido curto
tragando um cigarro
será o primeiro espanto
o medo no entanto
não afasta o perigo
de saber o quanto custa
ela estende as pequenas mãos
com tatuagem de barro
da sujeira de dias
sem banho
ela parece que chora
tinta escorrida no rosto
suplica um pouco das horas
que humano possa
deixar com ela
olá senhor estranho
sabe quanto custa
ele abriga uma dose
do whisky barato
na lata de cantil caso de fato
das viagens sobre
o tronco das árvores
curtindo um orgasmo sozinho
antes da ponte
uma boneca pintada
mesmo que desajeitada
pode saber quanto custa
vou deixar você entrar
no meu palácio de beco escuro
aquelas velas
foram deixadas por minha
madrasta antes de morrer
meu pai caiu de sono
envenenado de tanto sofrer
ainda dorme daquele lado
onde cai o rio
você viu as cores do céu
pode dizer agora quanto custa
ela já ia retirando
o vestido florido
mescla do tempo de luto
ele de pronto pelo bruto
mortal que se ilumina
tenta imaginar alguém
como ela sozinha
quando num sopro de heroísmo
galante sem jeito
atropela o destino
indo devagar de costas
desejando que ela
fique ali protegida
quem virá me dizer
quando tudo isto custa
distraído pelo motivo
na pele do devoto
das mazelas da vida
avista de longe
que as pequenas luzes
do beco escuro se apagam
passos ouvidos distantes
ainda perto da ponte
se escutam
volte logo moço
volte logo
não tenho nada pra comer
não sei dizer quanto custa
instante imóvel
no efeito sufrágio sem saber
porque perdeu a vontade
louca de conhecer
o pub vitral de luzes
que fugas no escuro
brilham no céu
olhava o horizonte destino
perto da ponte
olhava o rio de longe
vibrando nas pedras
quem sabe me dizer
quem era ela
a inocência mendiga
é amiga bem vinda do engano
enquanto vertia suores
de espasmos por todo corpo
uma donzela cor da neve
sensualidade nua
de quem escreve vertigens
se aproxima
seu cantil abre-se sozinho
indo banha-la nos seios
escorrendo umbigo abaixo
antes mesmo de chegar
ao extremo dos meios
ele está de joelhos
ouvindo a súplica
com voz de anjo
entre no meu beco escuro
agora
direi sem demora
quanto custa!
THEA
Sou a serpente que caminha
em círculos fechados
dentro da minha casa
não gosto de ver
sua infância pervertida
querendo brincar
meu pacto secreto não sangra
o sagrado verso
quando lambe meu corpo
querendo saber o gosto
do pecado solfejo
tocando meu céu da boca
quando te beijo
casto super-homem
das colmeias liquidas
aquelas vidas roubadas
dos jogos pueris
na divertida miséria
sem tesão
vão ao mundo da loucura
sem viver da loucura
por um segundo
em vão
comendo cenas
por ereto musculo
nos sonhos ocupados
por fissuras criadas
fissuras “criadas”
escravas de aventura
nada tem
tua saliva que escorre
pelo meu cheiro de fêmea
deve comer meu fôlego
tomar meu fogo
morrer comigo também
não vague olhares
pelos lares deixados
das lutas contra
qualquer solidão que teve
me deve um corpo sugado de espírito
me deve todo tempo
cansado que sinto
musica de intervalo
flauta doce
meus dedos descrevem
teu falo discreto
que olho queimando
dos sulcos secretos de amor
dos vulgos calientes
que já tive
calam-se por horas
talvez algum minuto
dormindo
sobre este ninho
que anoitece trufas
saltando no rio
seja selvagem de novo
espero teu louco acordar
cego de tudo
querendo parar no fim
procurando em mim
que fujo pra acontecer
mais de uma vez
suspirando de forças
possuída de infernos
me salve dos puros
que a cama abriga suores
de sono
me entregue aos impuros
calores saídos
de ti.
MISTER CÔMICO
Ele era o artificio das
ignorâncias que perseguem
as virtudes por ser feio
ele era o desajeitado
passando por velho
que dentro vivia
enviando desespero
ele agora desce a rua
feita de pedras antigas
botas de couro surrado
calça de brim
com rasgos figurantes
chamando olhares
pra serem seus
por algum minuto
ele dança não anda
ele parece que convida
alguém pra sair
pelo olhar
todas estão no seu caminho
na noite no escuro vazia
elas foram paixões
criadas pelo coração de dia
a estrela que explode
não revela mais ninguém
por dentro
o egocêntrico vendendo
um carisma
se aproxima dele
com sotaque familiar
o que você pretende
neste mundo doente
dos compassos benzidos
amaldiçoados
pra serem assim
o orgulho valente
desafia qualquer passo
querendo ir à frente
olha pra cima
você está alto
convencido de ser outro
pelo novo clima
“são criaturas do deus-guia
todos tem medo de altura
rezam sempre que falam
quando notam
que ficaram sozinhos”
o medo escondido
observa o esquecido
por estar pensando na
próxima vitima
surge desafiando
a ficar imune
dos rastejos complexos
trouxe um sonho fácil
qualquer moeda paga
uma noite de núpcias
eu tenho uma cega
quem você traz
que abre teu corpo
não quer uma entrega
“meus lábios são vícios
pretendo sair de novo pra comprar”...
DISSOLUTI te
Alcinhas flamando
posso ouvir delicados
frios surgindo
do que parece que apaga
quando chego perto
alguém me retém
pra ficar ocupado
nas fibras constantes
que douram caminhos
na pela dourada
de vento e sol
por cima dos vales
posso ver duas estrelas
criando lúmenes
prossiga
mentiras de não profundo
de coração delírio
continua falando
pelos lábios sorrindo
caem sinais de sim
vantagem de alerta
siga
há um top num tapa
que engole de volta
tesão partindo
p’ra fora
de mão calando ataque
provoque o choque
de você junto comigo
primeiro
invoque o miserável
sem pátria
vivendo nas ilhas
clamando por trilhas
que levam ao
sublime certeiro
correndo o risco
de se tornar perigoso
avante o que vier
dizer que pare
durante o que não dura
p’ra sempre
no desejo da mulher
será meu
assim sentindo quanto pesa
deixar suas peças
presas de encontro
as forças sufocadas
do que veio
que fica sobre as escadas
querendo subir
ela retira suas defesas
p’ra andar sobre a neve
agora estou no céu
que nuvens são estas
que chovem lágrimas
tão suaves cortando
minha vontade
de ser outra
ainda que posso sentir
ele traz os embaraços
todos estão fracos
entregues
entre seus dentes
devolvendo tudo
a mim
traz teu perfume
de mescla vingada
nas mesmas coisas
que tinha por fetiche
as almas de combate
conheço todas
não vês minha face “mudada”
falando tua língua?
http://www.recantodasletras.com.br/autores/joaomarcelo
MAGNÍFICA
Traz a noite num pequeno
gole de longe percebo
o beijo dado
no copo andando
sobre lábios
de dentes cerrados
quase me comendo
por dentro
com os olhos de sábado
beirando loucuras
nunca a vi desabrochar
flores tão doces cítricas
quem periga ceder
desta maneira
vem na companhia
de outros afins
quem tal jantar comigo
serás perfeito
na varando do solar
no club do Greens Live Complet
lá servem drinks em
cascas de frutas
depois podemos comê-las
são putas de espera
como nas vitrines de
Amsterdã
hortelã de um beijo viciado
tem avelã com caju
derretendo doce
de leite
que me aguarda
nos mesmos lenços
com você suplicando
beijo de moça
mordemos juntos
meu pedaço só vai ser
seu
se tiver descaso
por minha fome
não controlo minha gula
ela vem absurda
surda de qualquer lei
presa por cantar
nas escuras
prefiro que assuma
todo controle
veja os botões de rosas
se abrindo no jarro
eu me amarro na sutileza
deste som
escute meu amigo garçom
traga outro e dois
maços
senhor dos ternos de fraque
vamos tragar espíritos
convido teu burlesco
no afresco de Isolda
no saguão sem luzes
perto do corredor
dos fundos
a trair teu charme
comendo minha carne
dilacera olhos de Tristão
pra mascarar vontades
somos a idade dos violentos
sedentos de mar aberto
sem vento
pra desejar ondas mágicas
que margem que volta
pra buscar vazios
cheios de calor intenso
querendo ocupar
querendo culpar
p’ra pedir esmolas
jogado ao chão
depois ao léu
meu criado defunto de orgasmos
sou tão bela assim
que frágil desloco
teu homem bélico
num cético vanguarda
ditando mazelas
enquanto me interesso
pelo moço sem guarda
nenhuma
deitado na sombra
relax de faz de conta
contando tempo
pra acordar
me divertir de novo...
MAÇÃ PARTIDA
Horror derrotado
no filme da noite
pelos pingos causados
no telhado
da casa vazia
móveis quietos percebem
exalam
sobre abraços
mal criados colos
de corpos nus pintando
quadros da pureza
sem dor
pudor de riqueza
explorada de amor
convém dizer que nada
mudou de lugar
o que a poeira permite
valer como lento
aposento do desiludido
vestido jogado
ainda por cima
do sofá tecido de veludo
aflorado de toda bebida
manchas coroadas
da bebida mais preciosa
que os licores tomados
por você fumegando
meu rosto
querendo afogar meu louco
momento de prazer
que subia por sua
roupa desabotoada
caída sobre meus pés
caindo sobre seus pés
desejava
caindo agora sobre o chão
sem pés
finjo desmaio de agonia
pela sala vazia
da casa sem lar
sonhando que seu retrato
desencontrava
o que não mais havia
vivo lá dentro
mesa de louças delicadas
a espera das camélias
oriundas do vago
cantar de outrora
permanecem segredos
do enredo
que nunca virou nenhuma peça
querendo ser esta
dos encontros polidos
mentindo ser feliz
no agrado de todas
as falas servidas de interesse
por tentar vagar por ai
sozinha
minha verdade desce
consola se aninha
sobre a grama
deitada olhando o céu
que tinha um mel
tão doce orvalho quente
que vertia dele
agora a frieza do tempo
existe
ele chora sem medo
sopra um vento covarde
deixa-me triste
onde fui feliz um dia...
O FATÍDICO BEM ME QUER
Mortífera como quer
vampira doce prazer
de mulher
atira sem pensar
deixa marcas carregadas
de si pelas balas passos
no rodapé da sala
por onde quer
que eu vá passar
alvejos adentram
se mesclam em mim
sendo ela
dizendo palavras
frases de contos malditos
outras falas
sombras fantasmas
empoderam-se distraindo
enquanto
me levam pra seguir
por onde nem mesmo
sei de onde parti
tudo se apaga
nenhuma imagem
moldura sem rosto
pintura de cores avulsas
coisas perdidas
um bottom de piercing
que ela usou em alguma
destas novelas
entre amigos
livros abertos
romances de bolso
leitura de viagem
falam de “Deodora e um vilão
carniceiro que prendia
ela no telhado sobre o sótão
desejando dinheiro
pra resgata-la da morte”
quem teria esta sorte
de precisar se esconder
pra fingir que a solidão
podia sair pela janela
sozinha
quem era o cavalheiro
que podia vestir
esta armadura
de pura coragem
pra amar o infinito
que o bendito falar do padre
dizia nas homilias
do mosteiro
escadas selvagens
molhadas com vinho
volátil aroma de uvas
sugam beijos nas
curvas diante da porta
num vermelho rubro
vestido que se abria
ela não me deixa entrar
sentada na pose de gata
felina que desata
minha dobra de homem
no animal de presas
rangindo
remoendo percalços
da raiva
menino morcego que suga
devagar se entorpece
nas miniaturas
cobrindo
todo volume de lábios
e um vulcão parecendo
adormecido
quer explorar
minha versão de lobo
pelos pêlos apelos
dos alpes derretendo
inverno nos picos
mostrando que me escondo
de você por inteiro
num matreiro carente
agarro seus menores desejos
mastigo brutamente
estas fibras cadeias
da pele macia
devolvo teu luto
porque entrei pra matar
tudo acontece
agora estou vivo!
VOLUMES
Ela sabia onde guardava
a fantasia perfeita
de menina refeita
das dores do peito
dos extremos abusos
do ventre solitário no leito
desenhando vertigens
sobre um céu de miséria
estúpida
sombra de rua
“vegetando” em preto e branco
escombros dela
nos sonhos de pele nua
sem prazer possuído
sem prazer diluído
assistindo o parecido
que avança vontade
pelos flancos
do lençol subindo
que desce desaparecendo
partes cortantes
onde está ele agora
num derrepente me acorda
de tudo
n’outro me descobre
sem medidas de pudor
ama o corpo inteiro
desarma o que tenho
por amor
que amor diabólico
claustrofóbico hemofílico
perdido de tempo
que horas seriam aquelas
frações de minuto
caindo na solidão
como agora me sinto
como “horas” p’ra refazer
o que de belo escorria
por meus lábios
fazendo sentido
a toda gama de forças
incapazes de dizer não
que não seria dizer
sim pra tudo que viesse
dele
poderia sofrer de novo
que a solidão
machucaria apenas
por sentir falta
do amante embriagado
das minhas veias
coração pulsante
gritavam pela loucura
destas veias que dilata
depois que acaba comigo
dentro dele
ela sabia onde guardava
a fantasia perfeita
de menina prometida ao inferno
porque suava dormindo.
FALA DE VERÃO POR DENTRO
Foi à festa no grande aterro
dos mouros onde voam
mariposas de todas as cores
libélulas no final
da tarde repousam
depois da dança da morte
quando ousam
cegar nosso infinito
num verde abraço
mato chamuscado
de vagalumes
primeiro sino que toca
invoca o disparo de grilos
imunes a nossos passos
de ritmo interessado
pela subida
do que vamos ver
lá em cima
logo perto da entrada
ossos velhos pintados
de preto
crânio de um touro
com chifres inteiros
olhos vermelhos
eram duas maçãs
que vontade de sorvê-las
que desce um pedaço
em cada boca
que louca seria esta
ideia na miséria
dos sonhos
se a boca fosse a sua
nua completa
na minha dieta de absurdo
maçãs de brinquedo
plástico perfurado
duas sementes de nozes
parecem descer
calda branca
pra enfeitar o culto
de magia do blues soul
velho sempre novo
rock in roll
que noite sera
porque será que ninguém
teme a noite que avança
trouxe o mesmo
cobre-vulto de ataque
desta vez era claro
transparente até a cintura
pouco aberto abaixo
simples detalhes
embates entre desenhos
e curvas
vai dançando
transando com meus
acordes passos pobres
de astuto
ela de sandálias romanas
poeira de verão sopra
no orvalho diluindo
poças pequenas
espelho de cenas
que mal posso ver
se pudesse queria
me ater de lama
p’ra ver teu fogo
alcoólico bucólico
permitindo subir
nos ares altares
de “reza profunda”
arrepio intenso
propenso decaio
nas vertentes do sádico
que mágico hipnotiza
sigo pegadas
sigo sagas-trilhos
invento mitos
por onde ela pisa
procuro a cura
na estreita caverna
de portas bang bang
que tiros sem sangue
deve estar à cura por cima
de qualquer mesa
servido embebido
podendo toda vontade
secreta que ilumina
qualquer alguma certeza
na rima dos pecados
amados pecados
sem culpa...
ANTÚRIA
Recolhe o desfecho do jogo
encolhe a distancia
entre todos
vamos ver eles dominarem
seus falos cobertos
de música
pela chuva do calor
que guardam
ternos de prazeres
perde o delicado
que vem dizer mais afinado
de brim manchado
que o fim da estrofe
deseja me engole
pra terminar logo
lócus de novo
logo de novo
no mesmo lugar
desta vez a saída
contém uma vida valente
frequente promete
encarar de olhos fechados
quando passar
quem nunca vem
pra o fim do lugar
o perfume é um orgulho
das fibras do corpo
métricas de vias sequencia
destruída
pra tentar me convencer
que interesse vem dizer
depois das maneiras
que boas maneiras
são boas mentiras
pro amor nascer
o beijo com sabor escolhido
tem a cor do interesse
perdido
vem me buscar
deixei o romance escondido
pelo apelido da “causa
que visto”
oriente de olhos
ocidente de loiros
bárbaros tribais
que escondo
nas mechas que o sopro
marginal do vento
vem descobrindo
pra você desejar
meus pés em volta
do que traveste importa
quadris que solta
outra dança que avisa
abre o desfecho do jogo
sobre a calçada
dispara sorrindo
vai ser amada
me desmonta da mulher
prometida
quero ser amada...
...sozinha
sem nome !
SANGRA AS UVAS MADURAS
Chegada a hora de ser
mágico trocando
vontades de espera
pelo presente tão sonhado
aquelas juras precoces
das flores entregues
pela janela
o endereço da devassidão
num mato qualquer
proibido de vir à luz
olhando a gora uma
cruz no altar
que descende de outras
carregadas
a mesma estrada
percorre agora seus olhos
sozinhos devagar indo
querer ser feliz
entre os outros
entra de par vertendo
águas mortas
agora lágrimas soltas
num lenço de bolso
minhas agonias plantadas
são pequenas cinzas
voando em meus olhos
segurando-o como
se pudesse dizer o não
no sim desejado por ele
despe todos a volta
por sua armadura
eram as mais refinadas
na vitrine dos eternos
meus dedos vão ficar
presentes também
no eterno que vinga
entre os amigos
serás feliz com um destes
brilhando nos possíveis
invisíveis que lutam
pra ser conhecidos
diziam as “querentes”
que apostam no apego
covarde que mata
razões precisas
agora razões concisas
razões de lata
no jardim de Alice
vivendo as últimas horas
dos corações dilacerados
que inventam tardes
pra mentir o tesão
escondido de vê-la
nos braços pra sempre
de conhecê-la
como velhice amarga
distraindo os esconderijos
da morte vinda
sentado observava
o que lembra agora
no altar olhando
entre todos
quanto de todos
fraqueja no tédio
do encontro que demora
por ser místico
ela era de outra margem
que rio atravessa
um deserto fantasma
cria dores cria asma
falta de ar calores
poderes satânicos
p’ra amar uma imagem
sentir-se do avesso
pelo começo de outro
futuro além das bonecas
guardadas no armário
olha o tempo gritando
por sobra de passado
vou levar junto
deixe uma delas
na casa que alugamos
pode ser aquela de pano
era a mais profunda
foi você quem fez
o filme na tela da noite
conta outra história
lá fora ninguém
está vendo teus sonhos
ela dobra o vestido
de véu grinalda de tear
antigo
vestido que foi vestido
por muitas delas
o raro rústico
místico delicado no carro
o carro também místico
por ser branco aflorado
das rodas metálicas
parecendo anéis
deslizando em circuito
vão levando a sombra
dos sonhos esperados
por muitos
nem o tempo sabe
que o amor pode estar
vivendo fantasias
não há um deus sagrado
santo
num manto sobre o
pergaminho escrito
pra ser verdade
era tarde da manhã
na capela fechada
que assistia flores de plástico
voando na chuva
que torrente viúva
seriam estas nuvens
que amargas caiam
no rosto dele agora
benzendo calvário
sobre uma lápide muralha
de tudo que esperava
quando o sino tocava
ainda que o sino tocava
não seria mais
para sempre...!
SHE CANIS
Ela esta dormindo
de preto dentro
de um filho parido
há pouco tempo
filho erguido
cansado de assumir
destinos vazios
se despede da cadeira
entre outra cadeira
a muito me olhando
vazia
sinto o frescor dos ares
desviando na abertura
que frequentemente
mente não ter ninguém
mesmo que sóbrio
seja ontem antes de hoje
na matina
cantina vem descendo
mais de uma vez
vou pousando debruçado
fazendo pose
de um louco idiota
querendo ela talvez
veja ela já minha
filho adulto
num vulto covarde
pede-me abertura
preciso enfrentar
ternuras macias
pedindo que minha vida
se afunde
de guarda me volto
olhando desastres
casais e um solitário
entre outros otários
tramando comê-la
quando otários fazem
bebê-la pra tê-la
desconhecida por dentro
são hilários palhaços
depois do meio dia
na mesma cantina
vazia
ela tem um lance
amante encarnado
moldura de mãos
que avançam
sobre o guardanapo
retiram um beijo
que fica de lado
fazendo diabruras
comigo nas alturas
cego do lugar invadido
por ela
quero tomar um drink
copiado dos lábios
dela meu velho amigo
do bar
pergunte
quanto ela paga
pra ser assim
tenho o dobro do ataque
por cima de araque
sozinho não fala
mais do que palavras
por razões feridas
das emoções valentes
das ações crescentes
querem invadir sua vida
que distante parece
logo adoece meu vestígio
de mulher carente
adocicada
ela quer criar o caso
enquanto eu desabo
do homem juvenil
de aparência
p’ra o criminoso de arma
em punho roubada
preso sem balas
o desejo dela
foi querer sugar minha
essência.
RESIGNOISE
Os casebres
celebres desastres
molduras de tempo
conversam comigo.
Um prédio antigo
desinformado
das cores
incolores sem ética
conversam comigo.
Estética variada
cantos espaços
canto de pássaros
vozes de plumas
embaraçados
estátuas sem perfume
conversam comigo.
Bestas histórias
sombrias memórias
não visitam ataúdes
enterrados
na terra saúde
das flores por cima
conversam comigo!
O pequeno vilão
torna-se fagulha
a novidade grandiosa
pomposa diversidade
palpita coração
o edifício olha p'ra baixo
conversa comigo.
O louco que é dito
no pouco de sua obra
que é visto noturno
caminhando farrapo
bebida debaixo
do braço
conversa comigo.
A estante de braços
cruzados
braços amigos
de braços dados
na esquina virando
a vida
como quer a sina
conversa comigo.
As peças se movem
conforme
a mesa de ganhos
no entanto
o tamanho de tudo
não vale o que revela
ficar portanto
portando mudo
conversa comigo.
O limo escovado
o velho momento
volta de novo
no sentimento causado
perde o efeito do feito
portado de defeito
quer o eleito
como bonito
como escrito
como foi querido
não como nada
conversa comigo.
Os eventos sonoros
o delírio criando corpo
nas pálpebras
dos contrários
a orgia imita o corpo
lá fora um sopro
dos hiperbóreos
ostenta milagres
conversa comigo...
“há lugares ainda
por serem vistos”?
MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
Havia mais do que estrelas
Caindo
Havia abusos
Debaixo da pedra surgindo
Os anciões golpearam
As verdades
Estavam se prostituindo
Trouxeram as ministras
Do fado
Um fauno pra executar
Cantigas
Víboras na cerca
E um abutre preso
Sobre uma corrente
Erguia olhos carnívoros
Olhando as nuas vítimas
De capuz escuro
Que vinham orar
Pelo prazer destinado
Aos vales escondidos
No ritual dos hermitas
A colina oferece destinos
Encruzilhadas
E um túnel que não leva
Ao lugar do fim
P’ras luzes surgirem
Surge antes Démon
E as crituras lobinas
Sua calda em fogo
Escolhe a “sorte do poente”
Sua cor preferida
A faz gozar em prantos
Alegres perante as outras
Que viram cinzas
Entre garras e pêlos
Eretos de seus filhos
A que o sol deixou ruiva
Uiva agora transforma
Sua caça povoou
Seu espírito
Escapa pelo viés
Da entrada
Segue os trilhos
Se aproxima de novo
Do rítimo frenético
Das que dançam
Alegres esperando
os duendes da fauna
ascenderem a pira
perto da tina
que o carvalho
perfuma se perfura
desce doses pequenas
em gotas sorvidas
como o orvalho
de seus amantes
que ficam a espera
na floresta
se alucinam
não podem entrar
no circulo
norteado pelas trepadeiras
cercas
que o espinho tem
um veneno antigo
brilha no escuro
seu furo coleta
na dor da vítima
o sabor da agonia
p’ra puriificar a alma
abre a porta do inferno
que interno vive
perdido
o cajado armado de foice
do ancião soldado
corta as raízes profundas
da mirra agri-doce
avisa a descida do mago
entre os anjos
dedos de raios
pulverizam o odor
que seu leito deve ter
avista na penumbra
escondida
a que descende da neve
um manto com gosto
de larva
esconde um Deus
que nada pede
o solo é um antigo
pomar sagrado
não pode ofender
as mortas-fantasmas
juízes da Áura
que ainda famintas
pela chama do visco
que as uvas moldam
o banquete
deixaram esconder de todas
a Única
de todas que usaram
as túnicas
a dela era uma rosa-púrpura
talvez o sangue ainda
vertia entre as luas
mas desta vez
ela gritou pelo
fim do nunca...
MUSICA : Soul sucker – Black Sabbath
MIRTES E A ORDEM DO VENTRE
o fruto
Havia uma coroa escrita
Com água do rio
Que banhava perto
Da colina onde
O descido deveria estar
Junto a Única
Deitada sobre
Sua túnica
Desejando ser levada
Ao extremo que
A ordem permitia
os desvios escreviam
Coisas faladas
Aladas ficavam
Depois da descoberta
Incerta das horas
As mortas solicitavam
O vaso contido
Do primeiro livro
Aberto que será escrito
das purezas deixadas
Em cima do leito
Agora o perfume
Carboniza o ventre
Ainda suspira sagrada
A videira de Eva
Será comida
Querem sentir o gosto
Do tempo infantil
Que carrega consolos
E outros tolos
Que se faziam de principes
Do jogo
Sabendo que logo
Desceria
O submundo e sua sina
De descer ao mundo
P’ra possuir as flores
Da primavera
Ainda no inverno
O “ senhor das promessas”
Avesso ás criadas
Impuras dobradas
E curvas
A quem é mestre
Por excelência
De Dionisio-baco
Rei das terminações
Nervosas
Onde ficam a espera
De quem quer sorve-las
Sem deixar nada esperar
Mariposas da tarde
Ainda voavam
As cigarras no vale
As corujas pálidas
E viuvas negras no caule
Armando outra cama
Suspeita
Morcegos saindo da toca
Querem a tosca vida
Que pasta
A vasta penunbra da relva
Prenuncia Dévora no cio
Ela tinha um rio corrente
Nos olhos
As fibras do rosto se moviam
o nascer de um grito
Que fica mudo
No soluço das mãos
Que atacam
os olhos vidrados
Espelhavam
Ela ainda viva
Será que ele quer arrancar
Sua pele
Seus mamilos cortados
Ele retirou o anel
Que depois seria
Entregue ao “terreno”
Deixa o sangue escorrendo
Anuncia sua entrada
Fazer dela desvestida
Que estava
A pervertida da alcova
A ordem recitava
os contos antigos de Nasão
vestidos na fala delicada
que agora se via na proa
“Nascemos com lágrimas,
entre lágrimas nos decorre a existência
e epilogamos
com lágrimas o nosso último dia."
Repetiam sem intervalos
Pareciam alados
Vozes da míistica
E dos condenados
Ante o sofrimento permitido
Sentiam que ela
Já não estava mais
Entre aquelas...