É BABA!
 
 


_Pedro Baião, o quê você está mastigando?
_É "peia" de porco frita. Pururuca.
Respondeu Pedro Baião, um sujeito alto beirando os dois metros, corpo largo mas bastante magro, e ruivo, completamente ruivo, daqueles de beiços descascados. Como muitos daqueles mineiros que vieram para Itapuranga a partir da década de 50. Tinha acabado de chegar na fazenda, dependurou-se na cerca da curral e bebia um copo de leite que ainda mantinha a temperatura que tinha quando estava dentro do úbere da vaca. Era proseador e falava alto, tipo a voz de Deus falando com Abraão, parecia vir de todos os lados exceto dele.
_ Uai Pedro, mas você não é banguela? Comprou dentadura?
_Não! Ainda estou banguela, do mesmo jeitim de quando nasci! É que ponho a "peia" na boca quando saio de Diolândia para vir cuidar da roça. Venho dando cambota com ela na boca, para amaciar a danada. Então venho andando e ela na boca, quando chego aqui ela tá maciinha, maciinha... Aí é só chupá-la.
_Ah tá!
Pedro Baião, de família pobre desde a época de Adão e Eva, empurrado pela fome sabia que o que é duro pode ficar mole até em boca sem dentes. Improvisando não se morre de fome. Pele de porco é comida pobre, mas amaciada na genviva e misturada com um copo de leite virgem era um banquete de morgado nobre.