Os olhos da noite

Os olhos da noite anunciavam o fim.Consciente dos seus enganos Lurdes buscava, em si, uma transformação. Tudo estava em ruínas, em cacos e em pedaços esvoaçantes que atravessavam sua memória. Ela era a própria morte de si mesma. Em sonhos, andava feito uma moribunda por jardins infinitos. Agora corre desesperada, deixando lágrimas para trás. Vai e esmaga as flores passadas. De repente milhares de libélulas começam a voar em sua direção. Levando-a até uma caverna negra... Monstros de vários tamanhos estavam ali. Mas ela tornou-se uma gigante. A lua sangra, nesse momento, e as nuvens escondem-se. Há estrelas por toda parte. Uma brilha tanto que parece querer dizer algo,um ser que quer falar com ela e Lurdes estava escutando-a.

Os olhos lívidos e puros. Esta olha a palma de sua mão direita que transmutava-se. Linhas surgem como caminhos já percorridos. Na janela, debruça-se e sente o vento suave da madrugada em seus cabelos castanhos. Alguma entidade estava observando aquele momento e falava baixinho no ouvido de Lurdes:

" Deixa ir...deixa ir...deixa ir..."

De repente levanta seu rosto, em direção a lua, e seus olhos confundem-se com ela. Agora há um brilho desmedido em sua íris, que prescruta o horizonte desconhecido da vida. Lurdes sentia algo nascer que explodia, em labaredas, dentro de seu coração. Necessitava viver esse momento. Ela precisava viver esse momento, como a única salvação que restava.

Alessandra Zelinda
Enviado por Alessandra Zelinda em 17/02/2016
Reeditado em 17/02/2016
Código do texto: T5546225
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