A praga
Tudo começou de repente. Uma estranha praga começou a se espalhar rapidamente, produzindo um estado de caos em todo o mundo. Segundo as informações oficiais, a pandemia teria surgido na Eslovênia, entre refugiados vindos do Oriente Médio. Outros diziam que se tratava de uma arma biológica liberada por terroristas ligados ao Estado Islâmico. Dizia-se que os doentes já chegavam a vários milhões, e que havia dezenas de milhares de mortos. Algumas pessoas afirmavam que as autoridades estavam acobertando a realidade, e que a verdadeira situação era muito pior. Mas ninguém tinha certeza de nada. A impressão geral era de que a sociedade começava a entrar em colapso. E isso, apenas algumas semanas após o início da crise.
A bordo do último avião que saíra de Moscou, as pessoas estavam apreensivas. Sentiam um grande alívio por conseguirem deixar a cidade no momento em que a praga começava a sair de controle, mas tinham uma grande incerteza em relação ao futuro. Devido à quarentena estabelecida em muitos países, estava cada vez mais difícil viajar.
John Morgan era um homem religioso, um grande estudioso da Bíblia. Nos últimos dias, algumas palavras do Evangelho não saíam de sua mente - um trecho em que Jesus dizia que no fim dos tempos haveria fome, pestes e terremotos em muitos lugares. O surgimento da praga parecia confirmar essa profecia. Sentado em sua poltrona, ele sentia uma tensão diferente em seu corpo, numa intensidade maior do que tudo o que sentira antes em sua vida. E podia perceber que não era o único. Todos ali tinham uma sensação semelhante.
O avião agora estava sobrevoando Estocolmo, quando o piloto transmitiu uma notícia inquietante: as autoridades tinham decidido que todos os aeroportos da Europa seriam fechados. Eles poderiam pousar para reabastecer. Depois deveriam seguir para algum país da América ou da Ásia, onde seriam acolhidos. Isso significava começar uma nova vida, ainda que temporariamente, segundo acreditavam, num lugar desconhecido, longe dos familiares, com os quais talvez fosse difícil mesmo se comunicar, até que a crise fosse superada e tudo voltasse à normalidade.
A passagem pelo território sueco foi rápida. Momentos depois estavam deixando o continente europeu a caminho do Canadá, onde finalmente poderiam desembarcar e seguir para os alojamentos, após os exames médicos necessários.
Algumas horas se passaram. Estavam agora sobre o Oceano Atlântico. John Morgan dormira um pouco, mas não conseguira relaxar. Estava fisicamente e mentalmente cansado. Atento ao ambiente à sua volta, podia ver como as conversas e os olhares deixavam transparecer o nervosismo de todos. Mas algo ainda mais perturbador chamou a sua atenção, algo que aparentemente ninguém mais tinha percebido: uma aeromoça passou rapidamente pelo corredor e parou, apoiando-se a uma porta. Como se tivesse recebido uma pancada em sua cabeça, Morgan notou que ela estava levemente trêmula, como se estivesse com febre, e em sua mão havia algumas manchas avermelhadas, um dos primeiros sinais da enfermidade. Ele começou a respirar lentamente, numa tentativa de acalmar os seus pensamentos, mas o medo já o tinha dominado. Ele sabia o que aquilo significava. O que ele ainda não sabia era que quase todos ali estavam vivendo os seus últimos dias.