Adoro o Inverno ...

Nasci e cresci até aos 3 anos, numa aldeia onde a neve era visita frequente durante o Inverno... Eram Invernos muito rigorosos... Ela, a neve, vinha acompanhada, de um frio de morrer, parecia cortar os nossos agasalhos e enregelar nosso corpo, só a lareira nos conseguia fazer sentir quentinhos. Não dava vontade nenhuma de sair de ao pé da lareira, a vontade era mesmo ali ficar , até ficar com "chouriças" nas pernas de tanto calor da lenha a queimar, e só ficarem cinzas quentes, que continuavam, por largo tempo a aquecer a casa e quem quisesse. Para me ir deitar, a minha avó aquecia água no pote de ferro na lareira, para encher o saco para aquecer nossa cama, pois eu dormia com ela e estarmos com os pés quentinhos...

Mas, a água, quando a precisávamos, em casa não a havia, não que a não tivéssemos canalizada, mas porque ela congelava nos canos, e por isso era necessário, ir ao poço buscá-la, e isso, era uma tarefa bem difícil, eu era pequena, e como tal, só minha avó o ia fazer, sobre o jugo do frio cortante, e a neve que caia sem parar... Quando, já tinha o cântaro cheio, vinha a tremer para casa, de tão enregelada se sentir, quase nem conseguia abrir suas mãos lindas de tão geladas estarem, por puxarem o balde da água do poço...Andei na escola da minha terra, até à 2ª classe, como se dizia na altura, e quando nevava, a escola fechava, e eu ficava triste, por causa da impossibilidade de fazer uma série de coisas, que todas as crianças gostam, quando pequenas, como estar com as amiguinhas, jogar à macaca, à apanhada, ou então como muitas vezes aconteceu, ir para uma fonte com poço, chamada de Fonte do Concelho, brincar, apanhando pequenos girinos, ou tomando banho... Belos tempos, saudades do que era inocente e felicidade. De ver o mundo com as cores do arco íris ...

É lindo, ver tudo branquinho... Há anos que não vejo isso, e sinto saudades, da emoção que sentia. Hoje, choveu bastante, faz imenso frio, as temperaturas desceram bastante, e por isso, o granizo, fez sua aparição. E foi tanto, que conseguiu cobrir telhados, e os parapeitos da minhas janelas, embora logo depois derretesse, bem, isso fez-me sentir-me outra vez criança, recordei quando de mão dada, com a minha amada avó, passeava por cima da neve com uns soquinhos que ela me comprou na altura, e a fazia bolinhas de neve para lhe atirar ...Fui tão feliz, na minha infância com minha família paterna, na minha terra natal... Minha avó Alda, fazia-me feliz, e dava-me a felicidade de todo o seu CORAÇÃO... Com ela, nunca estive triste, por incrivel ou impossivel que seja, pois ela era uma LUZ na minha vida e iluminou-a enquanto comigo esteve... Hoje, noutro plano, continua a iluminar-me, pois eu sinto isso ... Isso é AMOR, é doação ... Hoje, sou feliz, de outra maneira, vou conquistando a felicidade diariamente. Agora, vou só de vez em quando, há minha terra natal Trevões, pois a vida, muda...Vivo na cidade de Vila Nova de Gaia, onde a última vez que nevou foi há 5 anos,também neste mês de Fevereiro, mas foi uma neve singela, nem deu para tocar, sentir... Os flocos eram tão leves e transparentes, que se viam e logo se deixavam de ver ...Confesso-vos que sinto falta da neve, porque me traz recordações e emoções, que por vezes me matam as saudades e me dão força para seguir em frente ... Inverno é, frio, cobertores, luvas, café quente, chocolate quente, bolos acabados de sair do forno, gorros, pantufas, filme na TV com pipocas, um sofá velhinho, uma manta e um bom livro, chuva a bater nas vidraças das janelas, vento uivando, trazendo com ele aromas que mudam estados de espirito, cachecol, lenços, jogos, monopólio, trivial pursuit, cartas, e a aconchegante lareira, com os troncos de pinheiro a queimar, deixando o aroma de pinho no ar, tiram-se fotografias para recordar, e mesmo que a neve não apareça, ou não seja muita, ela está sempre presente... Na minha memoria, no meu Coração ...

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 14/02/2016
Reeditado em 14/02/2016
Código do texto: T5543526
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