A Casa
A casa quase morreu.... Durante muito tempo ficou inanimada, desabitada, sem vida... estava mesmo doente... parecia que este seria o seu fim...
No seu apogeu, muitas vidas por ali circularam... Risos, choros, encontros e reencontros ela presenciou...
Seus cômodos eram lotados de atividade, de correria, de cochichos e risadas estridentes.
As tábuas gastas do chão tudo suportavam, resignadas e resistentes...
Suas paredes com a tinta gasta pelo tempo, observavam os seres crescendo, dançando e pendurando quadros...
As janelas e portas não se importavam em serem fechadas à noite, pois sabiam que seriam reabertas novamente quando o sol voltasse a nascer...
Sempre haveria um novo dia, um recomeço, uma esperança renovada, um novo suspiro de vida...
Mas, pouco a pouco, as pessoas que ali moravam começaram a partir para outros mundos, a procurarem novas aventuras e novas emoções...
A casa mortificada nada podia fazer e ficava a observar suas partidas...
Cada vez mais quieta e taciturna, um dia ela viu seus donos fecharem malas, venderem os móveis, apagarem as luzes e partirem.
A princípio, a casa não quis acreditar... esperneou, chorou, implorou para que voltassem. Mas, na escuridão que lhe foi imposta, finalmente se resignou e fechou-se quieta, escura, fria e vazia.
Até que num dia alegre de Carnaval, ela viu suas portas e janelas serem reabertas, as aranhas colocadas para correr, o pó varrido para longe...
E a vida voltou à casa... as pessoas vieram, e sorriram, e brincaram e viveram...
E a casa finalmente voltou a viver em seu eterno esplendor.