Psicose
Quando cheguei em casa, vi Elisa sentada no sofá. Tinha o rosto banhado de lágrimas. Soluçava calada, olhando como sempre para o nada. Tinha as pernas juntas, os ombros estreitados e as mãozinhas juntas entre as coxas, encolhida, como se tivesse frio. Seu semblante era de intensa amargura e dor. Pela primeira vez senti pena daquela pobre criatura. Estava bem arrumada, com um lindo vestidinho cor de rosa e um belo par de sapatinhos pretos. O cabelo estava bem penteado e preso com um lacinho da mesma cor do vestido. Estava linda, como eu jamais havia visto.
Dona Andrelina desceu as escadas trazendo duas mochilas. "Vou levá-la", ela disse. "É melhor que ela fique comigo. Em minha casa ela estará bem, terá tudo de que necessita. Você não terá que se preocupar com nada".
"Está certo. Eu não teria condições de cuidar dela mesmo. Não tenho sequer condições de cuidar de mim mesmo".
Elisa olhou para mim. Começou a chorar desesperadamente. Sua avó tomou-a nos braços. Ela repousou a cabecinha no seu pescoço. Dona Andrelina já se encaminhava para a porta, com as mochilas na mão. Elisa então pediu que sua avó a pusesse no chão. Para minha surpresa, ela correu até mim e se agarrou à minha cintura. Chorando, ela disse: "eu te amo, papai".
Fiquei congelado ali, com aquela menina agarrada à minha cintura. Todo meu corpo tremia. Abaixei-me e abracei minha filha, como jamais fizera antes. Chorei, como jamais fizera antes. Beijei seu rosto, passei a mão em seus cabelos. Não consegui dizer uma palavra sequer. Depois deixei que ela fosse com sua avó. Elas entraram no carro e partiram.
Meu corpo desabou sobre o sofá. Permaneci ali, deitado, como morto, por horas. A solidão daquela casa se tornou opressiva, assustadora. Minha vista começou a escurecer, comecei a me sentir tonto, como se estivesse prestes a desmaiar. Comecei novamente a ouvir aquelas vozes horripilantes, como se sussurrassem diretamente em meus ouvidos. Comecei a sentir dificuldade para respirar. Fui tomado de um terrível desespero. Ouvia vozes estranhas balbuciando frases sem sentido. Eu precisava matar. Eu precisava morrer...
Corri, cambaleando e tropeçando, até a cozinha. Segurei em minhas mãos uma faca. Olhei para a lâmina, que refletia o meu rosto apavorado e desfigurado. Estive prestes a cravá-la em meu próprio peito. Tudo voltou à minha mente. Toda a minha vida passou diante dos meus olhos. Vi o rosto de minha Lucrécia, seus belos olhos azuis, seus lábios rosados, seus cabelos loiros. Toda aquela cena terrível voltou à minha mente, a aglomeração de pessoas, o automóvel destruído, a fumaça, o corpo de Lucrécia coberto de sangue... Depois ela apareceu diante de mim, branca, fantasmagórica. Ela parecia me chamar do mundo dos mortos.
Soltei um grito desesperado. Levantei a cabeça, gritei: "eu não vou fazer isso!" Olhei para o lado e André estava ali, junto a mim, em minha cozinha. Ele me disse que aquela era a única maneira de fugir de todo o sofrimento desta vida. Eu precisava morrer... Tudo estava girando ao meu redor, deixando-me tonto. Joguei a faca para longe de mim e corri em direção à porta, gritando desesperado.
Quando abri a porta, Doutor Castro estava ali, com outros homens vestidos com roupas brancas. Eles me seguraram e me puseram em um carro grande. Fui levado para o hospital psiquiátrico novamente.