Ajoelhou, tem que rezar (IV)
Conto - Série: Ditados populares
Após beber muito a tarde toda, por ciúme e desilusão com a própria vida, Quinzinho resolveu perturbar a todos que cruzassem à sua frente, uma vez que sua vida já estava também confusa e amarrada.
Assim, saiu pela cidade com a língua afiada e toda uma valentia a mostra. Por isso levou pés de ouvido, ouviu chacotas e foi vaiado. Na praça foi expulso e empurrado, pois já perturbara demais.
Até que resolveu acompanhar alguns jovens animados e alegres. Eles até lhe cumprimentaram, o que lhe incentivou a mexer com eles e assim, nem bem abriu a boca para zoar com aquela turma, puxando briga, eles entraram por uma estranha porta..
Quinzinho nem percebeu o que era ali, mas entrou também. Afinal ele ainda não dera o seu recado àqueles atrevidos e felizes jovens.
E cambaleante e valente, ele também entrou pela mesma porta.
Lá dentro, alguns dos fiéis lhe convidaram a sentar num dos bancos da pequenina igreja, onde todos cantavam felizes.
O estranho ambiente mantinha seus pés pesados, não o deixavam sair daquele lugar.
De repente uma paz invadiu sua alma. Ao longe um pastor pregava algo ininteligível, ao seu estado normal, como o do verdadeiro encontro com alguém que Quinzinho não sabia quem era.
Contudo, inexplicavelmnete, ele ouviu uma forte voz interior que lhe dizia em bom tom:
- Ajoelhou, Quinzinho? Agora tem de rezar.
Ele nem percebera, mas ele já se encontrava de joelhos, com lágrimas nos olhos, sóbrio e com um imenso desejo de ser uma nova criatura.