911-UM VETERANO DE MONTE CASTELO-História

UM VETERANO DE MONTE CASTELO

Sentado em sua sala de estar, as mãos segurando com carinho o elegante quepe com a insígnia do Exército Brasileiro, trajando um paletó azul-marinho em cujo lado esquerdo estão as condecorações obtidas pelo destaque e bravura no campo de batalha, o Major Antenor Silveira Guedes recorda e narra ao interlocutor, os momentos mais dramáticos da sua carreira militar, que foi também a de milhares soldados brasileiros — carinhosamente chamados de pracinhas — na campanha da Itália, no cenário da Segunda Guerra Mundial.

A memória é boa e aos noventa e três anos lembra-se com detalhes da tomada de Monte castelo, operação em que tomou parte, setenta anos atrás, ainda como soldado raso aos vinte e três anos.

Da narrativa repleta de pormenores, podem-se registrar os momentos mais dramáticos da operação que teve inicio em 24 de novembro de 1944, com uma ofensiva eficaz que resultou na chegada ao topo do Monte Castelo, de soldados brasileiros e americanos.

Entretanto, Monte Castelo era um ponto assaz estratégico e os alemães não desistiram com facilidade, voltando a ocupá-lo em seguida.

Em 29 de novembro e 12 de dezembro, novos assaltos foram efetuados, não conseguindo os aliados êxito nas sortidas. De meados de dezembro de 1944 até a segunda quinzena de fevereiro do ano seguinte, tantos brasileiros quanto alemães foram forçados a uma trégua pelo inverno rigorosíssimo.

O frio ainda era intenso e a neve começava a derreter, quando uma operação decisiva foi iniciada em 20 de fevereiro. Forças combinadas da infantaria e artilharia do exército brasileiro e forças americanas iniciaram a operação.

Os pracinhas iniciaram o ataque às seis da manhã. O combate durou todo o dia: os pracinhas avançaram com dificuldade, ganhando palmo a palmo no terreno enlameado pela neve que já derretia.

Os atacantes brasileiros eram o alvo das metralhadoras instaladas no topo do monte, que pareciam inexpugnáveis. Muito heroísmo, muita ação destemida e muitas perdas para os brasileiros.

Toda aquela tenacidade dos colegas vem à mente do pracinha Antenor da Silveira Guedes. E às 17h50min conseguiram finalmente ocupar definitivamente o topo do Monte Castelo, onde ergueram as bandeiras brasileira e americana.

—Passamos a manhã do dia seguinte, 22, recolhendo cadáveres dos soldados mortos em combate. Muitos, muitos pracinhas. Nós tínhamos o cuidado especial ao lidar com os corpos dos soldados alemães, que escondiam minas e armadilhas mortais. Os nazistas diziam que “um soldado alemão, ainda que morto, ainda pode matar um inimigo”. Colocavam minas nos corpos que explodiam quando tocados.

Faz uma pausa na narrativa, emocionado com as lembranças trágicas da frente de guerra. E finaliza:

— Outras batalhas ocorreram, como a tomada de diversos montes e outeiros estratégicos, todas com êxito para os pracinhas, pois os alemães estavam perdendo o alento para a luta.

<><><>

Setenta anos depois.

O ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira, Major Antenor Silveira Guedes, ao longo da sua vida dedicada ao exército, recebeu muitas honras e condecorações. É, como lemos acima, um homem de muita coragem e de muitas lembranças históricas.

Foi convidado pelo governo brasileiro, a participar de um evento em homenagem aos soldados brasileiros que estiveram na Europa na Segunda Guerra Mundial.

Recusou a homenagem! E esclarece:

— Fui convidado a receber uma medalha pelas mãos da presidente Dilma em comemoração aos 70 anos do fim da guerra. É claro que não vou.

— Lutei pela liberdade de meu país e do mundo. Hoje, penso: será que foi em vão? Lutei pro Brasil virar esta grande merda? Um país infectado pelo lulo-comunismo! Valeu a pena?

— Não vou porque não gosto de bandidos. O PT é isso, um partido de vagabundos. O Lula é o chefe do mensalão. A Dilma foi terrorista e metralhava pessoas.

Mostrando toda sua revolta e asco com a situação atual do Brasil, disse:

— Já não tenho idade pra ter papas na língua. Estou de saco cheio de ver meu país infestado por marginais, bandidos, homossexuais, travestis, comunistas e ambientalistas. Esse monte de vagabundos recebe bolsa família, bolsa isso, bolsa aquilo.

Ora, trabalhar ninguém quer, não é?

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 31 de julho de 2015

Conto # 911 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

contato: argobbo@yahoo.com.br

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 26/01/2016
Reeditado em 26/01/2016
Código do texto: T5524117
Classificação de conteúdo: seguro