A INESQUECÍVEL "LEBERWURST".







A INESQUECÍVEL "LEBERWURST"
CRÔNICA ROMANCEADA.
AUTOR : - SMELLO = Alberto Frederico.

Ordinário marche!
Essa era a voz de comando, a tropa obedecia e seguia em frente,
muitas vezes sem destino certo, improvisado pelo comandante.
Robert não conseguia entender porque todos eram considerados
ordinários, na sua visão a figuração poderia ser interpretada como me-
diocres, fracos, grosseiros ou reles, mas ninguém reclamava, todos aceitavam e cumpriam a ordem. Quando à frente ia a bateria ou até mesmo a banda, o questionamento mouco mais se acentuava. Por que
bateria, se na verdade era constituida de diferentes tambores e algu-
mas cornetas ? A impropriedade do vocábulo sempre o inquietou, bate-
ria entendia como utensílio de cozinha. E banda ? Nunca estava fracio-
nada, inúmeros instrumentos a integravam...
Um ou outro conjunto musical, quando se ouvia a voz do comando ou sibilar do corneteiro, substituindo o repugnante ordinário, atendia, e
o surdo batia "bum",seguido de "bum-bum". Na primeira investida a tro-
pa permanecia parada e na segunda começava a marchar. Ainda aí Ro-
bert invocava a denominação do tambor, chamá-lo de surdo,se ele ou-
via e dele partia a primeira reação, pensava será que decorria de nin-
guem obedecê-lo primeiramente, desprezava o som advindo daquela pancada ?
Robert desfrutava de privilegiada posição na tropa,ia logo à frente,
após a bateria ou a banda, por ser o mais novo oficial conduzia a ban-
deira nacional - "porta-bandeira",honroso lugar que todo oficial se van-
gloriava de estar.Efêmero é verdade,bastava chegar outro oficial mais moço o anterior era preterido. Ele fazia aquilo tudo na caserna,às ve- zes hilariante, outras humilhado e quando não cansativo. Sua cabeça,
entretanto, só coordenava um pensamento conclusão do dia para ver
sua querida Margarida.O amor suplantava tudo,corria ao seu encontro, e ela o recebia perfumada com fragrância de colônia silvestre,própria de menina de pouco mais de 15 anos. Os olhos verdes, contrastáveis com os cabelos loiros,denotavam, desde logo,sua origem germânica.
A família de Margarida,muito unida, semblante sério, impunha res-
peito com a simples participação de conversa entre seus membros. Robert adora permanecer em sua casa, tinha alguma dificuldade em se fazer entender, o mesmo ocorria em sentido contrário.Alcançar o que
eles diziam tornava-se enigmático, ainda assim se sentia confortado só em estar presente. O pai, a mãe, a avó, a bisavó e dois irmãos me-
nores constituiam a ascendência e consangüinos de Margarida. As figu-
ras marcantes, inegavelmente, estavam na avó e bisavó, que eram lin-
das e gentis. Margarida vertia para lingua portuguesa o que as ances-
trais diziam a Robert e o inverso, em alemão o que ele transmitia. Tor-
navam-se momentos líricos. As partes procuravam as expressões mais
eruditas para marcar a presença do idioma de origem.Nas refeições Ro-
bert também se embaraçava, procurava ser amável, manifestava agra-
do com as iguarias servidas,mas nem sempre deglutia.O que mais apre-
eram a LEBERWURST e a METEWURST com pão peto; o famoso prato de repolho, chucrut, ele delicadamente deixava de comer. Tornara-se um aficionado da linguiça de figado de pato, irresistível nos momentos da refeição. Aquele prato permaneceu na lembrança de Robert durante
muitos e muitos anos. Quando já distante de Margarida ocorria, virtual-
mente, acontecer apreciá-lo, ligava o fato à figura de sua amada.
Esguia, elegante, na presença de Robert sua figura cintilava. Os
olhares das pessoas que a avistavam brilhavam, verdadeira diva desfi-
lando soberana. O entusiasmo do acompanhante não deixava extrava-
sar o que corria em suas veias, instantes de orgulho e elevado senti-
mento de amor. Margarida com seus lábio brejeiros,sibilantes,sem que dele se ouvissem simples murmurios,ensejavam arrepios aos que apre-
ciavam apenas no olhar. Robert a respeitava e poucas vezes sentiu o
calor irradiante do contorno de sua boca. O mel não tinha o agradável
sabor transmitido pelos lábios de Margarida. Viveram momentos felizes e trocavam sempre juras de amor.O mar,como toda imensidão,não po-
deria comparar-se com o infinito carinho que mutuamente dispensavam aquele par, um ao outro. Viviam o esplendor da mocidade
e uma profunda afeição.
Todas essas inebriantes relações e a beleza de Margarida, que guardava calma e serenidade, mas nem por isso deixava de chamar atenção e despertar cobiça de outros adolescentes, causava ciúme em
Robert. Ela impassível levava na conta parcelada de paixão,sem nunca
ter pensado o que poderia acontecer. Ele não fazia restrições à forma de conduta de sua apaixonada, nem ao menos forçava manter uma ati-
tude mais austera,especialmente porque seu comportamento era exem-
plar para a idade de 15 anos.
Até que uma colega e amiga de Margarida,despeitada pelo amor rei
nante, insistentemente telefonava a Robert, em geral quando ele podia
estar na casa de seus país, às 12,30 horas, e lhe dizia ser pouco confiável sua amada,ela teria outro amor,visto por todos na localidade
onde morava. Branca azucrinava a cabeça de Robert, que desprepara-
do, graças à sua mocidade não distinguia a maledicência; impensada-
mente, resolveu causar um desentendimento passageiro, enamorando-
se de outra à vista de Margarida, com o objetivo de despertar nela o
mesmo ciúmes que passou a sentir.
Três dias se passaram sem vê-la, nem a "leberwurst" por ele tão a-
preciada conseguira demovê-lo daquela atitude inusitada.Caira como um inseto numa teia de aranha e dela não sairia mais.Abandonara a lin-
da Margarida,sem ao menos lhe dar uma satisfação a sí e sua adorável
família.Desmoronava-se o castelo que orgulhosamente erguera,afastou
a paixão que sempre tivera por ela.
A TEIA DE ARANHA.
Tudo se transformara,não havia mais aquele sentimento de carinho
e harmonia, a troca de palavras com a nova eleita andava sempre em
redor da pecúnia., quais seriam as possibilidades de ganho, porque uma
disnatia era mais rica que a outra,como fazer para igualá-la ou seperar.
A prosa, em companhia de um irmão, tornava-se envolvente, até certo
ponto misteriosa,sem sentimento, histórias lembravam seus antepassa-
dos e as origens de seu povo.Como tudo aquilo nascera de uma conti-
gência, Robert não se apercebera do revestimento que se sujeitara e o envolvera. O tempo foi passando, cada vez mais atrelado à garra da
visionária aranha, pronta para devorar sua presa. Os elogios pérfidos,
mascaravam a percepção de Robert, o acalentavam, traduziam em simulácros sentimentais,só lhe chamavam de "meu filho",como traduzin-
do ser um amor afetuoso, igualando à condição de filho. Mas as brigas
se perpetravam entre todos, por qualquer motivo, principalmente quan-
do estava em jogo o lado financeiro. Robert não entendia o idioma que
falavam, nem eles se importavam em traduzir,ao contrário,assim se ex-
pressavam para que não entendesse, e pior não estava acostumado a
esse tipo de acobardar comportamento. Achava que tal procedimento
vinha dos povos árabes, logo se acostumaria ou os circunstantes reve-
riam suas posições em razão da presença dele.A iguaria servida em de-
masia, intimidava quem estivesse à mesa, não podia ser rejeitada, sob
pena de ser tida como ofensa. A insistência assustava Robert.
A quase totalidade dos membros da família gostava de qualquer ti-
po de jogo de aposta, isso conflitava o jovem estranho. Para sorte de
Robert a cortejada abominava, assim sob esse aspecto sua posição es-
tava resguardada. Até que num belo dia a situação confluiu para o lu-
gar comum. E´que a título de brincadeira e forçando um comportamen-
to de economia, os namorados pactuaram amealhar os "níqueis" sobra-
dos nas suas carteiras em um pequeno cofre, talvez mesmo para mar-
car a posição do rapaz estranho ao meio ou a ser usado na oportunida-de de um compromisso mais sério. Nesse dia Robert juntara várias noe-
das e solicitou que sua nova amada trouxesse o "cofrinho" para nele depositá-las. O ato se constituiu em uma grande decepção, ela sem o
menor constrangimento lhe disse: arrombei. Como e por que ? Ela ime-
diatamente respondeu: "Meu irmão queria jogar na corrida de cavalos e
não tinha dinheiro", eu dei tudo que estava no cofrinho, para satisfazê-
lo.
Robert que não esteva acostumado a fazer apostas e respeitar os
compromissos que assumia,ficou desapontado,desconhecia ser simples
vício. Foi a primeira oportunidade para romper o relacionamento e vol-
tar à sua Margarida. Não o fez, continuou preso à "teia da aranha", sem ao menos receber um convencimento e promessa que aquele com-
portamento jamais se repetiria...
A fidelidade no amor, porém, não podia ser conterstada, ela se por-
tava de modo irrepreensível, isso alentava o mancebo, tornava-a digna
de admiração. Contudo, mantinha o mesmo procedimento e atitude de seus ancestrais, por qualquer motivo envolvia-se em briga e discórdia.
Incontinente, quando Robert assistia essas desavenças voltava a lem-
brar-se da inovidável Margarida.
Os dois faziam um par desarmonioso, chegava ao extremo de em plena rua ou num passeio se separar, seguindo cada um para rumo di-
ferente, o que chamava a atenção das pessoas em trânsito. Não era zelo amoroso que provocava insensada atitude, surgia sem qualquer explicação ou motivo.
O choque que causava a Robert naqueles momentos só conseguia amenizar quando vinha à memória Margarida e a saborosa "leberwurst"
servida em sua casa. Trocara as posições, abandonara a magnanimida-
de familiar pela novel e desastrosa coexistência.
Robert continuava no Exército, convocado como 2º Tenente e ape-
às 4ªs feiras desfrutava de tempo livre e no 2º expediente, quando aproveitava para ir as tradicionais casas alemães no Rio de Janeiro, bar
Luiz e Westfalia, deleita-se da apetitosa "leberwurst com pão preto e 1
chope gelado, aí esquecia todos os conflitos, voltava à sua mente lem-
branças dos inesquecíveis momentos que tivera ao lado de Margarida.
Ah! a guerra, alterara totalmente os rumos da vida de Robert. Fora obrigado a interromper o 2º ano do complementar de engenharia no Colégio Andrews, em Botafogo. Passados alguns meses recebeu a ordem de transferência, ele e todos oficiais subalternos, tenentes e capitães, para outras unidades do Exército, a fim de aprimorar em dois
meses condições de ser incorporado à Força Expedicionário, alojada na
Itália, junto ao 5º Exército aliado. Coube a Robert ser deslocado para
Caçapava, São Paulo.
O exército brasileiro sofrera quatro graves reveses,por incompetên-
cia de um general, levando o Comandante Americano do 4º Exército,
general Mac Clark, a substituí-lo incontinenti. Morreram nesse aconte-
cimento muitos "pracinhas",inclusive quatro colegas e amigos de Robert.A tropa além de abatida,fatigada por enfrentar o rigoroso inver-
no na Europa, precisava de revezamento com um novo contingente.
Robert deveria se apresentar à unidade a que fora transferido no dia 12 de fevereiro, isso precepitou sua planificação de formal com-
promisso com a nova namorada. Tal circunstância levou-lhe a ficar noi-
vo dia 9 daquele mês. Esquecera por momentos sua doce e querida Margarida, atônito diante dos surpreendentes acontecimentos.
O destino reservara, de forma melancólica, a separação definitiva.
Perdera para sempre sua estimada, carinhosa e predileta amada.Olvida-
ra até a apetitosa "leberwurst", que tanto apreciva...
Mas a guerra terminra meses depois e Robert aqui permaneceu. não seguiu para o teatro de operações,não teve porém condições de retro-
agir ao passo que antes tomara.Com isso houve uma calmaria em sua rotina diária e uma estranha sensação de tranquilidade, que já não sentia desde o início do intempestivo rompimento com Margarida. Pela primeira vez não houve desavença provocada por sua nova namorada. Robert notava, porém, que ela jamais demonstrou ciúmes de Margarida,
era como se essa não existisse ou pudesse ter influência no amor dos dois. Mantinha-se segura de sí.
O QUINQUIDIO QUE NÃO RETROAGIRIA MAIS...
O tempo foi passando, sem modificação de procedimento, e a desar-
monia permanecia entre o casal de nubentes. Robert procurava contor-
nar situações extremadas com exemplos de carinhos e afetos, que não
repercutiam, relevava rusgas e atitudes impensadas, iludia-se que con-
seguiria transformá-la. Debitava à sua origem e a pouca idade, Parale-lamente pensava, Margarida muito mais moça , guardava sobriedade e
contesia, mantinha sensatez, transmitia amor e afeição, tudo isso fa-
zia com que fosse sempre lembrada.
Robert retornara aos estudos,já não havia mais o curso compleme-
mentar de engenharia,recomeçava no 3º ano Científico,embora as ma-
térias fossem em grande parte de seu conhecimento, as dificuldades o-
casionais advinham do gênio incompreensível de sua noiva, que achava
melhor a dedicação a um trabalho ou atividade empresarial. Ele com 19
anos não dispunha de emprego certo, ministrava aulas de matemática,
graças aos conhecimentos adquiridos quando estudara para a Escola Naval e depois no complementar de engenharia. Morava com seus pais,
daí as despesas serem insignificantes, cobertas pelas aulas particulares
que dava.
Todas essas instabilidades não impediam que forçassem eventual
casamento, faziam crer que no decorrer do tempo tudo se acomodaria mais facilmente, do que permanecendo soletiro. Parecia inverossímil e
paradoxal aquela proposta tão inopinada.
Os acontecimentos foram se precipitando,não pelo comportamento
dos noivos; Robert guardava absoluto respeito, sem ousadias de sua masculinidade e ela discreta em sua sexualidade, observava sisudez nesse particular.
Enfim casaram, Robert com 20 anos e ela com 17. Robert não esquecera as palavras de sua mãe: - meu filho não chegou a aprovei-
tar a mocidade! Ela uniu-se em matrimônio imaculada, donzela, sem a
menor experiência no ato sexual, justa é essa proclamação, por mais que as más linguas assim não pensassem, face ao conhecimentos prá-
tico no empirismo, jamais poderiam suspeitar ou levantar dúvidas nes-
se sentido.
Robert parecia estar completamente perturbado com a posição adotada e ninguém melhor que ele sabia que aquilo apenas era o começo do dilúvio, inflava-se a crescia ao seu redor. Apesar do vaticí-
nio, providenciou uma lua-de-mel capaz de ficar marcada na consciên-
cia sentimental de sua mulher. Não foram para o "Quitandinha" porque esse hotel-cassino estava ainda por inaugurar,mas ficaram próximo. In-
cidentes ocorreram, viu dentro do trem que conduzia os passageiros, eles se prepararem afoitamente para o desembarque,enquanto ele per-
manecia trânquilo com mulher, bagagem e um "pudim" inoportuno que lhe fora entregue ao deixar a recepção. Justificável a correria dos pas-
sageiros do trem, estava-se ainda em pleno racionamento de combus-
tivel decorrente da guerra e poucos eram os taxis na estação de desembarque. O casal ficou sozinho na gare, sem que houvesse uma viva alma de solidariedade; até que distante apareceu um veículo de aluguel, Robert correu para o meio da rua sinalizando. Parando o velho
motorista lhe informou que não tinha combustível suficiente afim de le-
vá-lo ao destino que escolheram, alertando a ambos, vamos parar no
meio do caminho. Acertara, a "pane-seca" ocorreu. A escuridão ame-
drontava, o idoso condutor placidamente procurou tranquilizar os jo-
vens passageiros, dizendo-lhes: - agora vamos esperar que passe um veículo para nos socorrer!
Foi o bastante,a recem casada em altos brados dizia:"Hoje mesmo,
quando chegar ao hotel, vou telefonar ao meu irmão ou papai para vi-
rem me buscar,você não deveria trazer-me aqui.Robert respondeu cal-
mamente, você é uma moça casada, seu pai ou seu irmão não interfe-
rem em nada mais. O velho chofer interferiu dizendo-lhe:-Menina man-
tenha a serenidade, eu tenho neta mais velha que você... Passado al-
gum tempo apareceu uma caminhonete do Quitandinha e o prestativo motorista solicitou auxílio,recusado a princípio,depois anuido,ressalvan-
do, porém que não poderia deixá-los à porta do hotel, o casal ficaria na
rampa de acesso. O pior estava por vir, o "russo" caindo, o frio intenso e a ladeira ingreme ficava distante da porta do hotel. Robert deixou to-
da a bagagem no início da subida, conseguiu após alguns minutos chegar a entrada, que estava totalmente fechada, ninguem para atendê-los.Primeiro bateu na porta parcimoniosamente depois,notando
que não ouviam, apelou para pancadas mais enérgicas,só faltando der-
rubá-la, ao ponto de alguns hospedes acordarem. Enquanto isso ocor-
ria, escutava palavras pouco afáveis de sua mulher, que não parava de
dizer horrores. Ah! Margarida, porque lhe submetera a tudo aquilo, é o
que pensava, não reagira quando Robert a desprezá-la.
A lua-de-mel não transcorreu trânquila.Muito antes de viajarem Ro-
bert advertira a noiva que na cidade serrana fazia muito frio,comprara
até um pijama de lã, mas ela não se preocupara e, para dormir,usara o
vestuário que levara, enquanto ele teve que se acomodar com um ca-
co e calça comum...
Após alguns dias decidiram ir ao centro da cidade e almoçarem por
lá. Grande era o número de restaurantes alemães, escolheram um e acomodaram-se. Robert correu os olhos no cardápio, observou e pediu
como entrada "leberwurst" e pão preto. Ela, curiosa, indagou o por que da escolha e o que seria servido? Robert lhe disse ser uma espécie
de patê de figado de ganso, o que a fez recusar, imediatamente. Escolheu "carre" de porco com batatas cosidas.Saboreou normalmente,
sem restrições. Mas, o que gostara mesmo foram as tortas, provou três qualidades. Não houve qualquer dissenção, inacreditável, Robert
creditava aquele procedimento a interferência devotada de Margarida.
Robert conseguiu ser funcionário público estadual e resolveu estu-
dar a noite, o que lhe não trouxe muito sossego, além de limitar o tempo disponível para atualizar os estudos,tinha de suportar as perse- guições da mulher ao voltar tarde das aulas.
Tiveram dois filhos, um primogênito e quize meses depois uma en-
cantadora menina. A mãe, seguindo a linha de seus antepassados se dedicava mais ao filho,todas atenções voltadas para ele,que desfruta-
va de privilegiada situação. Ambos dispunham de tudo que as crianças da épora possuiam.
Robert conjeturava, será que se fossem filhos de Margarida teriam
comportamentos ambiciosos ou seguiriam as origens de seus ances-
trais:dóceis, delicados, afaveis e carinhosos.
O casal, apesar das dissensões contínuas, conseguira alcançar as
"bodas de prata". Robert com seu temperamento romântico e concilia-
dor providenciou a celebração de uma missa comemorativa,convidando
amigos e parentes que se encontravam em Brasília.Seguiu-se a um jan-
tar no mais festejado restaurante da capital. Não houve contrapartida
da sua mulher, cumpriu o protocolo com o semblante fechado, nem a joia que lhe prsenteara amenizou a sisudez.
Aperfeiçoando o posicionamento...
Robert vendo ser impossível lapidar o temperamento de sua mulher,
que se mantinha próxima à sua família, a afastou dos parentes e quan-
do possível a levava às viagens que, por força do desempenho da fun-ção exercida, estava obrigado a fazer.
Primeiro percorreram todo os País, do Amazonas ao Rio Grande do
Sul, mais tarde foram ao exterior, Uruguai e Argentina. Um fato pitores-
co ocorreu, ela ficou encantada pelo Piauí, propôs a Robert mudarem para Teresina, naquela época muito humilde, desprovida de atrativos e
recursos,encontrados em outras capitais.Lá conquistara amizades com
a mulher do Governador, a irmã do Bispo, a escrivã do Cartório dos Fei-
tos da Fazenda, a Chefe dos Correios e um idosa senhora, mulher de um latifundiário,turbador de terras da União,que Robert estava deman-
dando em juizo pela turbação.
Anos mais tarde foram ao Canadá (Otawa, Montreal e Quebec), Es-
tados Unidos (Washington, Nova York, Harisburg-Pensilvânia, Atlanta,
Charlotte, Carolina do Sul, Miame e por fim a Disney).
Manteve um comportamento exemplar, sem causar animosidade e
excelente apresentação perante as autoridades visitadas.
Dois anos depois, Robert programou, mercê de um concurso ganho de uma companhia aérea, uma excursão à Europa, que durou 21 dias, conheceram Porto, Lisboa (na ida e na volta), Roma, Zurique, Bruxelas,
Londres, Paris, Florença, Pádua, Veneza (maravilhosa), Madri, Lago do
Colmo, Lucena, Luxemburgo, Bordeaux e voltaram à Lisboa (onde per-
maneceram mais seis dias). Roupas femininas foram adquiridas em Bru-
xela e perfumes na Cidade Luz. Foram a mais de dez casas noturnas, inclusive em Paris nas principais. Passaram dias felizes, sem dissensões.
Robert completou esse ciclo marcando pelo telefone com o Vigário da Igreja N.S. do Libano a celebração das Bodas de Ouro. Ela, como sucedeu por ocasião das bodas de prata,não queria nenhuma comemo-
ração, daí o sigilo feito.
Quatro dias antes seguiram para o Rio de Janeiro, de avião, e se hospedaram no Othon Hotel, na Av.Atlântica, em Copacabana. Outras
iniciativas Robert teria de proceder em segredo: gravar na primitiva ali-
ança timbre dos 50 anos de casamento, adquirir brinco de platina e bri-
lhantes para obsequiá-la e encomendar cinquenta rosas brancas e uma
vermelha para presenteá-la quando fossem à missa.
Não foi fácil, primeiro lhe induzir do perigo de andar com joias em Copacabana, depois sair só do hotel! Dissimulou pretexto de praticar corrida no calçadão da praia, trajando roupas esportivas e tênis. Ela permaneceu na sacada do apartamento vendo o rumo que Robert to-
mava. Ele quando viu que sua visão não lhe alcançava mais,entrou nu-
ma rua transversal e tomou o caminho que o levaria a uma joalheria e
floricultura, para desincubir-se da missão planejada.
A missa sem suntuosidade, presenciada por apenas oito parentes, dois motoristas e mais dez "habitues", constitui-se numa excepcional
surpresa,além da feérica iluminação,totalmente ornamentada de flores,
um quarteto de música e uma soprano, iniciativas do padre, que cele-
brou dentro dos dogmas mais rigoros da doutrina cristã,elevara os sen-
timentos das bodas e conjugês.Ela não sabia que as três irmães de Ro-
bert e uma prima estariam presentes, nem tão pouco seu único irmão
vivo e compadre, bem assim a sobrinha afilhada. Como nas bodas de prata, não houve outra comemoração, almoçaram na marina de Bota-
fogo em companhia do motorista.
Tudo aquilo seria uma premeditação que Robert tivera ou designio
de um casamento frustado, cheio de contraversias, resultante do avil-
tamento imposto a Margarida? Os cinco anos seguintes foram de sofri-
mento e dor, ela adoece, incurável e nos últimos quatro anos presa a
um leito de hospital. Robert incansável permaneceu ao seu lado, solidá-
rio ao padecimento de sua mulher, até o momento da expiração.
O tempo não para, passa sem que o ser humano tenha reflexão, aconteceu o mesmo comportamento com Robert, não mais lembrava de Margarida, até que um dia um sonho terrível abala seu sono, advem
a imágem dela sofrendo grave acidente quando corria ao seu encontro.
Eram passados exatamente cinco anos do falecimento de sua mulher, procura reagir e voltar a normalidade, por que tudo aquilo acontecia passados sessenta e um ano que renunciara o amor de Margarida, não mais a vira,nem sabia o destino que tomara após o impensado rom-
pimento.
Robert faz tudo para localizá-la, preocupado inclusive com o desfe-
cho do sonho, recruta amigos de outrora e autoridades do lugar em que ela morava, em vão, nada convergia a uma informação convincen-
te, até que o carteiro da localidade informa-lhe o nome da última rua de sua antiga residência, a telefônica dá um número que acredita ser nas proximidades, liga um gentil morador atende e diz, conheço muito e sei onde Margarida mora, ela está viuva há seis anos e está muito abalada acaba de perder seu filho mais velho, vou com minha mulher à
casa dela, satisfazendo seu desejo.
No mesmo dia recebe um telefonema de Margarida,conta em pran-
tos a morte do filho de 56 anos, que se deu no dia que Robert tivera o sonho e tinha seu nome.
Robert não se aquieta enquanto não consegue ir vê-la. Até que consegue ir ao seu encontro, Margarida está com 78 anos e tem mais
dois filhos, formados, recomenda que estejam em sua casa para rece-
ber Robert.
O encontro não foi motivo de jubilo,em razão do recente falecimen-
to do filho e irmão mais velho, apenas se constituiu em entrelaçamen-
to de amizade, algumas surpresas e admiração pelo pertinaz esforço de Robert em ver Margarida. Ela não esquece a antiga preferência de
Robert, serve o leberwurst com pão preto, não o chope, seria impróprio
naquele momento de dor, e sim guaraná. O filho caçula com 52 anos, senhor de sí, comedido e amável, diz a Robert : sentimos felizes com a
sua presença, conforta mamãe e faz resplandecer momentos por ela vividos há anos. Venha nos visitar sempre que puder e telefone para mamãe quando quizer.
Robert fixara um pensamento, jurando para sí mesmo, não a
perderei mais, lutaria visando reconquitar o seu amor, sabia, contudo, da dificuldade que enfrentaria: fazê-la esquecer o abandono que impuzera, descortês e numa demonstração de falta de afeição.
Margarida, preservando sua conduta, jamais perguntou a Robert porque a deixara, muito menos sobre sua falecida mulher. A princípio afastou a hipótese de uma maior aproximação.A sucessão dos dias dei-
xava Robert apreensivo de conseguir seu intento, denotava até uma
indiferênça, quando falava com ela ao telefone. Começaram a trocar correspondências, um e outro, nelas relatavam vicissitudes passadas, sem tocar nos conjuges falecidos, apenas falavam dos filhos, como fo-
ram criados e as posições assumidas depois de adultos.
Ele temia que sua idade e também a dela, três anos mais moça, pu-desse influênciar num desfecho negativo; procurou equilibrar seu com-
plexo orgânico e coordenar idéias e sentimentos, achava que com isso
conseguiria alçar o sonhado objetivo.
Até que numa carta Margarida cedeu seu obstinado pensamento, despede-se de Robert enviando-lhe um beijo. Retribuindo ele extravas-
sa a alegria que sentira, aproveita para uma declaração mais positiva
de amor, amplia a postura informando-lhe que pediria o consentimento dos seus dois filhos e irmãos o estreitamento da amizade.Casariam bre-
ve, surpreendendo há muitos.
Abreviaria o trauma de sessenta e três anos, de pesarosa memória,
relegaria a um plano secundário quantos anos poderiam viver juntos,re-
viveriam as juras de amor outrora trocadas. A afeição profunda que li-
gava um ao outro, a paixão que ia n'alma, dilataria o convívio, sem se
confundir com a eternidade, resgatariam os momentos perdidos.
Robert de forma comedita em face da idade, retornava a deleitar-se da INESQUECÍVEL LEBERWURST, ou mesmo do metewurst, acompa-
nhado de pão preto e guaraná, substituindo o Chope gelado.

ENFIM A UNIÃO.

Finalmente chegou o dia do casamento, tão relegado, celebrado na igreja matriz do local em que residia Margarida. A solenidade fora simples, repleta de curiosos, desejosos de assistirem o enlace do casal
de avançada idade. Apenas parentes mais próximos de Margarida e Ro-
bert e alguns amigos. Os netos é que demonstravam maiores expres-
sões de carinho e sentimento, talvez admirados, nunca assistiram um enlace como o presente, havia uma atmosfera de conquista e prazer no semblante dos nubentes.
No pregão sacerdotal, o ministro de Deus louvou a conduta moral do casal,que guardaram os sentimentos de amor e carinho durante tan
tos anos e alí estavam para serem abençoados. Entendia-se, que am- bos, cada um de per sí, lembraram os cônjuges do primeiro casamen-
to, cofessaram após a cerimônia aos parentes e amigos.
Margarida, ainda que simples, trajava vestido verde claro sombrea-
do de prata, realçando sua figura elegante e altiva. Robert preferiu um
blusão cinza claro,fechado quase até o pescoço,com gola estreita,ca-
misa palha, sem gravata, calça mais escura.
No saguão da igreja foi servido um champanhe acompanhado de
pátisserie. O casal se despediu de todos os presentes e rumou em di-
reção a praia de Búzios.
Os dias em Búzios transcorriam tranqüilos e impregnados de paixão, relembraram os momentos da mocidade, quando viviam sonhos
venturosos. Evitaram reminiscência, viveram de ternuras, amores e ca-
rinhos. A fragância no aposento suave, marcava o instante de afeto que sempre existiu em cada um. Às refeições lembraram as dificuldades
que Robert sentia quando se defrontava com os estranhos pratos ser-
vidos pela mãe de Margarida. Riram muito, porque Robert nunca deixou
de deglutí-los, nem as bebidas renunciava sorvê-las. Robert então vol-
tou a lembrar da INESQUECÍVEL LEBERWURST, tanto de seu agrado.
As águas serenas do mar, bem cedo, evitando o sol , devido a tez
alva de Margarida, deleitava o casal, revigorava suas forças ao banha-
rem-se nas ondas marinhas, há muito tempo não sentidas. A imensidão
do azul fascinava, a plenitude do horizonte dava a certeza de liberda-
de. Os olhos de cada um presenciavam a estonteante beleza da natu-
reza, comentavam a pródiga imensidão, fazendo crecer os momentos de felicidades, ruborizavam o sangue de seus corpos.
Tudo aquilo prenunciava, a despeito das idades, vidas longas,capa-
zes de, em outras ocasiões, voltarem a sentir os mesmos sentimentos.
Tornaram-se alvos de admiração, aos observadores resplandeciam
como conseguiram esperar sessenta e três anos para deixarem alvore-
cer toda aquela amizade e amor.
A dádiva daquela aliança nunca poderia findar, subsistiria a eterni-
dade. O vaticínio do celembrante matrimonial ocorrera, viveram longos
anos juntos, guardando o mesmo carinho e amor. Não deixariam herdei-
ros, mas inextinguíveis sucessores,face aos exemplos que deram às fu-
turas gerações. 

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smello
Enviado por smello em 04/07/2007
Reeditado em 27/11/2009
Código do texto: T552260
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