O OLHAR SOB A GAIOLA

Uma gaiola, um pássaro e um canto triste. Era assim que eu via aquele caná-rio na gaiola. Um prisioneiro, e de acordo com seu “dono”, tinha todo o direito de cometer essa atrocidade com aquele canário de canto melancólico e extre-mamente afinado. Odiava qualquer tipo de maltrato a animais.

Todos os dias, ao voltar da escola eu via esse terrível espetáculo. Certa vez quando parava para olhar aquele martirizado animal, uma senhora disse:

— Oh! O bichinho ta cantando tão lindo, eu acho eles tão bonitinhos na gaiola!

— Onde a senhora ta vendo beleza? Ele ta preso! Perguntei irritado.

Ela deu de ombros e foi-se embora. Só com o tempo vim entender que essa coisa das mulheres tem, serve pra homens também.

Muitos já me chamavam de Biólogo. Principalmente meus colegas de clas-se. Tudo isso porque ao fazer uma redação, nela escrevi, que a inspiração para criar o desenho animado Pokémon, tinha origem em rinhas de besouros lá no Japão. Desde esse dia parei de assistir. Como eles não estenderam, todos inventaram apelidos, mas o que pegou foi Biólogo mesmo.

Mas mesmo assim, nunca me esquecia do canário. Nem tinha como desviar de rua, querendo ou não passaria por lá. Minha casa era a última da viela. Do portão da casa daquele homem que o prendia, já podia ver sua prisão. Uma enorme gaiola, toda ornada. Ele cantava por liberdade.

Certo dia, não aguentei mais. Quando ninguém mais passava na rua, e no rol não se via mais o dono do canário, eu pulei o portão. Fiz tudo rápido e si-lenciosamente. O portão em relação à casa, ficava uns bons metros. Subi nu-ma cadeira que tava lá de bobeira, eu olhei, era realmente belo, mas não ali. Ele me ajudou, não dando um pio, levei-o lá pra fora. Quando abrir minhas mãos, ele ajeitou as asas e voo pra liberdade.

Depois comecei a correr e sorrir também havia libertado-o! O homem ao ver a gaiola vazia, começou a xingar e a bufar. Já me encontrava perto de casa, e ninguém tinha me visto fazer aquilo.

Naquela época ainda muito cedo pra eu perceber, mas esse foi meu primei-ro ato eco-terrorista.

Caliel Alves
Enviado por Caliel Alves em 25/01/2016
Código do texto: T5522336
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