Suicídio
- Este é um pequeno conto que fiz apenas com o intuito de treinar um pouco minha escrita. Sou bem amador e essa é a primeira história que já terminei. Quero voltar a este quando conseguir melhorar e criar uma história maior e com um significado maior que talvez possa ajudar pessoas que também já passaram por algo parecido.
Os minutos veem e vão. As horas passam. 00:00, 01:00, 03:00, 07:00, 12:00, 18:00, 23:59...
Os dias se passam e nada nunca muda. No meu quarto, apenas o som do ventilador. No lado de fora, a aflição do dia a dia. Nada nunca muda.
Acordo, levanto, como, deito, durmo... O choro invade cada atividade, e nada nunca muda.
O barulho me enfurece e o silencio me enlouquece. As noites são longas e os dias demorados, o relógio é lento e as horas demoram mais e mais a se passarem. Me olho no espelho e sempre me deparo com olhos sem vida e um rosto com expressão de solidão.
Minha energia se esvai no momento em que acordo e reaparece no momento em que tento adormecer... Em meus raros sonhos, uma vida diferente: Dinheiro, carros, mulheres, amigos e você vivo... Em meus recorrentes pesadelos, o medo da vida, do futuro e temores passados. Me recordo sempre daquela noite... Quando acordo nada nunca muda, e não sei dizer o que é pior.
As vezes ando sem rumo pela casa e círculo meu pequeno quarto em busca de algo que nunca encontro.
Os dias continuam passando e a cada um, percebo menos minha relevância. Seja para o mundo, seja para alguém ou até mesmo pra mim mesmo. Meus momentos de alegria são inexistentes. Meu celular parou de tocar, parou de vibrar e perdeu sua importância. Comida não é mais a mesma e tem sempre o mesmo gosto. Tristeza e solidão me corroem, e as vezes falo sozinho para não esquecer o som da minha voz. Meus pensamentos são inquietos e ao mesmo tempo silenciosos. Livros não significam mais nada, séries são monótonas e filmes são esquecíveis. O mundo continua girando mas nada nunca muda.
As dores de cabeça me lembram que eu ainda estou vivo e que nada ainda é diferente. O sentimento de solidão continua a ganhar força a cada dia. Não me lembro mais de quanto tempo se passou dês do meu último sorriso... Um, dois, três anos. Talvez décadas tenham se passado e eu não saberia dizer a diferença. Tudo continua igual e nada nunca muda.
Não tenho objetivos, meus sonhos acabaram sem nem ao menos começar.
“Por que estou aqui?”, “Por que não desisti?”, “Por que ainda tenho esperanças?”
Pergunto a mim mesmo e não recebo nenhuma resposta.
As vezes olho para aquela arma e não sei o porquê ainda a tenho. A arma usada para sua morte... Me pergunto se um tiro desta mesma arma faria com que eu pudesse velo novamente. A seguro contra minha cabeça, e tudo muda...
Estou em um parque de diversão. O lugar está cheio, crianças com seus pais, adolescentes com seus amigos e namoradas, adultos com suas esposas e filhos... Sentado em um banco ao lado do carrossel, eu o vejo. Me aproximo e ele me dá um sorriso.
“É bom te ver, velho amigo” ele me diz, se levantando. Meus olhos começam a encher de lágrimas e eu o abraço. Sinto um leve peteleco em minha cabeça.
“O que pensa que está fazendo? Não é sua hora ainda porra!”
Estou ainda soluçando, quando pergunto o que está acontecendo.
“Não importa, apenas venha comigo!”
Seguimos até a roda-gigante e furando a enorme fila, ele conversou com o cara que deixou que a gente entrasse, sem bilhete, dinheiro ou nada.
A roda-gigante tinha cerca de 50 metros e as cabines eram coloridas com desenhos de pequenos anjinhos.
“Você se lembra de quando eu fui expulso da escola por causa daquela ‘brincadeirinha’ que fizemos com o garoto que te batia todos os dias na hora do recreio?”
Respondi que sim com um certo receio. Me lembro que o garoto ficou paraplégico depois disso.
“Ele virou jogar de basquete! Acredita nisso? Vice-campeão das paraolimpíadas!”
Em primeiro lance acho que ele está brincando, mas vejo em seu olhar que diz a verdade.
“Lembro que tomei a maior surra da minha vida dos meus pais depois disso, acho que até hoje eles não me perdoam por isso. O pior que não é nem por ter feito o cara paraplégico, e sim por ter feito eles pagarem todo o tratamento!”
Não é verdade, eu o digo. Os pais dele sentiram muito depois de seu falecimento e sei que isso amoleceu o coração dos dois.
“Há! Nada como uma boa morte para amolecer o coração de alguém, não é verdade?”
Minhas lágrimas começam a cair novamente quando o ouço falar sobre sua morte, mas vejo seu sorriso e isso faz me acalmar.
“Não é tão ruim, sabe? A morte que eu digo... Bem, na verdade a morte é uma pessoa bem desagradável, ofereci um jogo de xadrez e ela não deu nem um sorrisinho! Mas o caminho que se segue depois que ela te toca, é impressionante. Não quero dizer muito para não estragar a surpresa, mas fique atento pra música que estiver tocando na sua cabeça, porque se for highway to hell pode ser um problema!”
Me pergunto o que ele quer dizer pois, já estou morto e não me lembro da morte e nem de caminho nenhum. Muito menos música...
“Ah mas você não está morto!”
O que? Como? Eu me lembro de ter colocado a arma na cabeça e...
“Você ainda está no seu quarto e com a arma apontada na cabeça” ele afirma.
A roda-gigante então para e nós descemos.
“Vem, vamos na montanha russa agora!”
Quando chegamos na montanha russa, eu começo a ter um pouco de receio de entrar. Nunca fui fã dessas coisas, adrenalina sempre me deixava mais com raiva do que qualquer coisa.
“Vamos, confie em mim” ele disse, e eu entrei. O carrinho tinha o formato de uma larva, mas não uma larva nojenta. Era como se fosse uma larva da Disney, fofinha e com um sorriso no rosto.
A montanha russa começou a andar e percebi que só tinha nós dois ali. O que era estranho, pois a fila do brinquedo era enorme.
“Preste bastante atenção quando entramos no túnel”
Achei estranho o que ele disse porque eu não conseguia avistar nenhum túnel, a montanha russa era a céu aberto... Ou ao menos era o que parecia. Quando continuamos andando, um túnel apareceu na linha da montanha russa e tinha uma placa com o nome ‘Nova Zelândia’ junto com um mapa do país desenhado. Dentro do túnel pude ver vários desenhos de montanhas e vulcões inativos, vi alguns animais peludos com bico e perna de pássaros, ‘kiwis’ eu pensei, embora nunca tinha visto um. Vi algumas canoas em um rio sendo remado por indígenas com várias tatuagens. Vi também o desenho do um anel de senhor dos anéis. Nova Zelândia é um dos países em que mais sonho visitar dês de criança, e de repente reparo que estou com um sorriso no rosto. Quando saímos do túnel, chegamos ao fim do brinquedo.
“Viu? Falei que ia gostar!”
Estou com um sorriso genuíno, coisa que não acontece em muitos anos e o agradeço por isso.
“Agora vamos voltar para o carrossel. Pode parecer um pouco piegas mas ainda é meu favorito...”
Eu não achava graça no carrossel, talvez fosse um brinquedo incrível a 50 anos atrás, mas agora não era nada de mais, tanto que a fila era minúscula. O que não faz diferença, já que furamos a fila mais uma vez.
No carrossel tinham vários animais e criaturas mitológicas. Dês de cachorros e cavalos até grifos e unicórnios.
Ele foi no elefante, e subi no leão que estava ao lado. A música do carrossel era incrivelmente familiar e nostálgica. Não conseguia me lembrar exatamente qual, mas tinha certeza de que era alguma canção de The Legend of Zelda.
Ele começou a abrir um longo sorriso e eu comecei a gargalhar, nunca achei que me divertiria tanto assim na minha vida, principalmente em um carrossel. Ambos começamos a rir bem alto, para que todo o parque pudesse ouvir...
Quando o brinquedo parou a música não tocava mais e dessa vez não estávamos mais no parque. Tinha voltado ao meu quarto e ele estava junto comigo. A arma estava caída no chão, ele a pegou e a entregou em minha mão. Meu corpo começou a caminhar sozinho. Fui até o lugar onde estava em primeiro lugar antes do parque. Meus braços também se mexeram sozinhos colocando a arma de volta na minha cabeça.
“A morte pode ser legal. Aquele parque é apenas um pontinho minúsculo no infinito que é o pós vida e esse deve ser o maior problema da morte, ela não tem fim. Não tem objetivos, não tem porquês, não tem vida... Velho amigo, você pode apertar esse gatilho agora e vir comigo. Iremos nos divertir pela eternidade em procura de nada, apenas nós dois... Ou você pode viver. Viajar e encontrar pessoas novas, caralho você pode até fazer pessoas novas! Você pode viajar para Nova Zelândia ou qualquer outro lugar que quiser, pode formar uma família, ter filhos e um objetivo pra sua vida, algo que nunca terei. Conheci um cara no pós vida que jura que o fim do mundo ainda acontece nesse século, então vou com certeza perder o maior evento do mundo e você pode ter a chance de velo! Não se preocupe com outras pessoas ou com o mundo. Ele ta ai, continuando e sendo sempre o mesmo até o fim. Você pode vir comigo agora e nos divertimos no infinito, ou você pode me deixar esperando e me dizer o quão alto você chegou antes de morrer. Me deixar orgulhoso e quando tudo acabar, me levar para conhecer sua futura esposa e filhos. Eu não vou te culpar por escolher morrer agora, de jeito nenhum. Mas saiba que nada me deixaria mais feliz do que ver até onde você irá, pois mesmo que eu esteja morto, não é desculpa para não realizar meus sonhos e a única maneira de fazer, é você realizando os seus... Meu tempo aqui está acabando, vou estar te esperando lá em cima velho amigo. Até lá, Adeus!”
Ele desapareceu novamente para o infinito... Minhas mãos começaram a tremer e a arma cai de minha mão. Eu desabo de joelhos no chão e o choro vem à tona. Mas dessa vez não o choro de tristeza ou solidão. Agora vem o choro de alegria, pois nada nunca mais será o mesmo e tudo mudou...