UM AMOR DE MARIAH
(Lugares de Goiânia)


 
Encheram a cara no Bar Rio, o do Helvécio, ali no Setor Universitário. Depois Ele, meio bêbado, e dois amigos, ainda mais meio bêbados, subiram a Avenida Universitária, aos trancos e barrancos com a intenção vaga de chegar em casa. No ponto de ônibus em frente à Saneago, encontraram Mariah, num estado assim meio borocochô. Então gritaram seu nome, berraram, naquela alegria boba de bêbados, fizeram festa feito fossem cachorrinhos balançando o rabo e levantando a orelha. "O que que há Mariah?" Alguém cumprimentou, percebendo seu acabrunhamento. Mariah era muito engraçada, na boca dela tudo parecia piada. Com tudo fazia trocadilhos. Dizia: "Maria como eu não há. Há alguém que queira comer algúem como eu?" ou "falo e dezfalos, só da boca para dentro". Ela deu um riso amarelo, sensaborão, mas mesmo assim fez algum chiste, do qual ninguém se lembra. Ela estava sem graça, meio constrangida, meio fora do lugar e da hora. Não era seu tempo. "Teve um dia ruim", alguém pensou. Então se despediram, pois o clima não estava para bêbados. Depois de uns 2 ou 3 bares a cambada etilizada conseguiu chegar em casa. Ele abriu a porta. Viu então o que ali furtivamente foi colocado. Havia um livro do John Fante, Pergunte ao pó, embalado com papel estampado com corações negros e com um belo arranjo de flores e ramos secos com perfume que lembrava erva-doce. Acompanhando, um bilhete aprócrifo enfeitado com perfume de patchouli. Os mimos era para Ele, então leu:

"Se você quiser, amor entre o meu mim e o seu você haverá! Pois em mim ele já há! Assas_sinada: Adivinha quem você já sabe! Se não, pergunte ao pó!".

Palavras-cruzadas. Ele achava que não sabia, mas sabia. Até tentou fingir que não sabia. Mariah era para rir juntos, não amar juntos. Abriu o livro, junto estava o puro pó de arroz. De Mariah conhecia a risada e a letra. Agora conhecia o seu amor, mesmo sem assassinatura. Depois disso, e por isso tudo, entre os dois o que podia ser amor perdeu a graça. Era muito triste o amor de Mariah... Mas belos e divertidos eram seus bilhetes de amor. Os dois fingiram um nada acontecido e continuaram se divertindo juntos.