O TESTEMUNHO DE UMA MULHER HEMORRÁGICA QUE ENCONTROU JESUS

Sua idade não foi revelada, mas ela mesma tinha bem mais idade do que realmente aparentava. Era ainda muito bonita e formosa. Seus cabelos eram longos e negros como a noite sem luar. Seus olhos cor de pistache eram expressivos e brilhavam de encantamento. Seu rosto era alegre, em nada lembrando a face amargurada, quase desfigurada, de outrora. Foi com incontida emoção que ela falou: “A puberdade para mim marcou o inicio do meu tormento de doze anos. O belo ritual das primeiras regras que deveria ser como a chegada da primavera, foi o inverno tempestuoso de minha alma. Eu ansiava como a maioria das meninas da idade, pela chegada da menstruação; nossas mães nos ensinam que esse é um dos momentos mais festivos da vida da mulher. É o desabrochar da vida que floresce para outras vidas. Para mim, porém, foi como uma tormenta que devasta um jardim.

Quando os primeiros sinais de sangue começaram a correr em linhas delgadas entre minhas coxas, minha alegria era imensa; alegria logo convertida em tristeza quando nos demos conta que o sangue não cessava. O forros não davam conta; os médicos não achavam solução. Eu empalidecia, fraca, sem vida. Fui submetida a vários tratamentos, muitos deles dolorosos, dilacerantes, constrangedores. Os charlatões se apoderavam de nossos recursos, prometendo soluções milagrosas; minha aflição aumentava. Quando o dinheiro para o tratamento acabou, meus pais quase se viram obrigados a pedir esmolas. Eu fui obrigada a exilar-me em meu quarto escuro, em meio aos lençóis manchados; minha vida se esvaia de mim em torrentes de cor carmesim. Minha alma maculada, uma nódoa no tempo. Para a sociedade eu era uma mulher, impura. Condenada, pela nossa lei, a viver excluída, semelhante aos leprosos. Não me era permitido sair nas ruas, pois poderia acontecer de eu tocar em alguém e tal pessoa se contaminasse com meu mal. Seria grave transgressão da lei. Eu era merecedora do repúdio dos homens. A Torá ratificava esse comportamento. Por essa razão eu não saía às ruas para nada. Entretanto, quando ouvir falar do Grande Profeta, senti minha alma arder em esperança; as coisas que me contavam a seu respeito, as maravilhosas curas de leprosos, aleijados; a libertação de endemoninhados e suas palavras transformadoras, não tive dúvidas. Aquele era o homem que iria tirar meu vexame, que iria me trazer a vida de volta. Exultei com a possibilidade de me tornar uma mulher normal como jamais fui. Eu só pensava em uma coisa: eu precisava tocá-lo; ou ao menos tocar em suas vestes. 'isso mesmo, somente tocar-lhe as vestes e pronto, serei curada, meu Deus eu serei curada' pensava sozinha comigo mesma.

Mas em meu entusiasmo eu não via a complexidade de poder aproximar-me de Jesus. Sempre rodeado de pessoas por todos os lado, como eu iria fazer isso? Ademais, antes de eu toca-lo, provavelmente eu iria esbarrar como outros homens na multidão. Senti medo, mas meu desejo de me ver livre daquele mal, me convenceu que valia a pena correr o risco. Então saí às ruas. Não foi difícil ver a multidão que o seguia. Me desloquei na direção que ele estava. Sentia embaixo, entre as pernas os forros encharcarem; não me importei; segui determinadamente, em frente. Eu precisava alcança-lo antes que minhas vestes se sujassem e me denunciasse. Não foi fácil abrir caminho. Não sei de onde tirei forças para prosseguir. Minha hemorragia, sempre me deixou debilitada, fraca, sem ânimo. Havia em mim uma palidez cadavérica por causa da anemia. Nada dessas coisas me faziam para naquele momento. Por vezes eu chegava tão perto, e de repente, como uma onda que irrompe do mar, eu era lançada para longe dele. Insisti. Voltava na direção em que ele caminhava. Quando só restavam mais alguns passos, estiquei a mão, mas não pude alcança-lo. Vi que sobre os ombros dos que o acompanhavam não iria ser possível, então, numa atitude quase que desesperada, agachei-me, estendi o braço até o limite, as mãos ávidas por tocar a minha cura, então, finalmente, meus dedos tocaram suas vestes. Uma invisível corrente elétrica correu meu corpo inteiro e eu estremeci. Imediatamente senti estancar-se o sangue. Nunca senti sensação melhor na vida. Porém o perigo ainda me rondava. Subitamente Jesus parou e a multidão junto com ele. Tremi de medo, pois por mais discreto que tinha sido o meu toque, em sua veste, ele o percebeu. Pensei: 'estou perdida para sempre; como tive coragem de tocar em um homem? E não em um homem qualquer, mas num homem santo!' Por outro lado, sentia-me preparada para tudo. A fé que me possuíra não me deixou perceber consequências. De que outro modo eu poderia me aproximar dele? Quando ele virou-se, perguntou a um dos seus discípulos quem o havia tocado. Eles, é claro, estranharam a pergunta, pois centenas de pessoas o tocavam o tempo inteiro. Os discípulos lhe disseram isso, mas ele retrucou: 'Mas alguém me tocou de uma forma diferente, pois senti que de mim saiu poder.' Conclui, a partir das palavras dele que eu o tocara de modo muito especial. Eu mesma provoquei meu próprio milagre através dele. Pela fé nele. Quando toquei suas vestes houve uma transferência de poder sobrenatural que fez acontecer exatamente aquilo que eu havia determinado em meu coração. Posso afirmar que foi com um misto de medo e satisfação que confessei ter sido eu quem o havia tocado daquela forma. E também o motivo e efeito do toque. ELE tranquilizou-me e disse: “ filha, não temas. A tua fé te salvou; vai-te em paz.''.

al morris
Enviado por al morris em 19/01/2016
Reeditado em 22/01/2016
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