Raymond Saint

Ele estacionou a Lamborghini em frente ao La Fiduccia [restaurante de luxo localizado em Copacabana]: Boa noite Sr Raymond! Disse o gentil frentista que sabia que dali sairia uma gorda gorjeta como ocorria todos os meses, Raymond Saint simplesmente sorriu e entregou as chaves do carro.

Imponente, Raymond cruzou o hall do La Fiduccia, corpo esbelto e esguio emoldurado por um terno de corte impecável, Demóstenes o maître, interceptou-o e conduziu-o à mesa reservada de antemão. O sommelier nem se deu ao trabalho de apresentar-lhe a carta de vinhos, pois já conhecia bem o gosto refinado do ilustre cliente: Chambertin Sr Raymond? Sim Nicodemos!

Enquanto aguardava o pedido, Raymond deslizava seu dedo adornado por um anel dourado sobre tela do I Phone de ultima geração... Com licença Sr Raymond! Interrompeu o garçom, o de sempre? Isso Agamenon, lagosta ao Thermidor, e de sobremesa aquele Crème brûlée, respondeu o misterioso homem econômico em palavras [somente em palavras], que intrigava os demais frequentadores daquele lugar seleto, destinado somente aos abastados: Seria Raymond Saint um novo rico?

Depois disso Raymond entrou no carro e cinco minutos depois chegou à luxuosa mansão onde morava, o porteiro abriu a garagem e foi logo dizendo: “E aí Raimundinho tá vindo de onde todo emperiquitado, Foi gastar o pagamento né? A propósito, tu vai me pagar quando hein? Já faz três meses!”.

Emburrado sem responder nada Raymond desceu a rampa e dirigiu-se a entrada de serviço e entrou na casa pela cozinha: “De terno, o que é isso Raimundinho virou crente?”. Debochou a cozinheira. Continuou ela: “Todo mês é isso, se produz todo pra levar o carro do chefe ao lava-jato”. Ah, vai perturbar outro Creusa! Esbravejou Raymond e entrou no seu minúsculo quarto, sentou-se em sua dura cama, despiu o terno Hugo Boss que ganhou usado do seu patrão, a cinta que servia para disfarçar a saliente barriga e descalçou os sapatos de salto alto que lhes acrescentavam oito centímetros aos seus 1,65. Também tirou o seu anel dourado comprado no camelódromo da Uruguaiana. Deu uma olhada nas correspondências e notou que todas eram faturas, exceto o comunicado do SPC Serasa, abriu a carteira e viu que restaram apenas 15,70 de sua noite cara, programou seu I Phone comprado a prazo para despertar às seis da manhã e foi dormir.

Senhoras e senhores, esse é Raymond Saint, ou melhor, Raimundo Santos, um motorista assalariado que mensalmente gasta quase todo o seu salário para viver uma utopia, como fazem milhões de outros brasileiros.

Vinho Gevrey Chambertin: 350,00.

Lagosta ao Thermidor: 197,00.

Crème brûlée: 75,00

Gorjetas: 300,00.

Viver a emoção de ser rico, não tem preço, não?

Tem coisas que não tem preço, para todas as outras, endivide-se.