NA SOLIDÃO, A DOR DO ABANDONO
...Existem coisas que eu não gostaria de ter escrito...
Mas é um relato de algo que aconteceu... Infelizmente...
NA SOLIDÃO, A DOR DO ABANDONO
Marcial Salaverry
Quando viajamos, muitas vezes tomamos conhecimento de certos casos que mais do que nunca atestam a sabedoria de nosso saudoso "maluco beleza", quando em uma de suas músicas disse que "só queria ser civilizado como os animais".
E casos como este, de que tomei conhecimento, através de um alguém que dedica seu tempo a prestar assistência a internos em asilos, nos fazem entender a que ponto chega a maldade e a ingratidão do ser humano.
É a triste história de Dona Belmira, que foi internada por seu filho em um asilo, e lá esquecida por ele, que jamais a foi visitar, deixando-a na mais triste solidão.
Como sua saúde era precária, ele se limitava a comprar os remédios de que precisava e os mandava entregar. Sequer se dava ao trabalho de os levar, para ao menos mostrar sua presença àquela pobre mãe, que tanto fizera por ele. Agora velha e doente, apenas servia para "atrapalhar sua existência". Sempre alegava "ter muito que fazer..." Como se isso justificasse tamanho descaso.
E segundo essa assistente, ela definhava mergulhada na tristeza e nas lágrimas, inconformada com tanta ingratidão, na tristeza de sua solidão.
Quando finalmente o Amigão dela se lembrou e a levou, o cidadão foi chamado para tomar providências sobre o enterro. Apenas disse, pelo telefone: "como já morreu, enterre para não feder..." Para que não fosse simplesmente enterrada como indigente, os funcionários e assistentes do asilo se cotizaram e pagaram um enterro decente, e mandaram o aviso para o infeliz, que sequer apareceu para dar um adeus para sua mãe.
Ela havia escrito umas linhas em um caderno de memórias, onde perguntava onde poderia andar seu filho, "certamente trabalha muito e não tem tempo para me visitar, coitado..." "Mas eu gostaria tanto de vê-lo, de poder mais uma vez ainda dar-lhe um abraço"... "Puxa, nem no Dia das Mães veio me ver..." "Bem... certamente ele sabe que as moças do asilo cuidam tão bem de mim, por isso não se preocupa..." "Como era gostoso quando eu o tinha no meu colo e o amamentava..." "Será que ele se esqueceu daquelas noites que passei em claro cuidando dele?" "Os dias passam... e com eles a esperança se vai...
Daqui a pouco Deus me chama, e ele não vem me ver..." "Uma outra daqui, disse que ele não virá mais, porque os filhos são uns ingratos, e se esquecem das mães quando começam a dar trabalho..." "Acho que ele não vem mesmo... Já me esqueceu, e quer que eu morra..." "Não vou mais tomar os remédios, assim morro mais depressa..." "Será que ele vai ter remorso?"
"Filho querido, cansei de te esperar..." "Agora só quero morrer mais depressa..." "Mas se é verdade que a vida continua do outro lado, vou continuar tomando conta de você..." "Se alguém ler isto, entregue para ele, para ele saber que apesar de tudo, sempre o amei... é meu filho..."
Bem... O mais triste de tudo, é saber que essa história é algo que se repete muitas vezes a cada dia. Basta visitar qualquer asilo, casa de repouso, e constatar como é sofrido o sofrimento de mães e pais, que são simplesmente abandonados por seus filhos, que jamais os vão visitar.
Muitas vezes, quando instados por alguém a faze-lo, limitam-se a dar de ombros e dizer que "aquele velho imprestável até que é muito bem cuidado..." Pode até ser que tenha um excelente atendimento profissional, mas nada substitui o carinho de um filho. Nada é melhor do que receber um abraço sincero, um gesto de carinho, para minimizar a dor do abandono. E nada justifica um abandono total e completo. Sempre haverá tempo para, pelo menos, meia hora por semana ao lado de quem lhe deu vida.
E isso é algo que não podemos esquecer, ou seja, que devemos a vida a nossos pais. É necessário considerar que a velhice requer a mesma atenção que na infância, com a mesma troca de fraldas e a necessidade de se colocar o alimento na boca. E se aquele mãe tivesse abandonado o filho quando ele era bebê, ele não estaria vivo para pagar a vida recebida com essa ingratidão. E ainda temos que nos lembrar de que lá poderemos chegar...
Não sei se o filho de Dona Belmira recebeu o caderno de sua mãe, mas penso que de nada serviria, porque depois da atitude que tomou quando de sua morte, dificilmente poderá sentir algum remorso. Parece ser empedernido demais para sentimentos tão comezinhos assim.
Lamentando que fatos assim ocorram, desejo um LINDO DIA, que possa amenizar o sofrimento de pais e mães abandonados.