As mercenárias - Parte 2
Infelizmente não pude ficar na aula até o fim, pois recebi um chamado para retornar ao FBI. Chegando lá encontro toda a equipe já na sala de reuniões, me desculpo pela demora e comento sobre a especialização. Meu chefe demonstrou não se importar e meus colegas pareceram ainda menos interessados. Imaginei que seria essa a reação deles, porém tinha o dever de me explicar. Havia acontecido um assassinado em outro estado. Foi um crime com requinte de crueldade e um detalhe interessante: o assassino fez o morto parecer uma escultura de um Deus nórdico. Viajamos imediatamente para a cidade, fui junto com um dos meus colegas para a cena do crime. Nunca havia visto algo como aquilo, era lindo apesar de ter sido feito por um amador. Notava-se que ele não tinha tanta experiência com corpos reais, talvez ele seja um escultor e pela primeira vez usou algo que não fosse argila para fazer sua arte. Enquanto o agente Morales procurava alguma pista por ali, me encaminhei para uma lanchonete nas proximidades para conversar com uma suposta testemunha. Era uma senhora de uns sessenta anos, ela trabalhava no local há uns quinze e disse nunca haver visto algo daquele tipo.
-Minha filha, quando eu saí ontem a noite não tinha nada ali e quando chego pela manhã, aquela coisa horrível foi a primeira que vi.
-Não havia ninguém por aqui nesses dois horários?
-Não! Sempre abro e fecho a lanchonete sozinha.
-Deve conhecer a maioria dos clientes.
-Sim, todos. Difícil vir alguém que não tenha visto antes. Nunca esqueço um rosto.
-Isso é ótimo. Então, viu alguém diferente nos últimos dias?
-Na verdade sim. Ontem no almoço venho um rapaz que nunca havia visto por aqui.
-Como ele é?
-Bonito. Alto de cabelos pretos até o ombro e olhos azuis. Parecia Inglês. Muito educado.
-Ele falou algo de si?
-Não muito. Estava apenas passando. Parece ter conseguido um emprego em outro estado e aproveitou para conhecer as cidades no caminho. Ele é professor. Ele não seria capaz de algo assim, parecia um rapaz de respeito.
-Tenho certeza disso. Bom, se não viu mais nada de diferente está liberada, mas pegue meu cartão, qualquer coisa que lembrar é só me ligar.
-Está bem.
“Aquela senhora foi ludibriada por um par de olhos azuis”.
Esse foi meu primeiro pensamento a respeito. Fiquei interessada em conhecer esse homem, um verdadeiro artista. Para isso não poderia deixar o FBI prendê-lo. Vou até o Morales e retornamos até a delegacia. Meu chefe logo pergunta sobre o relato da testemunha.
-Ela apenas disse não ter visto nada de estranho ou diferente ao sair ontem e quando chegou hoje foi que viu aquela atrocidade.
-Não viu ninguém diferente nos últimos dias?
-Não senhor. Ela deixou bem claro que tem ótima memória para rostos e só viu os mesmos. Estava firme nos seus argumentos, mesmo com o nervosismo por conta do ocorrido. Dispensei a mulher por conta do choque, mas deixei o cartão com ela, para ligar caso lembrasse mais alguma coisa.
-Fez muito bem agente.
Fico imaginando como alguém consegue deixar tantas pistas óbvias, vou ter de encobrir muita coisa se quero conhecer esse cara.