Iniciais da solidão

Cantando The Smiths para as estrelas, os olhos dela azuis, refletindo a lua avermelhada, refletida agora pelos meus, solitários.

Antes eu era feliz, tolo e feliz... até aparece que essas palavras estão sempre juntas. Eu sorria ao esmo, eu não te entendia, não conhecia a essência das lágrimas, não entendia o gosto por um cigarro. Ela me fez sentir o calor de uma brasa sobre o peito.

Ruas, frias como minhas mãos, escuras como nanquim, são iluminadas por uma luz azulada, seu silêncio é quebrado por um vento no litoral, a vida já se torna um pouco mais bela, morbidamente e deprimente, mas suas mãos já aquecem meu rosto.

Me pergunto o quão cedo é agora? Ela diz para que eu a siga, “tenho que te mostrar um lugar”. As portas estavam fechadas, sempre estiveram, “ainda é cedo... Vamos caminhar? ” O frio da noite atingindo meus ossos como um soco de direita no queixo, “você não está com frio?” Minha blusa roubando seu cheiro... não... eu estou bem, só preciso do seu abraço. Por entre luzes amareladas os cabelos dela pareciam faróis. Essas luzes agora se queimaram.

Eu sei, a história não acabou, sei que para ela fui só o otário para servir de aconchego, mas não posso acreditar que fui só isso... não quero acreditar. Escrevo poesias com seu nome, escuto músicas que me lembram dela, não acho que um dia ela vá ler isso, ou que saiba de quem falo nessas letras borradas num papel. Escrevo ao invés de dizer pois, sei que toda a esperança se foi.

Mas tudo chega ao fim, me pego com um cigarro na mão, um vinho pela metade e lágrimas ao chão, pois esse é o fim, lágrimas que irão secar, noites que irão amanhecer, estrelas que irão se apagar, músicas que chegarão ao fim, vidas que irão desaparecer. E ninguém dá a mínima!