Fui Machista

Fui daqueles que não respeita. Eu declarei guerra. Como faz os de direita. Era noite de sábado. Daqueles abafados. Eu dormindo de lençol. Enquanto ela, um pijama meio baby doll. Cópia fiel à dona. Surrado. Mesmo assim, fui machista. Não quis conversa. Aliás, conversa só de sexo. Nada desses papos de "como foi seu dia". Afinal de contas sou machista. E como todo bom machista, não escuto. Ela quis falar dos filhos. Da escola. Das péssimas notas. De como foi seu dia. Ela queria falar sobre o impeachment da Dilma. Do preço do tomate. A luz que não ascendia. Mas eu ? Eu fui machista. Queria janta quente. Três colheres de arroz. Uma de feijão. Mistura sem miséria. Pensava na hora do sexo. Como seria ? De quatro ou de frente, virada pra parede quente ?

Eu não imaginava o show. Ela era valente. Eu era mais forte. Onde já se viu ? Mulher minha, não tem que querer. Ou dá, ou apanha pra valer. Comprei o ferro. As panelas. Comprei o sabão em pó. O detergente. O shampoo e o sabonete. Como ela ainda podia reclamar ? E ainda por cima, não querer transar ? Nessas horas cobro caro. Centavo por centavo. Tudo o que comprei e ainda pago. À prazo. Desci o braço. De direita, o cruzado. Ela caiu no sofá. Mas ainda estava inteira. Fui machista e bati forte. As agressões rasgaram sua pele. Rasguei suas roupas. Ela ficou nua. Com a cara roxa. Cuspi na mão. E enfiei por entre suas coxas. Com força. Depois soquei tudo. Sem preservativo. Instito auto-destrutivo. Fui machista. Fiz ela engolir o choro. E meu gozo. Finalmente ela calou. E dormimos. Agarradinhos. Eu satisfeito. Ela ardendo. De amor.

No domingo ela acordou. Cedo. Eu não dei falta. As crianças obedeceram. Senti a casa em silêncio. Senti um frio na espinha. Percebi que estava sozinho. Fui machista, hoje estou perdido. Ela foi embora. Encontrou outro em seu caminho. Minha vida de machista acaba agora. Vou dar fim à toda essa história. Declarar minha derrota. Assumindo amor eterno. Deixo o cano dentro da boca. Aperto o gatilho. Pronto. Lindo fim de um machista convicto.

Dario Vasconcelos
Enviado por Dario Vasconcelos em 28/12/2015
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