Anão, não! Homem pequeno!
Alexandre nunca fez e nunca faria jus ao próprio nome. Mesmo com todas as conversas de seus pais sobre valor interior ser mais importante do que altura ele já sabia da verdade irrefutável. Seria para sempre um anão. Para sempre o pequeno grande homem de sua mãe. Aos quinze anos de idade Alexandre era de longe o menor aluno da turma. Sentava-se na frente da sala, tirava boas notas, fazia perguntas sobre história e matemática aos professores e conversava com seus colegas. Sentado à carteira ele era igual a todo o mundo e de vez em quando até melhor. O drama começava apenas quando o último sinal tocava. Para descer de sua cadeira ele precisava sempre pular para suas perninhas tocarem o chão. Ao guardar seus livro e cadernos na mochila ele muitas vezes precisava usar as duas mãos por seus dedos serem tão miúdos que cinco não eram o suficiente para segurá-los. E ao usá-la então ele se sentia como uma tartaruga ninja baixinha com um enorme casco nas costas. Era um verdadeiro saco, mas nada disso seria tão ruim se não fossem os olhares das pessoas. Os olhares e os comentários. Anão era a palavra que Alexandre mais ouvira em toda a sua vida e já chegava a odiá-la. Sabia que como a sua mãe diz a estatura não diz nada a respeito do indivíduo e nem de seu potencial, mas com tanta gente sempre repetindo isso todos os dias ele já não suportava ouvir a palavra. Já não suportava o preconceito. Sempre que diziam aquilo perto dele Alexandre gritava sua já famosa frase:
- Anão, não! Homem pequeno!
Alexandre explodia irado atrás de algo que pudesse servir de arma para arremeçar ou bater na pessoa que falasse aquilo. Sentia-se frustrado por nunca o levarem a sério. Riam e logo tomavam a arma dele facilmente. Era sempre assim. Por causa disso as pessoas ao menos pararam de falar na cara dele com frequência, mas ainda falavam demais por trás. À noite a sua insônia era sempre um drama. Já chegara a chamar a condição de maldição. Um castigo divino. Afinal, o que podia significar ser um homem pequeno? Nunca ter uma vida normal? Ser sempre o menor? Qual afinal podia ser a missão de um homem pequeno no mundo? Invejava os aleijados, os cegos, os surdos. Os deficientes limitados que ao menos ainda tinham sua dignidade. Alexandre não tinha a chance de sofrer por amor. Até mesmo esse pequeno direito tão comum foi tirado dele. Odiava o nanismo. Sim, ódio era a palavra. Queria ser normal ao menos uma vez. Por um dia. Por um segundo. Mas sabia que envelheceria e morreria daquele jeito. Um homem pequeno.
Todas as manhãs Alexandre levantava da cama, ia para o banheiro, subia em um banquinho para escovar os dentes, se arrumava e ia para a escola. Sentava-se a sua carteira, dispunha seu material à mesa, fazia as liçőes e conversava com seus amigos até o último sinal bater. Em sua casa almoçava, jogava videogame, fazia os deveres, dependendo do dia ia para o curso de inglês, mexia no celular, tomava banho e ia dormir. Fazia tudo o que havia de mais normal. Ainda assim ele não era. Só porque era um homem pequeno. Nunca estaria a altura de alguém normal, de alguém que não foi amaldiçoado. Se ele se formasse em uma faculdade já seria aplaudido como se tivesse feito algo grande. Se conseguisse se sustentar já seria história de superação. Eternamente visto como inferior por ser um homem pequeno.
Alexandre estava andando cabisbaixo olhando para frente na rua quando ouviu uma criança perguntar para sua mãe.
- Mãe, ele é um anão?
Alexandre imediatamente olhou para ela com um olhar mortal, estalou os dedos e gritou em fúria:
- Anão, não! Homem pequeno!
13/12/2015