Cinema Poconé

A calça collant que usava não era pra ir à academia e, apesar de bem colada ao corpo, não revelava mais que as formas magras e pouco atraentes das pernas e nádegas. Comia pipoca na fila, sem esperar pelo começo.

O moço passava de moto e mexia com alguém que ela não conhecia, não era com ela, era com o estranho. As amigas chegando provocaram euforia. Tinham muito mais a falar do que poderia a boca em tão poucos segundos expressar.

Embora uma vontade enorme de ter a percepção de tudo que acontecia no lugar, as novidades da escola e dos caras descolados concorriam com a notícia da colega grávida ainda não se sabe de quem.

Suas roupas coloridas não eram da última moda, as cores pareciam dizer "me vejam um pouco mais de perto e talvez veja o que não posso ver sozinha". Não se aquietou na plateia, atendeu celular explicando a mãe que não havia começado e um forte barulho interrompia a conversa e fixava a atenção das meninas no que as imagens poderiam dizer.

As roupas revelavam o que os uniformes cobriam de sem-graçasseza. Elas diziam tanto sobre o pouco de mulher que elas se reconheciam quanto o tanto de menina que a inexperiência não deixava esconder.

O filme era uma comédia, todas elas de atenção fixa na tela luminosa esperando a próxima piada. O carinha havia entrado no cinema de mãos dadas com uma garota - e ela tão menina ainda, se envergonhou por não conseguir esconder isto.

Enquanto as outras riam da comédia, a lágrima mais dolorida por ela derramada iniciava a moça na vida. Os risos se mostravam incompreensíveis e o silêncio se tornou o consolo. A lágrima borrando a maquiagem carregada, a roupa já não tinha mais o colorido e se viu sem o brio. As piadas não tinham mais graça e o filme distante da vida.

A roupa agora amarrotada espelhava o sorriso sem-graça, a falta de jeito e uma vontade de não ser vista por ninguém. Não esperem nada de mim, me esqueçam, por favor, assim dizia silenciosamente com todo seu coração.

O filme terminou e elas perguntaram preocupadas com a amiga o que foi que aconteceu, o cinema ficou silencioso aguardando a resposta e a pergunta atravessou toda uma vida.

Disse isto a um amigo, quando me perguntou por que as mulheres gostavam tanto de ganhar flores. Ela desejou que aquele olhar fosse pra ela e procurou aquele olhasse pra ela assim.

Algumas vezes achou tê-lo encontrado. Outras o perdeu contra a sua vontade e com muita dor e outros se esvaiu e se perdeu nas ruas, discussões e desilusões que a vida severamente impõe.

A mulher olhou novamente as flores e viu por um instante como se menina fosse e quis saber mais do moço o que viu de verdade em seu coração.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 18/12/2015
Reeditado em 18/12/2015
Código do texto: T5483764
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