Três estórias sobre o “eu” que desconheço

A morte do cão

Após correr, correr muito, cheguei ao quintal da casa antiga onde

vivi. Lá, sentados em frente à porta principal, meu irmãos me olhavam.

Todos tristes, pálidos e com lágrimas nos olhos. Nosso cachorrinho havia morrido. Agora que morro, percebo com clareza que naquele dia quem morreu não foi o cão, fomos nós. Palavras não ditas devem ser esquecidas.

Anti-didática

Percebo a vida como uma estranha mistura de contingência e inutilidade. E, afinal, o que pode ser a vida senão uma leve percepção? A vida não nos dá tempo para nos conhecermos. Quando começamos a aprender, acabamos.

Ouçam! É música!

Sentir-me leve, livrar-me desse ser gorduroso e sujo que sou. Ser um bailarino: ter graça e arte em cada gesto. Ser poeta: escalar o edifício das formas e dos símbolos para ver que ele é uma ilusão. Ser músico: botar abaixo a infame estrutura da realidade dos triviais.

(Novembro de 2005)