Enfim, morri...
Lá pelas tantas da madrugada, finalmente, o meu corpo pelo IML foi
liberado, segundo laudo: morri lascado pela diarreia... aguda... sabe?Confesso que não esperava por este fim, confesso que, cagado
também não é uma forma muito honrosa de partir.
Então, no necrotério, deram-me um último banho, pentearam-me o
cabelo, apararam-me as barbas, as unhas, e até colocaram-me um
terno. Sim! Um terno foi o que fez me notar surpreso que, bem
cuidado eu ficava até bonito... porém, já era tarde, meu cadáver já
estava prestes a sumir, e nada mais, nunca mais poderia fazer
qualquer coisa; sem um algodão no nariz!?
Que ironia! Justo eu, falastrão que ainda ontem vivia... agora
quietinho, pude notar que pelo meu silêncio poderia ser um gênio.
Ah! Se antes eu soubesse em deixar a mansidão destes meus olhos, fechados, falarem por mim. Aqui valeria um discurso!
Quando, no chegar deste velório, pude, e infelizmente percebi: o quão inútil e ridículo foi o dedicar de todo meu tempo, somente em reparar quantas pessoas esperavam por mim... qual foi, apenas uma... uma... uma única velha, dona da pensão que fiquei hospedado nos meus últimos dias, qual sempre fui cortês, para minha surpresa; sozinha e para um funcionário do velório esbravejou:
- Hum, dormindo até o Diabo é belo! * E continuou. * Vamos logo com isso rapaz, já reconheci o presunto, tenho mais é que trabalhar, pois este aí! (apontando para o meu cadáver) Se quer pagará pela semana.
...
Ri! Quando finalmente chegou mais gente, logo quando o velório
estava tão "quente", perto do fim, ansioso pensei: "O que de bom falarão de mim?" ... Uma decepção!... Foi apenas ouvir alguns comentarem; sobre a final da copa do mundo, a cerveja, o sexo, a política do trabalho, e os benefícios do limão siciliano. Sem palavras! Ao entrar na sala um padre bêbado, encerrando, apagou as velas, fechou o meu caixão dizendo:
- Vá com Deus meu filho!
...
E, aqui estou (eu) a esperá-lo...