Flores

Ele vendia flores na esquina, todo dia, pouca variação de roupa. Ninguém sabia o seu nome. O jovem, de aparentemente quarenta anos, vendia flores ali naquele ponto há dez primaveras. As flores eram sua vida.

Mas ele vendia flores com um sorriso fantástico. E era isso, sem sombra de dúvidas, sua maior ferramenta. Ele citava alguns filósofos, recitava poesias. Parece que tinha uma sensibilidade para confortar, ainda com que poucas palavras, as pessoas que por ali passavam.

É verdade que os mais experimentados conseguiam captar uma alma triste por trás daquelas vestes risonhas. Vestes de carne.

Talvez uma alma que decidiu, apesar de suas dores, levar algo de bom aos que chegassem até ele. Apesar de tudo a sua vida teria um sentido. Faria o bem e saberia ouvir, saberia levar um pouco, e não importava que apenas um pouco, era o limite de suas forças, mas não abaixo delas. Extrairia sorrisos, um por dia que fosse. As suas palavras, ah eram sementes regadas de amor. Como não dariam frutos um dia?

Com o dinheiro das flores que eram plantadas no jardim de sua casa, o rapaz comia um sanduíche. Tomava um refrigerante. E assim ia tocando a vida, as pessoas se acostumaram com ele.

Até que um dia não mais apareceu para vender flores. Sentiam falta dos seus gracejos respeitosos. Lembrava com certo espanto de seu conhecimento e sobre sua sabedoria. Mas ninguém sabia onde ele morava. Ninguém sabia o seu nome.

Enfim, naquela esquina, agora, de alguma forma ele recebia flores. Flores com um beijo, flores que eram depositadas ali depois de uma lembrança sua, algumas vezes com lágrimas nos olhos de que lhe ofertava as flores.

Não importava qual o seu nome, se já teve um título, nada dessas coisas aparentemente importantes tinham sentido ali. Ele era agora apenas alguém que recebia flores.

Do projeto: Conto de minha alma para sua.