As Gabrielas

Um dia eu ainda vou namorar uma Gabriela, sabe? Nem que seja por minutos. As Gabrielas são diferentes das outras mulheres, entende? São libertárias, altruístas, alegres, otimistas, fogosas de alma e corpo, principalmente de corpo. Nunca conheci uma Gabi (sonho em chamar uma Gabriela assim!), mas tenho a impressão de que elas são mais que mulheres: são entidades, misteriosas, andejantes, inconvenientementes convenientes, invenais, eu preciso de uma Gabriela, e não posso morrer sem desfrutá-la.

Meu desejo é tamanho que ando atendo pelas ruas observando os rostos das mulheres querendo decifrar se alguma tem feição de Gabriela, pois como sou tímido, não ouso perguntar o nome de nenhuma, e só estou escrevendo estas palavras aqui porque se trata de um diário pessoal, jamais alguém descobrirá meu intento.

Essa noite eu sonhei com uma Gabriela: menina faceira, branca, olhos castanhos, cabelo liso, magra, do jeito que gosto, linda, mas faltava alguma coisa...

No sonho eu a rejeitei porque não era igual a Gabriela que desejo, sabe? É que não é só o nome, tem que ter o espírito de Gabriela, entende? É óbvio que não, como um diário entenderia minhas pulsões e paixões desnorteadas.

A Gabriela que quero tem que ter os traços físicos acima, mas algo mais, algo que faltou na Gabi do meu sonho. Tem que ter aquele ar de mistério, abismático, indecifrável, profundo, compreende? É justamente essa traço que as Gabrielas têm que a minha Gabriela tem que ter, ao contrário namoraria uma Janaína, uma Suzana, uma Patricia, uma Valéria, mas não é a mesma coisa, lógico que não é (!), as Gabrielas tem algo mais. Têm alguma coisa erótica no sorriso da cintura, na visão da boca, no paladar dos olhos, no olfato da pele...mulher de verdade tem cheiro de Gabriela.

Desde meus 14 anos desejo namorar uma Gabriela. Na minha escola tinha uma menina que era Gabriela. Quando eu passava perto dela toda a minha puberdade fazia um alarido de escola de samba, percorria meu corpo na velocidade da luz, me sacudia todo, como uma possessão espiritual.

Após passar o ano todo observando aquela Gabriela, em seu final ia revelar que a desejava. Foi quando um colega, justamente nesse dia, me contou que havia passado uma noite com aquela Gabriela, uma noite inteira, após um aniversário de amigos em comum. Imagine minha decepção: ele a possuiu e ela deixou de ser minha Gabriela, pois, para a minha Gabriela, eu tenho que ser o primeiro.

Diante da perca daquela Gabriela do colégio, eu apelei: ante aquela notícia seclusiva, eu me tornei o melhor amigo daquele que a possuíra, pois, por incrível que pareça, ele havia ficado com o cheiro da Gabriela no corpo, eu eu ficava por perto, respirando o cheiro dela nele: o resto do cheiro do corpo dela, da boca dela, do olhar dela, das coxas dela, das entranhas...o olhar dele exalava Gabriela, e isso me excitava. Isso foi o mais próximo que consegui me aproximar de uma Gabriela.

De lá pra cá, já se foram 10 anos, e hoje, com 27, ainda continuo em busca de uma Gabriela, e não vou desistir. Já possui umas Marias, Beatrizes, Carmens, Lúcias, Virginias, e outras, por isso estou aqui, mas o que sempre quis é uma Gabriela, sei que vou conseguir.

Amanhã pela manhã sairei às ruas novamente observando a feição das moças, das meninas, das jovens, será mais um dia em busca da minha Gabi.

Lui Jota
Enviado por Lui Jota em 09/12/2015
Reeditado em 10/12/2015
Código do texto: T5475314
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