O caderno do velho — 2º
Eu nasci quando todos os meninos da minha época já haviam nascido. Eu nasci com quase dez meses. E com esse tempo todo de espera a mãe quase que fica louca. Não sabia o que fazer e só pensava no pior. Problema ou morte.
Foi parar no hospital, claro, mas nem lá conseguiu calma. Enquanto eu não fui concebido a mãe não deixou de chorar. Uma parte das lágrimas era de dor, por certo, mas ela me disse que a grande maioria era pela tensão e o medo. E só depois que eu chorei, bem alto, por sinal, e mexi todo o corpo foi que ela conseguiu dizer algo coerente. E disse: Graças a Deus. O que, na verdade, não é coerente para todos os povos. Mas a mãe era cristã e isto explica.
Pois bem, eu nasci nesse dia truculento para a mãe. No dia dois do mês quatro de cinquenta e dois. Um dia ímpar, apesar de par. E bom, pelo menos para mim, que fui presenteado com muitos sorrisos e muitas feições alegres. Claro, tudo isso foi a mãe quem me disse. Porque eu só sabia chorar e de nada me lembro.