Um Turista em Copacabana

 

Grudado no encosto da poltrona com o cinto ainda afivelado, viu o oceano aproximar-se como se fosse a morte. Mas, em poucos segundos, a pista aparece e sente-se extremamente aliviado. Assim, Francisco chegou na cidade maravilhosa, para participar de um curso com a duração de três dias. Há mais de dois anos, após ter deixado a roça, era sua primeira oportunidade na empresa.

No segundo dia, já ambientado a rotina, que consistia basicamente no deslocamento do hotel ao local do curso para assistir às aulas. A noite, ao deitar-se, finalmente conseguiu dormir tranqüilamente, pois, a atenção e a preocupação ficaram para trás. Acordou atrasado e vestiu-se rapidamente para assistir a última aula.

Pela tarde, finalmente poderia conhecer à praia. Lugar que almejava apreciar intensamente. Mesmo com seus 28 anos, morando na longínqua e pequena São Gonçalo do Rio Abaixo, nunca tivera o prazer de conhecê-la.

A aula transcorria conforme programação, mas a ansiedade de Francisco tornava a manhã longa demais. Até que, finalmente o instrutor propôs uma dinâmica de grupo para o tão esperado encerramento. A timidez que acompanhara Francisco nesses três dias sumiu subitamente ao se prontificar para ser o primeiro a desenvolver as atividades propostas pelo coordenador do curso.

No decorrer da dinâmica, percebe que algo estava escorregando por baixo da calça próximo ao tornozelo. Sacode discretamente a perna e, eis que, surge uma cueca. Surpreso, reconhece a cueca. Era aquela comprada especialmente para a viagem. Imediatamente pisa com os dois pés sobre a peça, observa o ambiente e num movimento rápido, pega a cueca e coloca-a no bolso. Por alguns instantes, ficou pensando como a cueca foi parar na calça daquela forma, até lembrar que na noite anterior, ao despir-se, tirou a calça com a cueca ao mesmo tempo. E, na manhã seguinte, na pressa, vestiu a mesma calça sem perceber a presença da outra peça. Lembrou da sugestão do amigo Pedro, da pensão, que usasse cuecas enquanto estivesse em viagem, pois dizia que aquele calção samba canção, o qual, costumava usar, não seria muito adequado para a ocasião.

Francisco começou a odiar a tal peça. Considerava-a justa e incomoda, principalmente com aquele corte mais ousado que lhe apertava as “partes” em alguns movimentos. De forma alguma se comparava ao bom e velho samba canção que estava acostumado. Ainda bem que à tarde, depois do curso, voltaria a usá-lo.

Após o constrangedor episódio, e encerramento do curso, retornou ao hotel e se preparou para conhecer copacabana. Após almoçar, iniciou os preparativos para a praia. Primeiro, para proteger o “branco” do sol, passou protetor solar, vestiu uma camiseta Janis Joplin, meias três quartos branca com duas listras no tornozelo e, finalmente, o tênis Rainha. Todos comprados especialmente para a ocasião. E, è claro, o confortável e folgado samba canção que estava acostumado.

Passeando pelo calçamento da orla, ficou impressionado com o mar e com os edifícios. Parou em frente ao Capacabana Palace para admirá-lo. Lamentou não possuir uma câmara fotográfica para registrar aquele momento tão sublime.

Ficou encantado com o comportamento das pessoas que por ali circulavam. Os surfistas procuravam a melhor onda, as crianças brincavam na areia, outros tomavam sol, alguns andavam de bicicleta ou, simplesmente caminhavam pela orla, entre tantas outras atividades que aconteciam por ali. Francisco então resolveu ambientar-se e criou coragem para pisar na areia que aquela imensidão sem fim, trazia.

A sensação foi tão agradável que resolveu ficar descalço. À medida que se sentia mais à vontade no novo ambiente, adentrava um pouco mais no mar, molhando-se dos pés aos joelhos. A agradável sensação da água salgada fez com que ousasse um pouco mais, tirou a camiseta, colocando-a junto ao tênis na parte mais alta da faixa de areia e, jogou-se ao mar. Essa, com certeza foi a melhor experiência da sua vida. Era impossível descrever tamanha sensação e emoção. Permaneceu naquela água por horas e horas...Somente saiu quando percebeu que havia se afastado dos seus pertences, a ponto de perdê-los de vista.

Caminhando distraidamente, curtia a areia quente deslizar entre os dedos, quando de repente, olhares e mais olhares lhe eram dirigidos, porém para um único lugar e logo percebeu que o calção molhado deixava transparecer suas partes intimas.

Ao olharem para aquela parte que se alongava até quase a altura do joelho, incrédulos, os homens o invejavam, já as mulheres, não menos incrédulas, o desejavam, e as mais assanhadas, sonhavam, fantasiavam...“Aquilo”, era realmente desproporcional. O segredo para aquela “magnitude” talvez fosse o fato de ter sido criado solto no folgado calção. Dimensão um tanto constrangedora para os curiosos olhares, mas natural para feliz proprietário.

Francisco não resistiu e, como que estivesse falando para toda a praia, gritou:

- Vão dizer que quando vocês ficam muito tempo na água “o de ocês” também não encolhe?

Indignado, vestiu sua Janis Joplin e dirigiu-se para calçadão rumo ao hotel.