O OLHO DO DONO
Conto de:
Flávio Cavalcante
 
     "O que engorda o porco é o olho do dono". Este ditado popular vem desde os meus avós e carrego isto como ensinamento principal e também como ensinamento. Uma prioridade na vida. Muitos ditados populares caem como uma luva. "Quem não cuida do que é seu o diabo vem e cuida". Isto se chama administração.
 
     Aqui contamos a história de seu Zica, um velho aposentado dono de alguns supermercados espalhados numa cidade do Nordeste. Seu Zica tinha vários filhos. Cada um tinha sua independência e não queria se envolver com os assuntos das empresas do pai. As empresas eram mal administradas e isto era visto a olhos nu.
 
     No começo, o negócio foi dando certo e seu Zica confiava veementemente em seus funcionários já que a família não o ajudava na administração. Em pouco tempo seu Zica viu todo o seu sonho indo de ralo a baixo e o lucro que ele esperava ter não via nem a cor do dinheiro investido. Havia algo errado com a administração dos seus negócios. Estar no vermelho era comum nos estabelecimentos e até então o velho honesto e sem maldade alguma aceitava tudo que seu homem de confiança passava e se confirmava que a crise não estava deixando ele crescer.
 
     ​Cada vez mais aquele estabelecimento ia aos poucos tombando. Seu Zica já estava diminuindo o número de funcionários, pois, mas não sabia mais de onde ia tirar dinheiro para cumprir com as obrigações das dívidas montanhosas de todo mês.
 
     Pela bondade e honestidade daquele homem batalhador, os santos do céu parece que resolveram dar uma ajudazinha para ele acordar pra vida. Chegou o dia do seu principal gerente entrar de férias e de imediato seu Zica recorreu aos seus filhos para ajudá-lo no período de afastamento do dito cujo o qual negaram a façanha e mais uma vez seu Zica ficou sozinho na empreitada. De imediato ele reuniu todos os funcionários para um almoço; mas a intenção era conhecer mais a fundo cada um deles.
 
     Dentre os convidados daquele proprietário humilde um deles chamou atenção. Pois, falava pouco e vestia uma roupa já desbotada com o tempo, enquanto os outros tentavam aparecer diante do patrão. Esse cidadão aparentava ser humilde e pela simplicidade do rapaz seu Zica deu a ele a oportunidade de mostrar o seu trabalho no afastamento do dito gerente de confiança.
 
     Muito trabalho começou com uma boa faxina. Administrou o banheiro dos clientes que sempre faltava um papel higiênico. Fazia questão de falar com todo mundo inclusive os seus colegas de trabalho. Tudo isso era o natural do homem humilde e aos olhos do seu Zica ele estava executando um trabalho excelente. Transparência era o foco dele. Em quinze dias de muito trabalho a loja já tinha tomado outra cara e o novo gerente substituto marcou uma reunião com o seu Zica e prestou conta de tudo que ele havia feito nestes quinze dias. E o número que era o que interessava para seu Zica.
 
     Seu Zica ficou estupefato com o resultado. Em apenas quinze dias de trabalho, aquele homem simples deu um resultado ainda não visto em seu estabelecimento. O dinheiro arrecadado levou o estabelecimento a sair do vermelho e no final do mês seu Zica já havia pago todas as suas dívidas e feliz por ver a sua empresa tomar outro rumo. Tudo isso por ele mesmo está na comissão de frente e conseguiu a pessoa certa para administrar seu dinheiro.
 
     Final do mês o balanço foi fechado. O cidadão humilde foi chamado na sala do seu Zica o qual o interrogou de imediato.
 
"Qual foi o segredo do sucesso? "
 
Retrucou de imediato numa resposta inteligente e clara.
 

     - Nada, Seu Zica. Eu apenas dei a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
 
     Aquelas palavras foram ditas no lugar certo e na hora certa. Soaram nos ouvidos do seu Zica como uma bomba e fê-lo entender que pra quem sabe ler um pingo é uma letra.
 
     Seu Zica deixou o gerente voltar de suas férias e o mandou embora, promovendo o seu simples funcionário como gerente principal. Hoje é o braço direito do seu Zica.
  
Flávio Cavalcante.
Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 03/12/2015
Código do texto: T5469096
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