Hóspede

Hoje amanheceu frio e nublado. Chovia lá fora, Chovia em Minh’alma. Tudo que eu queria era dizer à Alice, Que Ontem fazia frio... Mas os termômetros insistiam em marcar trinta graus. E morri oito vezes num só dia. Oito vezes que me lembro... A rua da frente estava vazia, o parque inóspito,o pátio cheio de loucos, o nosso filme fora de cartaz...

A geladeira vazia e a TV fora do ar. Algumas vezes cheguei a pensar que o mundo inteiro havia me esquecido. Ou talvez morrido. Mas sei que fui eu quem fugiu, quem se escondeu entre essas quatro paredes rígidas e embaçadas...

Só assim entendi o quanto ela era importante pra mim. Eu era seu lado podre, seu lado torto, sua ferida, a cicatriz feia que ela carregava. Ela era meu Farol, minha luz, meu anjo da guarda, o sorriso mais lindo que já vi, o beijo mais doce q já senti.

Sabe aquela música doce que apraz a alma, que toca o coração, que arde no peito? Assim era a sua voz...

Preso nesse cárcere vejo o quanto errei ao deixar ela sair pela porta, vejo como fui relapso ao permanecer aqui dentro, ao tentar suportar essa dor sozinho...

O telefone ainda está na minha mão... Ainda seu o número dela de côr... Mas já não sou o mesmo, já não sei se ela é a mesma. Não sei se ela atenderá. Entendo então que essa dor no peito, essa loucura em minha mente, as buzinas na rua, os gritos de Euforia que escuto porta a fora são castigos por não tentar lutar. E verdade seja dita, não tentei fazê-la ficar, talvez a achasse demais pra mim, ou me achasse pouco demais pra ela...

Ouço os gemidos pra além do corredor, eles se misturam com meu choro, se misturam com minha dor, de repente um som sobrepõe a todos os outros, é campainha que anuncia que as visitas chegaram, o salão principal fica cheio. Cheio de pessoas vazias, pessoas marcadas como eu, pessoas que não suportaram a dor e fugiram de si, e nunca mais encontraram o caminho de volta para a sanidade, eu, me refugio ali, do canto direito do recinto, sentado sobre uma velha cadeira de madeira esperando confiante de que quem sabe hoje, Alice se lembre de mim e venha me visitar.

Jhullie Silva
Enviado por Jhullie Silva em 21/11/2015
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