_______________________________ O PADRE
_ Está vendo, minha filha, apesar de tão frágil coluna, você vive com a cabeça cheia de quimeras.
Virou-se para o Padre. Permaneceu em silêncio e um semblante surpreso.
_ Assim que amanheceu, fui até a janela e pensei: ah, essa menina! Se soubesse sobre o Cristo, ah, se soubesse!
Limpou a losna que lhe escorreu pelo canto da boca, contemplava o Padre com os olhos fixados.
_ Me preocupo tanto contigo que não consigo mais descansar. Meu Senhor é testemunha de minha aflição. Que melhores cuidados lhe cairão bem? Quem compreenderá a minha abominável angústia, heim? Estou jantando, sofrido desses pensamentos.
Ela voltou o olhar para o crucifixo na parede, mas foi coisa muito breve.
_ Como nossa cabeça é fraca, minha filha, nem imagina! São muitas as doenças do espírito!
_ Estou vendo. - respondeu.
_ Vesti-me às pressas, preciso realmente falar contigo. Menina, você acaba comigo!
Ela sentou-se numa poltrona, precisava realmente prestigiar aquele homem por volta dos seus 70 anos.
_ Ainda não sinto frio, nem perdi a minha memória. Na ordem da minha lógica eu digo: menina, com total lucidez - levando o braço até a boca e limpando o restante da comida -, eu vi! Eu vi!
Foi então que ele resolveu, pela segunda vez, tentar alinhar o crucifixo na parede.
_ Mandei parar - ela disse.
_ Os meus olhos não estão tão fracos, o meu corpo sim, mas os meus olhos não! - fez-se surdo ao pedido.
E quando pela terceira vez foi desentortar o crucifixo, sentou-se à mesa num tombo de testar a firmeza da cadeira enquanto a sua cabeça rolou pelo chão.
_ O que tenho, afinal? - balbuciou a cabeça desenraizada do pescoço em espiral de palavras.
_ Inspirou-me repulsa. - ela respondeu.