Da Vinci renascido
Numa manhã, nesses rompantes da ciência ultra-avançada, veio à tona a ideia de ressuscitar Leonardo da Vinci, o grande polímata do renascimento. Encerraram o experimento antes da sirene do almoço, no grande laboratório. O homem, de barba branca, estava nu, em posição fetal. Levou alguns minutos para compreender quem ele era. “Quem é você”, perguntou um cientista. “Eu sou Leonardo da Vinci”, respondeu. E todos soltaram gritos de felicidade e aplaudiram o sucesso da missão.
Da Vinci andou pelo mundo. Foi ao Louvre visitar a Monalisa, sem entender o porquê das pessoas acharem bonito um quadro que ele sempre detestou. Viajou de avião na Lufthansa, Air France, American Air Lines. De trem. De helicóptero. Até arriscou pedaladas numa bicicleta. Estranhou a voz fantasmagórica do telefone. As imagens capturadas da televisão. Acessou a internet, tinha orkut, facebook, twitter com mais de 100 milhões de seguidores. Participou do Grande Fratello, mas foi eliminado na primeira semana, pois o público não estava interessado em assistir a um velho filosofando asneiras.
Os anos, que assim como no tempo de Da Vinci continuavam inexoráveis, se foram. E com eles todo o prestígio do artista italiano. Perdeu a fortuna em álcool, mulheres e travestis, apostando nos cassinos de Las Vegas e investindo em subprime. Decidiu retomar a carreira de pintor. Obteve empréstimo para custear o material de pintura, o aluguel de um grande salão em Roma e a publicidade em todos os cantos do mundo. Poucos apareceram na vernissage. Os críticos de arte foram impiedosos, uns chamaram o trabalho de grotesco, outros de infantil e outros de tenebroso. Mudou-se para Nova Iorque. Desenha rosto de turistas na Times Square.