O Conto do Ovo Quente na boca
Já fazia muito tempo, que dona Zulmira havia prometido colocar um ovo quente na boca de seus filhos Maria e José, mas nunca cumprira com o prometido, porque ora era o seu pai quem a impedia, ora a sua mãe. O fato que o tempo passou e tudo ficou na balança das várias surras ou dos castigos infringidos por ela, para não passar impune a traquinagem dos meninos.
Após a morte de sua mãe e do seu pai, Zulmira ganhou netos, que se não eram peraltas, também não eram lá muito comportados. Mas quando nasceu Raimundinho, esse superou a todos em traquinagem, como em amorosidade. E era tão intenso, em tudo que fazia, que ora conquistava, ora enraivecia em demasiado.
E naquela noite de chuva fina, quando a vovó Zulmira passando o fim de semana, na casa de Maria, que estava viajando a trabalho e o marido, que era médico estava de plantão naquele dia, contava sua história para os netos dormirem e chegou José para deixar mais a Alice e o Raimundinho, enquanto ia levar sua esposa ao hospital, com dores na costa.
Sem objeção àquela simpática velinha preocupada com o estado de saúde da nora, no mesmo instante concordou e fez os meninos entrarem para o quarto, onde estavam reunidos.
No seguimento da sua historinha, quando quase todos dormiam, Raimundinho saiu do quarto se ser percebido e foi acender o fogão. Nesse momento, por um descuido, ou melhor, desastrado, o garoto pôs fogo no guardanapo, que caiu pegando fogo no cesto de lixo, que pegou no plástico da máquina de lavar e espalhou fumaça em toda a direção. Fazendo a vovó pacata sair doida do quarto, em socorro, com os outros meninos, quase dormindo, saírem também alarmados com a situação.
Lá chegando vovó não teve dúvida e aplicou uma correção. Valeu-se de um galho de goiabeira e meteu o chicote no Raimundinho, que foi dormir com o couro ardido.
No outro dia quando o seu pai chegou para buscar Raimundinho e Alice a vovó estava na feira, mesmo assim Roberto o marido de Maria, que havia saído do plantão entregou os meninos.
Chegando em casa o Raimundinho fez aquela encenação e colocou a sua avó em maus lençóis. Fazendo José ir a casa de sua tia e soltar o verbo contra a vovó, que escutou tudo calada e nem teve tempo de se defender, pois o pai de Raimundinho se foi sem oportunizar a explicação.
Movido pela raiva, dona Zulmira pegou uma condução e foi até a casa da sua nora, que medicada ainda estava doente e sabia por alto da confusão. Portanto, conversou muito pouco e depois adormeceu.
Dona Zulmira fez o café e rodando pela casa percebeu mesmo sem perguntar, que os meninos estavam na escola. Dessa forma, ela foi para a cozinha esquentou um ovo e aguardou o seu netinho.
Quando o menino chegou, primeiro que sua irmã, Alice foi logo entrando fazendo algazarra e não notou, que a sua avó estava por lá. Ela que pacientemente esquentara o ovo e esperou uns segundo, atrás da porta, enquanto o menino se trocava.
Ao sair guitarrando uma musica em que ele gritava aquela senhora o agarrou. E ele sem saber o que dizer ficou estático, até que ela lhe apresentou o ovo quente dizendo:
- Agora você vai aprender a se comportar e a não inventar asneiras ao seu pai contra mim.
Em prantos e gritos de desespero o menino reagia pedindo perdão.
Um segundo e tudo silenciou. Quando o pai do menino chegou com a Alice viu sobre a mesa um ovo ainda que esfumaçando com a casca esmigalhada, a cozinha bagunçada, no canto do chão seu filho chorando todo mijado, quase pirou e num desespero correu pro quarto, encontrando a sua esposa angelicalmente dormindo e sua mãe na cabeceira colocando compressas na cabeça da moça, quando ele perguntou:
- Mãe o que a senhora fez com o Raimundinho? Matou a sua vontade, colocou ovo na boca do menino?
Por sua vez ela, pacientemente respondeu:
- Se eu tivesse feito isso a vocês, com certeza hoje estaria presa. Até que esse meu netinho merecia, mas preferi só assustar.
- Você vai ver, ele nunca vai esquecer e com certeza vai mudar. Fale com a sua mulher, eu conversei com ela e como você já chegou é hora de ir pra casa de Maria, pois o marido dela vai trabalhar.
- Mãe a senhora fez ou não? Insistiu José, em querer saber o que acontecera.
E ela sorrindo disse:
- Apesar de ele merecer, aprendi que não é com ira que se castiga e sim com sabedoria.
E foi-se pela estrada, deixando o seu filho pensativo, querendo acordar a sua esposa para saber o que de fato acontecera.
Bem depois, quando Carolina, a mãe de Raimundinho acordou explicou que a avó até pegou o ovo, mas só amedrontou, contou a história. Conversou com o garoto, que envergonhado se atou a chorar, pedindo desculpas a todos.