MORRENDO E APRENDENDO
MORRENDO E APRENDENDO
Dizem que no Inferno as pessoas ficam presas em caldeirões individuais, um estranho artefato que as mantém imersas da cintura para baixo em uma sopa de legumes, frutas e verduras, mas com um capacete que não permite que elas movam a cabeça e nem se abaixem para comer. Dizem também que os braços ficam tão longos que torna impossível alcançar com as mãos o alimento do próprio caldeirão.
João e Maria, um casal que em vida viviam em desavenças estavam lado a lado, separados na exata medida de seus novos e compridos braços.
Ao final de alguns dias, depois de tentarem inutilmente pegar o alimento em seu próprio caldeirão, ambos desistiram.
Com a fome apertando ainda mais, João resolveu pegar algumas frutas no caldeirão da ex-mulher. Quando Maria percebeu a intensão do ex-marido ela fez o mesmo. Mas depois de várias tentativas de arremessarem o alimento na própria boca os dois voltaram a desistir.
Durante um bom tempo os dois ficaram apenas olhando um para o outro.
A solução parecia óbvia.
Timidamente e receosa se haveria reciprocidade, Maria pegou uma das frutas no caldeirão do João e a segurou enquanto o outro comia.
Temeroso dela não repetir o ato, ele fez o mesmo.
Assim, retribuindo a gentileza, não se pode dizer que viveram felizes para sempre, mas conseguiram sobreviver até os braços voltarem ao comprimento normal.
Ambos entenderam terem passado por um purgatório, um dos tantos que a vida havia lhes imposto anteriormente e que não haviam conseguido assimilar.
"A gentileza é a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano.”