Vida caricata, capítulo V: Real/Surreal (Lapso)
Acordo. Vejo apenas uma mescla de roxo e preto, preenchendo todo o alcance da minha visão, em todas direções.
Sem rumo, sem noção do que estava acontecendo. Até ontem, eu tinha certeza, absoluta, que estava num hospital, com duas meninas que eu sempre quis pegar, e até esperava que fosse voltar pra escola rápido e que tudo ficaria melhor. Agora sobrou isso aqui, esse vácuo repentino e sem sentido.
Começo então a caminhar, com a esperança de encontrar uma saída daquele lugar. Ou melhor, daquele não-lugar.
Ao andar por algum tempo, encontrei um portão grande e vermelho, no maior estilo Super Smash Bros. Brawl no modo Subspace Emissary
Olho ao meu redor, e abrir esse portão é minha única alternativa.
Depois de alguns momentos de pura escuridão, me vejo numa calçada, que eu reconheço de algum lugar:
-Ué, aqui é a calçada da estação Vila Mariana, que diabos eu tô fazendo aqui?- Penso enquanto muitas pessoas passam por mim em direção à estação, todas com pressa ou conversando com amigos.
Então começo a andar inconscientemente em direção ao único caminho dali que me soa familiar. Quando me dou conta, estou na rua da ESPM e da Belas Artes.
Ao ir em direção à Belas Artes, lembro que esse ano, na verdade, eu já tinha terminado o colegial e estava cursando essa faculdade, no horário da tarde. O que aconteceu pra tudo se misturar assim?
Encontro um dos meus amigos da sala na entrada da faculdade, e cumprimento ele. Depois, começo a conversar sobre músicas até que de repente cruza uma menina. Não me é estranha.
-Oi F.O.P., tudo bem?
-Tudo, e com você Isa?
Lembrei quem é... Isabela. Uma menina da faculdade, da minha sala também. E que adivinha? Eu gosto. Sei lá se é por eu exagerar, só por eu achar ela bonita, ou pelas vezes que ela já me ajudou, por ela ser com quem eu comentei do meu último fim de relacionamento, por ela elogiar meus trabalhos... só sei que é tarde demais pra eu fingir que não me importo. E estar na frente dela me fez, como sempre, acalmar e aos poucos lembrar de mais coisas.
-Tudo bem sim, Fê.
E pronto. Meus problemas, minhas memórias pela metade... Não importavam. Eu estava aqui, sabia disso. Pra quê se sentir deslocado?
Se eu fizesse o que me agrada, eu estaria exatamente aqui várias e várias vezes.
Porque aqui eu conheci quem eu realmente posso ser. E quem eu atraio pra perto desse jeito, e quem eu afasto.
A ficha pode demorar pra cair, mas tudo fica bem depois. E isso que importa.
Então, caminho em direção à sala de aula. Assim como na verdade eu tinha feito por todos esses últimos dias, por cerca de 8 meses.
As memórias podem me empurrar pra onde for, mas sempre haverá algo mais forte aqui, na realidade que eu estou vivendo agora e que por mais confusa que seja, é sempre reconfortante e positiva.
Agora é hora de estudar e esquecer qualquer insegurança passada.
Com licença.