O Cidadão, a Velha e o Sistema
Sob o sol do equador atravessava a faixa de pedestre um senhor, quando foi abordado por uma velinha.
- senhor, por favor, me pague algo para comer!... Eu estou desesperada, sou do interior e vim receber o meu salário de aposentada e fui roubada.
Condoído pela aparência sofrida, maltrapilha e pela história contada o senhor se deixou levar pelo coração e perguntou já apaixonado pela causa.
- Meu Deus senhora, foi a polícia? Está tudo bem?
- Fui sim à polícia e registrei esse tal de BO. Mas no momento, eu só quero algo pra comer e ir daqui pra rodoviária, pois ainda tenho a minha passagem pra voltar pra casa.
Todo preocupado o senhor levou-a a lanchonete, que acabara de almoçar e pediu a garçonete algo para mitigar a fome daquela senhora. Em seguida foi ao caixa e pagou. Mas quando ia saindo e já se despedindo da velinha, ela o abordou mais uma vez dizendo:
- Meu filho, muito obrigado, mas se não fosse pedir muito você me dá uns trocados ou me leva ao terminal?
Meio que estonteado o senhor, balançou a cabeça concordando em levá-la. Assim assentou-se e ficou mexendo em seu celular.
Saindo de lá ele levou-a até o seu carro e convidou-a a entrar. Sem se fazer de rogado a velha entrou meio encarangada na parte de trás do veiculo e o rapaz então seguiu para o terminal.
Já nas proximidades do terminal a senhora tirou da bolsa uma arma e encostou na cabeça do seu benfeitor e mudando de voz disse:
- Por favor, pare agora!
Sem qualquer resistência ou voz, o senhor parou. Ela então prosseguiu:
- Me dê o seu celular, sua bolsa e a chave do carro.
E o senhor já meio tremulo atendeu pacificamente. E ela em voz áspera falou:
- Agora tire toda a sua roupa e jogue aqui para trás!
Ele questionou:
- Mas senhora a minha roupa!
- Cale-se e faça o que eu mando!
Obediente ele não titubeou, pois ela enfiou o revolver em sua cabeça como forma de pressão.
Então, o senhor só de cueca e meias, com as mãos pra cima ouviu daquela senhora:
- Senhor eu não estou brincando, tire toda a roupa e jogue pra cá.
Envergonhado o senhor ficou nu, mas fez a vontade daquela senhora, que em seguida finalizou:
- Seu doutor, agradeço a sua generosidade, mas agora tenho que partir e se você vier atrás de mim eu te finalizo. É melhor o nosso caso acabar por aqui. E como não sei dirigir vou deixar a chave na frente do carro, mas as roupas e o sapato ainda podem me servir, pois que a fome é sempre uma agonia e a justiça essa mesma, não é lá muito certa.
E literalmente num mato sem cachorro ficou aquele senhor, que após o desaparecer daquela senhora ele teve que se expor na rua nu, para pegar a sua chave e mais do que depressa sair dali.
Ao chegar à delegacia para registrar a situação o delegado estava fora e o escrivão, cheio de boa vontade e com muito boa educação, pediu que aquele cidadão voltasse outro dia, pois o sistema estava fora do ar e não tinha gasolina nas viaturas. Já no outro dia tomara o depoimento daquele cidadão, mas pelo que consta até hoje não encontraram mais a velinha e nem os seus pertences.
O que ainda se viu foi o Secretário de Segurança na televisão falando sobre a violência e os assaltos que estatisticamente havia reduzidos na cidade por conta das ações da polícia.