O ATAQUE DO OVNI ENFURECIDO

Havia chegado a pouco tempo do trabalho e estava na sala conversando com sua mãe em frente a televisão quando o amigo chamou no portão. Ele foi atender.

- Entra.

- Podemos conversar na varanda, não quero atrapalhar sua mãe.

- Você é de casa, mas podemos conversar aqui na varanda mesmo. Vou pegar duas cervejas.

Entrou em casa, falou com a mãe que iria ficar conversando, foi até a geladeira, pegou duas cervejas e voltou. Sentaram na mureta da varanda, eram amigos há tempos, nasceram na mesma rua, nas mesmas casas onde moram.

- Não consigo encontrar o livro da Pearl S. Buck que você falou.

- Se quiser te empresto o meu.

- Prefiro encontrar, você sabe que gosto de guardar os livros que leio e procurar é um exercício de paciência.

- E de determinação.

- Vou encontrar e depois de ler poderemos conversar melhor sobre o livro.

- Vim aqui porque amanhã é sábado e achei que seria legal irmos pescar.

- No rio ou na praia?

- No rio.

- Em que parte do rio você pensa em ficarmos?

- Antes da curva que fica próxima a ponte, ali o rio é mais calmo.

- Uma hora e pouco de ônibus, mais uns trinta minutos de caminhada. Vamos sair que horas?

- Às cinco da manhã, como da última vez.

- Combinado.

- Tomara que este ano seja melhor que o ano passado.

- Este ano é um novo começo, mas não vejo nada de novo.

- Ontem quando sai do trabalho fui assistir “Kramer VS Kramer”.

- E então?

- É muito bom. Muito bom mesmo.

- Semana que vem vão reapresentar “ O Exorcista”. Lembra quando assistimos.

- A sessão acabou onze e pouca da noite, chovia fino e não tinha quase ninguém na rua. Fomos caminhando para o ponto do ônibus e eu olhava para trás para ver se vinha alguma coisa nos seguindo. Sempre fiquei impressionado com essas coisas, talvez seja por causa da casa onde moro, às vezes vejo sombras na cozinha.

- Ou talvez seja porque você sempre ouviu essas histórias, que lhe contavam quando criança para você dormir, mas histórias são só histórias.

- Essas coisas existem, sei que existem. Já as vi.

- Se você acha.

- Numa noite de tempestade quando eu era criança, acordei com um rosto me observando pelo vidro da janela, chamei meu tio, que passava uns dias com agente, ele foi até a varanda, não havia ninguém, não havia uma viva alma. Nunca esqueci aquele rosto na janela, nunca.

- Não acredito nessas coisas, mas acredito em vida inteligente em algum lugar do espaço.

- Não tenho certeza disso.

- Quando assisti “Eles Estão Chegando” com James Earl Jones, pedi a Deus que se um dia eles

Vierem aqui, que seja para nos salvar.

- Você ainda pensa assim?

- Acho que sim.

- Quem sabe.

- Vou fazer a prova da Marinha.

- E sua mãe? Vai deixa-la sozinha?

- Ela ficará bem.

- De repente você não passa.

- Se eu não passar, no ano que vem vou para o leste.

- Vou repetir a pergunta: E sua mãe?

- Ela ficará bem.

- Acho que não. Filhos que vão às vezes nunca mais voltam.

- Nunca pensei nisso.

- Em que?

- Voltar.