SORTE E AZAR
Ela estava louca de desejo de chupar manga. Isso bem debaixo da mangueira. Havia muitas que estavam maduras, mas longe do alcance da mão. Não havia nenhuma vara para abatê-las. Tentava apanhá-las na base da pedrada mesmo. Mas sem nenhum êxito. Então desanimou e entregou ou pontos, jogou a toalha. Quando de repente uma manga por vontade própria despencou lá de cima, e caiu a todo gás. Era uma daquelas bem buteludas. O problema é que a maldita fruta caiu bem no cocuruto onde culminava sua cabeça. Foi um "Aiiiiiiii! de trio-elétrico. Então na sua cabeça cantou um galo e surgiu uma dúvida: "Quase morri, mas tenho uma manga: isso foi sorte ou azar?". Na dúvida, tomou um Dorflex e chupou a manga, lambuzando-se das pontas dos dedos até o cotovelo. O que limpou com a própria língua. Assim sanando o seu azar e saboreando sua sorte.
Se à vida atinge o destino, tudo vem junto, num pacote, e não existe consciência ou julgamento moral que discrimine sorte de azar. Melhor acreditar no acaso amoral.