TINENÊ
 
Sempre que chegávamos na fazenda de meus avós paternos a primeira pessoa que cumprimentávamos era o Tio "Franklin de Castro Ribeiro", assim ele se apresentava,  que para todos os sobrinhos era o Tio Nenê. Tal precedência era para nós uma mistura de gosto, costume e regra. "Primeiro cumprimentem o Nenê!". Lá estava ele à porta com seu corpanzil de quase dois metros de altura e aproximadamente 150 kg de peso. Sua cabeça aos doze anos desistiu de se desenvolver, e assim ficou, ficou até morrer. Mas sua memória era de elefante, proporcional à sua compleição corporal. Era o mais velho dos tios, com cinquenta, sessenta e setenta anos, lá dentro da sua caraminhola só doze tenros anos. Chegávamos e formávamos fila indiana para o quase protocolar cumprimento:
_ Bença Tinenê!
_ Dosbonçoi!
Então ele segurava a mão que cumprimentava. Com a outra fazia o clássico "cotia mia": ele flexionava os dedos indicador e médio e com eles tascava um beliscão com sua outra imensa mão. Lágrima brotava nos olhos, corpo prostrava em genuflexão. Soltava a mão do cumprimento e nos segurava com o beliscão feito com a mão esquerda. Então dizia:
_ Faz cutia mia, sinão eu num sorto!
_ Para Tinenê! Tá doeeeeeeeendo!
_ A cutia num miô! Num sorto inquanto a cutia num miá!
_ Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
A cotia miava e quase mijava. Então ele soltava o infeliz sobrinho. Então dava, usando os dedos flexionados, dois "coques" no cocuruto da cabeça. Então ia para outro sobrinho, fazê-lo miar. Ser criança é gostar desses "pequenos" sofrimentos com que se escreve a infância.