O homem vestido de preto
Um homem vestido de preto, na esquina, sob uma luz tênue de um poste encurvado, dedilhava a gravata num angulo de noventa graus. O chapéu de feltro inclinado sobre o rosto ocultava a parte que o denunciaria. Em outros dedos um cigarro já em meio caminho andado, metamórfoseado em um pincel místico concretizava o surrealismo dando-lhe formas expectrais materializadas na fumaça branca. E pequenos pirilampos numa intimidade com a luz do poste faziam compainha ao homem vestido de preto que de vez em quando abanava uma das mãos para espantá-los, e num gesto rápido olhava para quase todos os lados.
Uma viatura de polícia estacionou na outra guia e apagou-se toda, se ocultando no semi-breu.
O homem vestido de preto depois de algumas olhadelas laterais, caminhou em direção à viatura e lentamente introduziu a mão direita no bolso do paletó. Poderia até surgir uma cena de sangue, mas o que o homem vestido de preto retirou do bolso, era apenas um envelope alaranjado.
O policial recebeu o envelope e num gesto rápido o abriu e passou os dedos sobre as notas coloridas de uma forma que parecia estar contando-as, e em seguida guardou todo o conteúdo sob o colete.
O homem vestido de preto voltou lentamente ao lugar antigo, sob a luz tênue do poste encurvado. E com a mesma mão tangeu os pirilampos. Acendeu outro cigarro e se perdeu na densidade da fumaça branca, enquanto a viatura lentamente descia o declive em marcha morta.