Renascer

Nem PROSA nem POESIA –

E não lhe chamem “prosa poética”, que eu não gosto!!!

É apenas um texto informe, como um embrião antes de ser feto, como um corpo antes de ser húmus, como um balanço antes de ser voo –

Alguns textos são assim, um ensaio antes da estreia, uma criança a encher um balão antes de se convencer que não tem força bastante e vai ter que pedir ajuda ao adulto mais próximo –

Alguns textos são assim. Papa-açorda antes de ser assado, coisa nenhuma nos limbos do mistério... E um dia, se vida houver, serão luz!

*

Tenho sono. Meu corpo está cansado. Julgava-me a transcorrer o imenso túnel do deserto imenso... E de repente, o túnel terminou.

Saio à luz. Meus olhos de morcego choram de ofuscados. Tenho medo, fico à deriva de mim. Hesitante, vacilante, os olhos piscos – quem sou eu?

...

Não tenho bengala. As pontas dos dedos passam-me por qualquer coisa... Tento apoiar-me....

São picos! Agarrei-me a uma piteira –

...

Cobro ânimo. Abro os olhos à luz intensa que mos fere. Onde estou?

Começo a distinguir o meu novo caminho. No fundo mais fundo do limitado desfiladeiro, escoltada por rochedos acerados, enraivecidos, ancilosados, com suas farpas arrancadas às cabeleiras das erínias –

...Lá em cima, um mar de luz!

*

Respiro fundo, cobro ânimo.

Olhar para trás, para o túnel percorrido, refúgio que foi opaco, na noite escura? Para quê – Já lá não estou –

*

Eu sei que agora, só tenho este caminho. Cerca-me o silvo das serpentes, o farpear das faenas loucas dos rochedos –

...Mas há silêncio dentro de mim. Um silêncio feito dos cânticos da luz que se expande, lá em cima –

Presa ao chão, terei que prosseguir. Mas as feridas, de tão fundas e sangradas, já não doem, já não maçam.

...Presa ao chão. E no entanto, a fénix relança o voo! E sobe, sobe, e passa além das nuvens. Não há calor que lhe dissolva as asas, é preciso procurar a fonte desta luz!

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© Myriam Jubilot de Carvalho

Costa de Caparica, 13 de Novembro de 1989

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(Texto publicado no boletim da Associação de Professores, “APCA” – Profalmada, Nº 33, de Março de 2014)

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 07/10/2015
Reeditado em 09/10/2015
Código do texto: T5407539
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