"O MICO DE DANIELLE" Conto de: Flávio Cavalcante
O MICO DE DANIELLE
Conto de:
Flávio Cavalcante
A vida é de fato surpreendente. Quem nunca teve passagens na vida onde na hora que tudo aconteceu foi amargurada e o que resta hoje em dia é apenas boas lembranças transformadas em boas gargalhadas?
Não foi diferente com Danielle que era antiga funcionária de uma empresa e vivia rodeada de amigos. Final de semana era normal o encontro de todos num barzinho próximo ao trabalho para jogar conversas fora e tomar algumas cervejas geladas. A turma era animadinha demais e depois de alguns copos, determinados, perdiam a noção de espaço e tempo. As palavras libidinosas eram o prato principal como tira-gosto. Aliás, era um local de descontração e eles confundiam o bar com a própria casa.
Era uma turma unida e feliz. A época era de Carnaval. Danielle havia se separado do seu primeiro casamento e aquelas farras com os amigos do seu setor de trabalho era até um momento de descontração e alegria momentânea. Ela precisava ter seus amigos como uma verdadeira família. A diversão era o ponto chave para esquecer um pouco de seus problemas que naquele momento de sua vida era montanhoso.
Desce dois, desce mais. Uma porção de batatas fritas, desce mais dois copos de bebidas e foi descendo. Depois da quinta ou sexta dose, ouviram um barulho de música vindo de uma certa distância daquele bar onde todos estavam concentrados. Danielle já se animou com o som que ao se aproximar viu que se tratava de samba e sambar era o que ela sabia mais fazer, principalmente com duas doses de cachaça na cabeça. Ela agitou a todos para acompanhar o carro que entrou em cena tocando e cantando e todos que acompanhavam pareciam estar curtindo bastante aquele evento.
Não poderia ser diferente com a turma que já estava a ponto de chamar Jesus de Genésio por causa do efeito alcoólico na cuca. E caíram na farra como se estivessem entrando numa comemoração política ou algo parecido. A passeata era imensa e quanto mais elas dançavam, mas seus colegas engraçadinhos davam gargalhadas além do normal e distribuíam algumas latinhas de cerveja para completar a festa dos participantes que não foram em nenhum momento convidados. Danielle havia percebido que no meio daquela alegria esfuziante tinha algo errado. Os que acompanhavam a passeata apesar de ser ao som de muito samba e aparentemente alegria. Algumas pessoas presentes não estavam curtindo a festa e esse fato também chamou a atenção de Danielle.
A partir daquele veio uma dúvida sem fim e Danielle comentou com um dos seus amigos bebuns que aquele movimento não estava parecendo uma diversão; mas, os entusiasmados beberrões não deram ouvidos ao que Danielle alertava. E continuaram a farra na maior agitação. Danielle também percebeu que as vestes dos que acompanhavam aquela passeata já ia além da simplicidade. As roupas estavam sujas e na maioria rasgadas. Algumas mulheres com cabelos assanhados e esvoaçantes.
Finalmente pararam a uma praça onde tinha montado um palanque e a surpresa maior foi quando a máscara caiu. E todos ficaram envergonhados. Toda aquela farra era um protesto de mendigos por causa do assassinato de um deles por mãos de policiais. O samba que estava tocando era em homenagem ao morto que adorava samba e todos acompanhantes eram parentes e amigos. Danielle tratou de juntar toda a turma e desaparecer daquele lugar antes que arrumassem um problema maior. Esse episódio marcou a vida de todos ali presentes tirando com o mico uma grande lição de vida.
Flávio Cavalcante.