Zé Meu
Tinha esse curioso nome, e, quando perguntado não se inibia em proclamá-lo aos próximos, que eram também ralé e mané. Dos distantes, raramente se aproximava, a não ser quando como servente de pedreiro, alguma areia peneirava, ou tijolos carregava.
O nome teria decorrido duma afeição forte, dessas de pai ou de mãe, pra distingui-lo doutros zés que costumavam ser mais de cinco entre dez. Vi-o alguma outra vez na rua, pois em cidade pequena todo mundo parece rueiro, apesar de que eu mais do que com a rua, me comprazia era mesmo com o terreiro.
Nossa apresentação formal foi na casa vizinha à de meus pais, a casa de vovó, que vivia rodeada de filhos solteirões, tantas tias e um tio só. Se chegou a haver aperto de mão, foi breve e leve. Quem, a sacudi-la se atreve?
Zé Meu era mulato, um tanto mirrado, mas cordato, e bem educado. E não parecia que vinha com interesse de namoro, de choro ou decoro.
Era uma cortesia, naquele iniciozinho de noite, do início dos anos sessenta, que se perdeu no breu do tempo.
Pra emprego na fábrica o Zé Meu não parecia se enquadrar, o mundo da argamassa é que era seu lar. Nada de fiar ou tocar tear.
Tomou o café, comeu a fatia de bolo, que eram oportunamente mais bem-vindos aos olhos e à gula da meninada, e com a prosa mixa, ainda pitou mais um Mistura Fina, acendido na binga, pegou do chapéu, despediu-se, e, como não era de ninguém, Zé Meu ganhou a rua, em noite sem lua, sob o estrelado céu.
Enviado por Paulo Miranda em 05/10/2015
PS: inda há pouco, descubro no obituário atualizado da Funerária Renapax de Pitangui, que já tivemos também um Zé Nosso...este, certamente mais recente do que o biografado Zé Meu, mas que também já faleceu...foi esposo de Maria Raimunda Duarte Campos, recém-falecida, residente à vizinha rua Quito Nunes, antigo beco da Porfirinha, que liga o Largo da Cruz à Rua da Paciência, todas denominações de outrora...