A CULPA

 

 
_ A culpa foi sua?
_ Dizem que foi. Mas como, se nunca comi dessa fruta?
_ Não adianta, mesmo assim ela é sua! É a regra. Culpa a gente recebe até por DNA.
_ Então, se esse é o caso o que devo fazer?
_ Pedir desculpas!
_ Fazendo isso deixo ter culpa?
_ Não! É só protocolo. Para o mundo ficar mais suportável para vocês. Você continua perdido.
_ E se eu pedir perdão?
_ Isso é outra coisa. São coisas muito distintas. Em meu departamento trato só de culpas e das tentativas de desculpas. Não de perdão. Quem pede perdão, reconhece a culpa, mas não quer fingir que está sem culpa. É só um pedido de compreensão das fraquezas de sua condição humana. É uma doação, tipo: estou sujo, mas mesmo assim me entrego. Há quem veja nisso até alguma beleza. Mas culpa não deixa de existir.
_ Muitas vezes fui perdoado...
_ Por que você foi perdoado?
_ Porque pedi perdão.
_ Então pode ir embora, você veio ao lugar errado.
_ Por ter sido perdoado?
_ Não! Por ter pedido perdão. 
_ Porque não fui direto para o outro lugar?
_ Porque nesses assuntos não existem atalhos.