VINGANÇA X PERDÃO

REEDITADO

Era uma mulher linda, atraente e casada. O marido, alto e musculoso parecia saído de um filme, como Dolph Lundgren. Mesmo casada com esse homem bonito, de figura máscula, ela deixou-se levar pela lascívia, e tornou-se amante de outro.

Passaram-se meses sem ele tomar conhecimento do que acontecia. Mas um dia, um telefonema anônimo abriu-lhe os olhos em direção da esposa infiel.

Armou uma vingança que ela não esqueceria e que ninguém tomaria conhecimento, pois se ela contasse um dia a alguém, ninguém acreditaria.

Comprara não se sabe onde, um aparelho de eletro choques. Ao chegar em casa naquela mesma noite, prendeu sutilmente a mulher à uma cadeira, como se fosse fazer algum 'joguinho amoroso'...

Ela de certo acreditara nisso, pois gostava dessas fantasias que apimentavam a relação entre um casal.

Mas ao ver o marido se aproximar com o aparelho, indagou o que seria aquilo. Ele respondeu que era uma surpresa e colocou uma mordaça em sua boca e uma venda negra também nos olhos.

Ela achou que seria algo tremendamente agradável, aguçando seus sentidos que estavam presos naquele momento. Ledo engano...

Ele ligou o aparelho e ficou por um bom tempo lhe dando choques. A mulher desesperada, sem poder gritar por socorro, teve apenas uma ideia no resto de consciência que tinha das coisas: Fingir-se de morta.

Prendeu a respiração e parou de se debater num esforço sobre humano para não ser descoberto seu artifício de escape daquela situação.

Ele acreditando que ela tivesse tido um ataque cardíaco, desatou-a e deixou caída no chão, saiu por instantes dali, sem saber o que fazer. Sua mente não tinha pensado em morte da esposa, apenas em vingança, tortura...

Foi quando aproveitando-se da situação, a mulher conseguiu se livrar da mordaça e da venda dos olhos, saindo para detrás da casa, pulando o muro da casa vizinha e dali ganhando a rua. Reparou que estava sem seu celular, que havia ficado sobre a mesa da sala.

Foi até um telefone público e ligou a cobrar para sua melhor amiga, que veio em seu socorro, numa praça perto dali.

Dali em diante, ela não existiria mais. Pediu sigilo para sua amiga, e caso o marido viesse a procurá-la

( assim que notasse a falta do corpo, saberia que ela tinha escapado e não estava morta como pensara antes ) em sua casa, era para fingir espanto e dizer-lhe que não a via fazia tempos.

Sua amiga concordou com a farsa, mas estava preocupada, como seria a vida dela daquele dia em diante, não se conformava que ela não fosse a Delegacia de Mulheres para denunciá-lo.

Ela disse acalmando-a, que daria um jeito para arrumar novos documentos, emprego, uma nova identidade: Seria outra pessoa, era essa a solução. E que não denunciava-o porque queria agir por si. Pois assim seria o começo da sua vingança.

A amiga não achava certo nada disso, mas não adiantava lhe dizer, pois ela estava decidida. Apenas pediu que mantivesse contato. Deu-lhe algumas roupas e dinheiro para ir para um hotel ou pousada até que arrumasse onde ficar de vez.

Despediram-se com um forte abraço.

Dali em diante, viveria para vingar-se.

Não se sabia como, mas ela conseguiu tudo que queria: Uma nova identidade, onde pode escolher finalmente o nome que desejasse, um emprego que tinha possibilidade de crescer como executiva da empresa, e um novo estilo de vida que lhe fazia guardar muito dinheiro: Vendia-se sexualmente para os poderosos que conhecia nas reuniões.

Homens que apreciavam seus dotes e que lhe pagavam generosamente...

Assim, ela conseguiu comprar quase a totalidade das ações e ter o controle em suas mãos.

Estando com o poder e dinheiro em suas mãos, era tudo mais fácil!

Era a hora de começar finalmente sua vingança, contra aquele que um dia fora seu marido...

Sabia que ele a havia dado como desaparecida e como já faziam mais de 5 anos, agora era considerada morta. Ele vendeu a casa em que viveram e comprou um apartamento. Morava só.

Talvez assombrado pela lembrança dela, não quisesse mais nenhuma companhia feminina por perto...

Tudo ela sabia, pois pagava a um detetive, para manter-lhe atenta sobre seus passos.

Ela não tinha somente mudado de nome e de vida, principalmente de aparência...

Havia se transformado por inteiro:

A cabeleira loira de antes, dera lugar a um cabelo curto, assimétrico e pintado de castanho escuro.

Sempre andava de óculos escuros, fosse o tempo que fosse. Temia ser reconhecida por alguém que a conhecera no passado, uma vizinha, uma amizade...

Vestia-se formalmente, como deve ser uma executiva de empresa.

Nada lembrava a mulher de outrora, que usava vestidos estampados, decotes, costas nuas e sandálias baixas.

Ela comprou então, um apartamento no mesmo andar que ele. Quase porta com porta. Mandou instalar um olho mágico de amplo diâmetro, para poder observar cada entrada e saída dele, no corredor do prédio.

O estranho, que ao perceber que havia nova vizinha, ele quis conhecê-la. Coisa que não acontecia fazia tempos, ter interesse em alguém...

Desde que acontecera tudo aquilo, vivera recluso e amedrontado. Sempre achando que a qualquer momento alguém chegaria para prendê-lo, por denúncia dela, onde quer que estivesse... Com o tempo, convenceu-se que ela não retornaria nunca. Estava então livre para recomeçar, deu-a como morta para a sociedade, isso lhe bastava para seguir em frente.

Uma noite, se esbarraram no corredor do prédio. Ela se manteve calma, para não denunciar seu íntimo que estava a pleno vapor...

Era essa a chance dele, para puxar algum assunto e assim travar um contato com a nova vizinha, que diziam ser muito bonita, mas arredia e anti social.

_ Desculpe, sou meio atrapalhado. Meu nome é Caio. E o seu, minha nova vizinha?

_ Caio... Lembra queda não? Meu nome é Ariane.

Dizendo isso, apertou-lhe então a mão que estava estendida em sua direção.

_ Bonito nome. Mas gostaria de sair uma noite dessas comigo? Afinal, somos dois 'solteiros', podemos nos distrair juntos.

_ Acho que não. Sou muito anti social. Mas deve ter muita mulher querendo sua companhia...

_ Não. Fiquei recluso muito tempo. Perdi minha esposa, há quase 6 anos e de lá para cá, não tenho tido relacionamentos, demorei a pensar nisso. Mas agora, já está na hora.

_ Sorte para você então. Até qualquer dia.

Virou-se, deixando-o 'plantado' no corredor a dizer alguma coisa, que para ela parecia quase um murmúrio.

Sabendo que suas recusas a deixavam mais atraente ao seu olhos, ela sempre se esquivava de qualquer contato, passeio, etc... A obsessão por ela, tomou conta dele.

Mas a dela era maior: Vingança!

Passaram-se meses, até que ela achou que já o recusara bastante e que ele faria tudo que ela quisesse para poder tê-la em seus braços. Aceitou finalmente seu convite para jantar.

O homem fazia questão de mostrar seus dotes culinários para ela, afinal era uma mulher de negócios que só comia em restaurantes...

Foi uma noite alegre para ele. Pois ela mostrou-se mais cordial do que de costume. Talvez fosse o efeito do vinho, pensou...

Ele esperava terminar melhor ainda... Enlaçou-a pela cintura para dançar ao som da música que ela escolheu. E foi aí que ela começou seu plano:

_ Como sua esposa morreu Caio?

_ Na verdade não sei, ela desapareceu e depois de tanto tempo, dei como morta.

_ Mas ela saiu assim de sua vida, sem explicação nenhuma?

_ Era uma adúltera. Talvez tenha fugido com seu amante. Certo dia recebi um telefonema que me abriu os olhos. Mas deixa isso, vamos aproveitar essa noite maravilhosa. Conte de você, seus gostos, quero te agradar em tudo!

_ Não tenho muito o que dizer: Sou executiva, disso já sabe. Solteira, sem família. Tenho 32 anos e nenhum interesse em esportes, danceterias, festas... Gosto mesmo de artes, jazz, café, filmes e dormir ao final de um dia de trabalho.

_ Bem diferente mesmo da maioria.

_ Sua esposa era como?

_ Alegre, rodeada de amigas, gostava de vestir-se como se sempre fosse verão. Trabalhava como recepcionista numa clínica odontológica. Era loira de cabelos longos. Bonita e sensual. Nos davámos bem.

_ Mesmo assim ela te traiu... E você fez o que, quando soube? Mas antes de me contar, tome mais um pouco desse vinho que está delicioso!

_ Não queria falar mais disso. Basta saber que ela sofreu um pouco, assim como eu.

_ Sofreu? Você fez alguma coisa para ela sofrer e ir embora?

_ Na verdade, fiz. Mas não posso dizer. Desculpe, mas isso não te diz respeito.

Ela parou de dançar, olhou para ele e saiu batendo a porta.

Ele correu atrás dela, sem entender bem sua reação. Alcançou-a.

Disse então segurando-a pelo ombro:

_ Que foi que fiz de errado? Estava tudo correndo tão bem entre nós, esta noite...

_ Se não tem confiança para partilhar seus segredos comigo, como posso ficar? Só quer me conquistar para ser como um troféu, que tinha sido desejado há tempos.

Fingia-se magoada para forçar suas respostas.

_ Mas, é que te conheço apenas há alguns meses. Não poderia partilhar algumas coisas desagradáveis com você. São muito comprometedoras, entende?

_ O quanto é importante minha presença na sua vida?

_ Muito. Quero tê-la ao meu lado. Já te provei isso, vivo te cobrindo de mimos, agrados e sempre me rejeita...

_ Mas, o principal não faz: Confiar!

_ Está bem, vou te contar tudo. Me garanta que não vai me julgar mal. Tudo que fiz foi pelo meu ciúme e despeito. Mas me arrependo. Vamos voltar para meu apartamento que te digo.

Ele relatou tudo. Ela gravou em seu celular sem que ele desconfiasse.

Ela tinha tudo para incriminá-lo agora: A confissão do cárcere privado, a tortura...

Entretanto, tinha a certeza que nada mais faria contra ele.

Ao fim do relato, ele chorava sentido, arrependido... Lágrimas de verdadeira tristeza e tormento.

Ela também deixou cair suas lágrimas, percebia então que ele fora apaixonado por ela a vida inteira: Pois nem ter tido outra mulher durante esses anos todos!

Outra coisa lhe ocorreu: Mostrava-se agora apaixonado novamente, por ela, mesmo sem saber.

Tinha que o perdoar!

Ela era a verdadeira culpada de tudo... Se não o tivesse traído, nunca ele teria feito aquilo.

Deitou a cabeça dele em seu colo e ficaram assim...

A vida nos dá a chance de recomeçar de onde se parou.

Fátima Abreu Fatuquinha

Fátima Abreu Fatuquinha
Enviado por Fátima Abreu Fatuquinha em 28/09/2015
Código do texto: T5397482
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