O Dia da Ordem
Senhor Vavá foi à cidade pedir informações ao seu amigo conselheiro Fiscal do Município de Ypê, pois queria regularizar as suas terras. E logo que chegou, encontrou na recepção da sala, um prefeito muito nervoso e preocupado, tomando café e falando sozinho.
Prestando a atenção nos movimentos desesperados daquele senhor, que entrava naquele momento para falar com o seu amigo conselheiro, viajou na curiosidade de saber o que se passara. Mas o tempo foi passando e devagar se chegou há quatro horas depois, quando aquele prefeito saiu da sala rindo a toa.
Vavá ao lado da secretária observando toda a situação, foi convidado a entrar para falar com o Conselheiro, seu amigo e curioso foi logo perguntando:
- Puxa, aquele cidadão estava aqui na frente nervoso e agoniado porque iria prestar contas com você. Agora ele sai daqui sorrindo e feliz. Não entendi. Sei que não tenho nada com isso, mas o que foi que você fez?
O Conselheiro sem se fazer de rogado respondeu:
- Ah meu amigo!...Aquele prefeito desviou muito dinheiro da sua prefeitura e antes de irmos fazer o levantamento. Ele queria saber como arrumar as contas, visto que estava saindo do governo.
Vavá impaciente perguntou de novo:
- Mas o que você disse a ele?
- Antes ele teve que molhar o pé da planta e depois sim, dei uns conselhos. Afinal esse é o meu maior atributo. E riu desavergonhadamente. Insistente o amigo fez cara de bobo e perguntou:
- Mas o que você deu como sugestão?
Entusiasmado pelo feito e pelo interesse do amigo, o Conselheiro disse garbosamente:
- Bom!... Apenas disse para ele aproveitar o fim do mandato e cavar buracos na cidade, colocar placas dizendo esgotos em obras. E depois era só fechar, que ninguém iria conferir o que estava em baixo da terra.
De uma risada impensada e conivente da situação Vavá falou:
- É senhor Conselheiro. Quem diria, ensinando a roubar.
De imediato o Conselheiro o redimiu:
-Auto lá! Disse o conselheiro.
- Se você disse ensinado a roubar, você está equivocado meu amigo. Não ensinei ninguém a roubar. Afinal roubar não justifica o erro. O que fiz foi dá um conselho, pois sou ou não sou o Conselheiro.
E sem que a conversa tivesse um final adequado às dúvidas, pois na hora entrara a secretária com café e uma pinga. Logo o Conselheiro resolveu mudar o rumo da prosa, que desviou a atenção do senhor Vavá. E disse:
- Mas qual é o seu problema?
Vavá preocupado também com o seu problema, expôs a situação e pausadamente esclareceu as suas dúvidas. E saindo da sala agradecido, já passará despercebida a situação do prefeito, cujo teor tomou um rumo de gracejo.
O Caso realmente fora esquecido por Vavá, porém, dirigindo-se a uma parada de ônibus começou a ouvir as reclamações de outras pessoas pela demora do transporte, pela situação de abandono da parada. E sem querer, após descer do ônibus, já no caminho pra sua casa o senhor Vavá viu uma placa dizendo esgoto em obras, valor de hum milhão e o prazo era de duzentos e vinte dias, que começara há muitos meses atrás. Ele então parou e entrou num bar e ficou matutando, pensando que o conselho do Conselheiro quantas vezes não só em sua cidade, mas na de muitas pessoas acontecia com frequência e sozinho, se saiu com essas palavras:
- Puxa, na verdade eu estava rindo de mim. Enquanto o Conselheiro se da bem e os prefeitos saem limpos das implicações com a lei, e quem paga o pato somos todos nós.
- Meus filhos não tem uma escola de qualidade, não tem saúde de verdade e vivemos presos em nossas casas. Não podemos nem por o pé na rua, com algo de nosso suor, que somos logo abordados. E pagamos tanto imposto, como na época da colonização. Preciso pensar mais em mim, na verdade precisamos pensar mais em nós. E do bar com a coragem estabelecida, resolveu ir ao Ministério Público de sua cidade fazer uma denúncia anônima, do que presenciou. Qual culminou com uma descoberta de um esquema de corrupção não só naquele município. Onde em muitos casos, só não estava envolvido o pobre cidadão, mas o prefeito, a primeira Dama, Filhos, seus assessores, o juiz de direito, o Conselheiro e tanto outros que faziam parte da quadrilha.
Enquanto isso, preocupado mais não muito, pois ainda contava os seus milhões, na cadeia o Conselheiro pensava:
- Puxa como descobriram todo aquele esquema?-
- Vou pagar muita gente, mas vou me livrar. Afinal todos têm um bom preço e com o que tenho de dinheiro, que a justiça não alcança dá pra me safar.
Assim a justiça dos homens faz dos homens o que são. Mas as flores e os pássaros em sua obediência e sapiência natural cantavam, enquanto a chuva caia sobre o chão limpando toda a sujeira na terra.